segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 09


MINHA APRESENTAÇÃO COMO VOLUMTÁRIO

Retorno de Natal onde me encontrava a serviço do comando da 2ª Zona Aérea para efeito de estágio na base americana de Parnamirim. Volto à minha unidade de origem aqui na Base Aérea de recife, no campo do Ibura: apresento-me no 10º Corpo da base Aérea, unidade volante para a qual fui classificado de acordo com o boletim nº 106, da Diretoria do Pessoal da Aeronáutica. Esse Esquadrão de Caça era equipado com aviões P-36 e P- 40. Estavam ainda sob a guarda dos americanos como nossos instrutores. Era uma unidade móvel: daí a possibilidade de deslocamento para qualquer parte do País, conforme a necessidade. Havia outras unidades brasileiras. A Esquadrilha de Adestramento equipada com aviões North American AT – 6, Beechcraft bimotor, Fairehild PT – 19 e um Esquadrão de Bombardeio Médio equipado com aviões Lockheed Hudson A-28, ao lado do antigo B-18, este completamente obsoleto: era um velho bimotor, bojudo, com pouca envergadura, deriva simples, uma bequilha muito pequena para o seu peso e tamanho: quando taxiava, a cauda quase que arrastava no solo.

O estacionamento dos aviões ficava do outro lado da pista Norte, onde hoje está localizado o Parque de Material Aeronáutico do Recife. Ocupávamos um antigo hangar da companhia de aviação civil Air France. Os aviões P-36 e P-40 foram adquiridos pelo governo brasileiro com base no acordo Land and lease, e os americanos trabalhavam conosco. Do pessoal americano, lembro-me do capitão da USAF, Nicholas Thadius Nonnenmacker, Sargento Bear, chefe de manutenção, Sargento Geoger, John, cabo Mc Gee e outros cujos nomes não posso rememorar.

O efetivo brasileiro do Esquadrão de Caça era composto de oficiais- aviadores, suboficiais, sargentos especialistas em aviões, armamentos e comunicações; cabos e soldados. Chefiava o hangar o suboficial Sobrinho. Voavam nos P-36 e P-40, o capital Newton Lagares, tenente Assis, Coqueiro, Espíndola, Duque Estrada, Alvarez, Ivo Gastaldoni, Tavares, Flávio e outros.

Havia muito trabalho, muita vibração. Os aviões com os quais passamos a auxiliar o patrulhamento do litoral e dar cobertura aos comboios decolavam a qualquer hora do dia ou da noite.

O momento internacional era agitado e confuso. A impressa com suas espalhafatosas davam conta de acontecimento nas diferentes frentes de combate na Europa e no Pacífico. Aqui no Recife, ficava a sede da 2ª Zona Aérea e foi também eleita pata Estação Principal da Força Naval do Nordeste e da 4ª Esquadra dos Estados Unidos da America. Era um tempo em que todo o Nordeste se agitou. No Recife havia grande número de militares brasileiros, em trânsito pelas ruas da cidade, representando as três armas.

Asoldadesca e marujada americana estavam em toda a parte, sempre com suas brincadeiras espontâneas e naturais, quase infantis, embasbacando a população civil local, pela grande quantidade de militares estrangeiros. Encontravam-se nos bares, nas praças, nas ruas, no comércio, em todos os lugares, oferecendo muita alegria e entusiasmo. O assunto dominante era a guerra. Não se discutia outra coisa. Nas ruas os grupos se reuniam para trocar pontos de vista. Os americanos cedo penetraram na sociedade local, e passaram a freqüentar os clubes sociais. Tinham também seus clubes fechados para diversão do seu pessoal; o USO ( Unidet States Organization ), privativo de tropa americana, sendo vedada a entrada de civis, exceto a senhoritas, daí as ciumadas da nossa rapaziada, naturalmente. Era permitida a entrada de militares brasileiros, fardados e a convite.

O clube Português era o preferido dos americanos para seus animadíssimos bailes todos os domingos. Ficava repleto de militares americanos e brasileiros, sendo pouquíssimos os civis. Havia uma certa proibição nos clubes, à entrada de graduados. Mas, como os soldados e marinheiros tinham entrada franca, nossos oficiais faziam vista grossa quanto a nossa entrada, contrariando um rígido regulamento militar em vigor, observando-se apenas o comportamento pessoal, o modo respeitoso, estivesse bem fardado e não se embriagasse etc. Assim desfrutava-se daqueles bons momentos, dançava-se bastante ao som de excelente orquestra, que executava músicas selecionadas. Era a década do blue e do suingue.

O tempo passava numa expectativa sombria para o mundo, face à Segunda Guerra Mundial, que se desenrolava na Europa e no Pacífico, ceifando milhares de vidas preciosas. Corriam os primeiros dias do ano de 1944. Lembro-me como se fora hoje. Num cair da tarde, estava no hangar do Esquadrão entregue aos meus afazeres, quando avisto o Capitão Newton Lagares, vindo em minha direção. Chegando, chama o mais antigo, no momento, o suboficial Sobrinho, determina sejam colocados os sargentos em forma. O suboficial Sobrinho grita alto: Atenção! Sargentos em forma, à minha retaguarda, coluna por três. Cobrir, firme e direta volver. Apresentar ao Capitão. Este ordena que mande descansar. Feito isto, olha atentamente para a tropa formada à sua frente. Com voz calma e pausada, fala: Senhores, eu venho em nome do Ministro da Aeronáutica e por determinação do Brigadeiro Eduardo Gomes, convidar os sargentos que querem apresentar-se como voluntários e seguir em missão especial.

Houve grande silêncio. Senti que havia chegado a hora que tanto esperava. Sabia que esta missão especial era a mobilização para a Força Expedicionária. O Capital Lagares esperou um pouco e olhando firmemente para todos, ordena: Os voluntários queiram dar um passo a frente. Atendi, sendo seguido da grande maioria. Mandou que o suboficial Sobrinho relacionasse os voluntários e em seguida retirou-se caminhando na direção do Q.G., levando os nossos nomes.

Vibrei de alegria. Nunca esquecerei daquele dia.

Era simples sargento, mas jovem e por amor à liberdade do mundo, apreseitei-me como voluntário rumo ao desconhecido, com outros companheiros, integrando o 1º Grupo de Aviação de Caça; fato que me encheu de orgulho, pois, quando me dicidir a aprtir, daquele dia em diante deixei que minha vida começasse a correr os riscos pela Pátria.

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