segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 13





TREINAMENTO NA BASE AÉREA DE SUFFOLK EM LONG ISLAND – MOVA IORQUE

Long Island é uma ilha comprida ou alongada, no Norte de Nova Iorque, onde está localizada de Suffolk, entre duas pequenas cidades de veraneio, Riverhesd e Wasthamoton.
Ali ficou estacionada estacionado o 1º Grupo de Caça, para um novo ciclo de instrução. Embora fosse uma base localizada a poucos minutos de Nova Iorque, tinha caratê de construção provisória, não se distinguindo das muitas que o exército americano construiu durante a guerra em vários pontos do mundo. Os alojamentos eram de madeira, corredor no centro, camas arrumadas lado a lado, tipo beliche. Nos fundos uma abundância de chuveiros coletivos, lavatórios e aparelhos sanitários sem divisões e portas.
Era uma base de treinamento do Exército Norte-Americano e destinava-se a receber novas turmas de pilotos para se exercitarem no moderníssimo Thunferbolt. Nessa fase de treinamento de adaptação ao P-47, nossos pilotos tiveram de repetir tudo que haviam aprendido em Água Dulce, no Panamá. Ali, receberam diploma de piloto de guerra, agora seria a vez de conhecerem muito bem o avião com o qual iriam lutar na Europa, e como tais praticaram vôo de grupo, bombardeio picado, tiro aéreos. Paralelamente à instrução dos pilotos corria a dos sargentos especialistas, sendo enviada uma turma para fazer curso na fábrica Republic Aviation, onde o avião estava sendo produzido. O restante dos sargentos especialistas em aviões, armamentos e comunicações trabalhavam na pista esforçando-se para aprender tudo a respeito do novo avião, tendo como instrutores técnicos americanos.
As pistas de pousos e decolagens eram excelentes, como também o pátio de estacionamento dos aviões, todo cimentado, muita ordem e limpeza.
Suffolk cumpriu sua finalidade, durante dois meses que pilotos e mecânicos e todo o pessoal do grupo aprenderam a lidar com o novo equipamento.
Acresce que os aviadores eram pilotos por vacação, de conhecimentos altamente especializados e que todos do Grupo de Caça tinham-se apresentado voluntariamente para ir combater na Europa, o que garantia um condicionamento de ordem moral e psicológica para uma finalidade: atuar numa frente de combate.
Voluntário foi também o pessoal de terra, oficiais médicos, e entre estes, o 2º Tenente Dr. Luthero Vagas, filho do Presidente da República, nossas bravas enfermeiras, oficiais intendentes, especialistas, a maioria dos suboficiais, sargentos e alguns cabos e soldados, o restante foi voluntário compulsório.
O Pessoal de terra das diferentes especialidades representava elemento de alta qualidade em competência e eficiência. Quase todos falavam muito bem inglês, o restante entendia e fazia-se entender.
Aviadores e pessoal de terra eram essencialmente uma unidade de combate. Terminado o estágio de combate de instrução em avião P-47, o Grupo de Caça estava em igualdade de condições em matéria de treinamento, como qualquer outra unidade de aviação norte-americana.

O Grupo já era conhecido, Dias após nossa chegada, uma carta aberta datada de 13 de julho de 1944 e assinada pelo General- Brigadeiro, JR Hawkins fora entregue a cada um dos seus componentes. Dizia a referida carta. "Os senhores vêm aqui com uma esplêndida tradição. O Coronel Taylor, seu comandante no Panamá, nos escreveu a respeito dos seus feitos durante o tempo de treino. Durante as próximas semanas nós lhes daremos a maior quantidade de treino. Não temos muito tempo. Muito tem que ser feito. Meu pessoal aqui em Suffolk está à sua disposição, Aproveite a oportunidade para aprender tudo que for possível. Não hesitem em lhes perguntrar qualquer coisa. Daqui a pouco estarão em campos de batalha onde tomarão seu lugar como parte da Armada Aliada que liquidará brevemente o Eixo.
O P-47 nos encantou a todos, pilotos e mecânicos. Era um verdadeiro tanque, impressionava pela sua robustez, uma graça e tanto.
Ele também tem sua história. Quando a Força Aérea Norte-Americana chegou à conclusão de que sua aviação de caça se encontrava em inferioridade técnica a de seus adversários, Japão e Alemanha e com o fim de reequipar os seus esquadrões, fora convocadas as firmas construtoras, formulando-se exigências técnicas que deveriam comportar futuros modelos.
Alexandre Kartevili, engenheiro chefe da Repúblic Avition Co. , encarregou-se de desenhar um caça monoplano que seria o monoplano maior e mais pesado da Segunda Guerra Mundial. O primeiro protótipo realizou o seu vôo de prova, assombrando os pilotos e peritos pela sua excelente manobrabilidade, não obstante o seu peso total de quase seis toneladas. Estava armado com oito metralhadoras pontos 50 disposto no bordo da junção das asas. Foi preciso dotá-lo de uma hélice de quatro pás, para aproveitar ao máximo a potência do motor de 2.000 HP, capaz de alcançar uma velocidade máxima de 650 quilômetros por hora.


Sucessivas modificações introduzidas na velocidade e a adaptação de depósito adicional de combustível fizeram do Thunderbolt, ou P-47, um caça ideal para missões de escolta e bombardeiro ligeiro. Seu enorme raio de ação permitia que ele acompanhasse os bombardeiros até o coração da Alemanha, por desenvolver otimamente em grande altitude, podia livrar-se facilmente das caças inimigos, quando a situação lhe era desfavorável.








Esse era o avião com o qual nossos pilotos iriam lutar na Europa.


A composição das Esquadrilhas era a mesma de Água Dulce, no Panamá, com seus quatro comandantes: os Capitães Lafayette, Fortunato, Joel e Lagares, em suas esquadrilhas consecutivamente, vermelha, azul, amarela e verde.

O Oficial de Operação, espécie de Subcomandante, responsável pela parte de vôo, era o Major Pamplona, encarregado do pessoal, Major Gibson, Oficial de Informações, Tenente Miranda Correia, Chefe da Manutenção, Aspirante Jayme Flores, Tesoureiro, Major Beraldo, Chefe do Centro Médico, Capitão Clóvis de Morais, Encarregado dos Suprimentos, Aspirante Bocchtti. Assim se constituía, nessa época, o Grupo comandado pelo já então Tenente Coronel Nero Moura, e assim atravessou o estágio em Suffolk sem nenhum acidente.

Nossa permanência em Suffolk foi agradável para todos. Quanto a mim, aproveitei o máximo. Aquela carta do Brigadeiro-General, não me deixou dúvida. Aproveite a oportunidade para aprender tudo que for possível. Daqui a pouco estarão no campo de batalha onde... tomei aquelas recomendações em duplo sentido, sem me descuidar das minhas responsabilidades quanto ao meu treinamento, especializando-me no novo avião, conhecendo todas as suas partes técnicas, tratei também do meu lazer ao meu modo, era solteiro, jovem, não era arrimo de família, portanto não tinha muitas preocupações, a não ser saudade do meu pai, minha mãe, meus irmãos e da Pátria.

Logo que chegamos em Suffolk, a comunidade local fez questão de conhecer os brasileiros, nos homenageando com um baile, as moças queriam travar conhecimento conosco. Fomos entrevistados por um grupo de senhoras, perguntando pelo tipo de moças que nós gostaríamos, morena, alva, ruiva, alta ou baixa, gorda ou magra, etc. Levei a coisa na brincadeira e solicitei uma loira e alta. No dia do baile aquelas senhoras apresentaram a cada brasileiro seu par, de acordo com sua preferência.

Percebi que não era brincadeira, quando fui apresentado a Helena.


Moça muito simpática, alegre e comunicativa, loira, esguia e dançava muito bem, apenas um pouco alta, e então lamentei não ter levado a sério aquela entrevista. A comissão também não disse qual a finalidade daquele levantamento, talvez para nos fazer uma surpresa. O baile este animado e todos se divertiram e dançaram bastante.

Tive oportunidade de conhecer a grande metrópole americana, a cidade de Nova Iorque e suas partes principais, como o Times Square, e uma miniatura da Estátua da Liberdade. A Broadway, cheia de estranhas seduções, com todos os seus atrativos, profusão de luzes, seus letreiros luminosos, teatros, cinemas e suas famosas casas noturnas. Havia um fluxo constante de pessoas e carros que enchiam aquelas ruas a qualquer hora do dia ou da noite. Fui várias vezes a Nova Iorque e tive vários deites, aproveitando um pouco daqueles dias felizes que nos restavam antes de embarcar para a Europa. Já me sentia meio integrado com a filosofia e modo de vida do povo americano. A Broadway, à noite, era um verdadeiro pandemônio. Oficiais e praças de todas as armas dos Estados Unidos, militares de quase todos os países aliados, era uma farra generalizada, todos aproveitavam ao máximo. O número de mulheres era muito grande, sim porque quase todos os homens estavam nos campos de batalha.

Certa vez, caminhava com outro companheiro, pela 5ª Avenida, quando fomos abordados por um grupo de garotas que queriam posar ao osso lado para tirarem fotografias. Elas ficaram admiradas quando distinguiu nas mangas das nossas túnicas o nome Brasil.

Ainda, como parte do treinamento nos fins de agosto, todo Grupo se deslocou para um acampamento nas imediações da pequena cidade de Mastic, onde passamos dois dias no meio do mato, experimentando as piores condições que a guerra poderia apresentar. Após este treinamento o Grupo teve dois dias de dispensa para que todos fizessem suas despedidas e logo em seguida sair do quartel ficou impedido para nós.

Como parte dos preparativos de embarque, um ramo de serviço nos foi prestados, o conforto espiritual e religioso era oferecido pelos capelães americanos aos soldados que estavam de partida com destino incerto. Apareceu no nosso alojamento um capelão falando em bom e claro espanhol e nos convidou a fazer a confissão e comunhão. Na sua preparação religiosa, foi muito claro. Disse-nos: Meus filhos, nesta confissão, vão entregar a alma a Deus. Vocês vão para uma zona muito perigosa e alguns não voltarão.

No dia 10 de setembro de 1944, deixamos Suffolk e às 18h estávamos a bordo do trem noturno que nos levaria para Norfork, em Virgínia.

Havia terminado os dias divertidos de permanência entre o alegre povo americano, cujo espírito jocoso e comunicativo nos deixara perfeitamente à vontade, quase esquecendo a categoria de estrangeiros. À uma hora da madrugada do dia seguinte entramos naquele Estado e às 8h na cidade de Richmond, sua capital. Às 10h penetramos num campo de embarque em Patrick Henry, próximo a Newsport, em Virgínia, ali permanecemos uma semana, isolados do resto do mundo exterior, sem recebermos nem enviarmos correspondências, para cobrirem com o devido sigilo Aa data de partida para a Europa. A viagem de trem de Suffolk até aqui, foi percorrida em 16h.



























































































































































































































































































































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