sábado, 6 de fevereiro de 2010

A MARINHA ALEMÃ - Parte 02

NASCIMENTO DA MARINHA ALEMÃ

Após o afundamentos em Scapa Flow e da partilha das belonaves mais leves entre aliados vitoriosos, o que restava da marinha criada por Tirpitz eram os elementos de uma força de defesa costeira inteiramente antiquada: 08 couraçados antigos, nenhum cruzador de batalha nem cruzador pesados, 08 velhos cruzadores leves e 32 destróieres e torpedeiros. Em suma, a Alemanha ficara reduzida, em termos de poderio naval, ao que era típico do período anterior aos Dreadnoughts.

Era pensamento aliados reduzir ainda mais esses efetivos. Segundo os termos do Tratado de Versalhes, a Marinha Alemã ficaria com 06 velhos couraçados, 06 cruzadores leves e 12 destróieres. Os couraçados e cruzadores seriam substituídos ao completarem vinte anos de serviços, sob condições rígidas e controladas. Os couraçados que fosse substituído não poderiam passar de 10 mil toneladas e não poderiam ter canhões de calibre superior a 11 Polegadas, isto os tornaria virtualmente cruzadores pesados. Quanto aos cruzadores de substituição, não poderiam ter mais de 6.000 toneladas, com armamento principal de 6 polegadas. As outras especificação de substituição fixavam limites de 800 toneladas para os destróieres e 200 toneladas para os torpedeiros, nenhum porta-aviões e subretudo nenhum submarino.

O Almirante da nova marinha, Paul Behncke, enfrentava as mais severas limitações à sua tarefa de remodelar a armada. Outra restrição veio de imediato, a falta de dinheiro. Os aliados, decididos a fazer a Alemanha pagar a Grande Guerra, impuseram-lhe obrigações, à guisa de reparações de guerra, que jamais foram cumpridas pelo estado germânico e que em nada contribuíram para o clima de paz de que a Europa tanto precisava. Na década de 1920, a Alemanha era uma potência em franca bancarrota. A miséria social, o cinismo, a corrupção e todas as demais característica corrosivas da República de Weimar funcionaram como excelente caldo de cultura em que se cevaram e desenvolveram os desordeiros da máquina política nazista.

Portanto muito limitado, o Almirante Behncke, planejou modestamente o primeiro estágio do renascimento da marinha Alemã. Seu primeiro ato foi dar à sua limitada frota tarefas que ela poderia realmente cumprir na defesa da pátria. Daí a criação de duas esquadras, a do Mar do Norte e a do Báltico, cujo objetivo estratégico básico era impedir que as marinhas francesas e polonesas viessem a unir-se, estabelecendo o controle dos acessos ao Báltico.

Quanto a novos navios, o almirante não podia pensar em coisas muito portentosas, por esta acorrentada às limitações do Tratado de Versalhes e posto nos eixos pelas circunstâncias da República de Weimar, mas em 1921 bateu-se a quilha do primeiro cruzador leve, o Emden, ele estava dentro das regras e deslocava 5.600 tol. E tinha 8 canhões de 5.9 pol. Finalmente lançado ao mar em janeiro de 1925, ele entrou em serviço no ano seguinte e fez vários cruzeiros ao exterior. Em 1924 começou a construção de nova flotilha de torpedeiros da classe Mowe.

Com esses navios tiveram início as primeiras fugas às limitações imposta pelo tratado, com três canhões de 4.1 pol., seis tubos de lança-torpedos e deslocamento de 924 Toneladas. O Emden, o Mowe e o Wolf receberam os nomes dos bem sucedidos corsários da Marinha Imperial, prova de que as realizações da 1ª Marinha Alemã criaram tradição.

Behncke foi substituído pelo Almirante Hans Zenker, adquiriu mais 02 cruzadores leves. Também neste período apareceu um livro notável " A estratégia da Guerra Mundial", escrito pelo Vice-Almirante Wolfgang Wegener. A tese defendia em seu trabalho assentava-se na idéia de que a Alemanha algum dia viesse a ser de novo uma grande potência. Portanto o Reich tinha duas escolhas: a Alemanha tinha de construir uma grande frota e equilibrada e assegurar-se de que tal frota poderia operar de bases na França e na Noroega que pudesse flanquear um bloqueio britânico igual ao que lhe fora imposto na primeira guerra mundial. Não conseguindo isso, a Alemanha teria de sair para um conjunto de alianças que pudesse neutralizar o domínio das rotas comerciais européias pela Inglaterra.

No último ano de liderança de Zenker, sua defesa de uma marinha oceânica foi aceita. Chegara a hora de o primeiro dos velhos couraçados ser substituídos, e a escolha deveria ser feita entre um cruzador oceânico pesado e um monitor lento, para a defesa costeira.

A belonave que finalmente surgiu era uma arma revolucionária: o Deutschland. Era vasos de blindados, ou simplesmente couraçados.

A idéia de colocar canhões de couraçados num cruzador pesado não foi com se pensa normalmente, apenas produto do desenho naval alemão. Os ingleses haviam experimentado isso, que tinha efeito destrutivo num casco tão leve. Mas o Deutschland, baseado no mesmo princípio dos cruzadores de batalha leves, conseguiu uma combinação quase perfeita de tamanho médio e poder de ataque pesado.

O Deutschland tinha 06 canhões de 11 pol., montados num casco soldado eletricamente, 185 metros de cumprimento e deslocava 11.700 ton. Seu raio de cruzeiro era de 30.000 Km a 19 nós, com velocidade máxima de 26 nós. Foi confiado o papel de incursor de longo curso e calculou-se que ele poderia superar, em velocidade e poderio dos canhões, quaisquer cruzadores hostis que pudesse encontrar nas rotas comerciais do mundo, receado apenas os cruzadores de batalha mais velozes, com o Hood, o Repulse e o Renown da Inglaterra.

Quando ele foi lançado ao mar em 1931, ele deu a marinha alemã o domínio do Báltico, seguindo-se em breve dois outros navios iguais: o Admiral Scheer e o Admiral Graf Spee.

Mas antes que o Deutschland ser lançado ao mar, a marinha alemã recebera um novo comandante chefe: O Grande Almirante Erich Raeder, este foi chefe do estado-maior de Franz Von Hipper na primeira guerra mundial e ocupava seu último comando no mar, com Almirante das forças ligeiras do mar do norte, antes de ser nomeado Almirante do Báltico, em 1925. Raeder impressionou o já idoso Feldmarechal Von Hindenburg, presidente da República Alemã, que o nomeou Comandante – Chefe da Marinha em 1928.

Raeder, era manter a marinha fora dos envolvimentos políticos e criar uma instituição que seria inspiração para todo pais. Raeder não era agitador, ele rejeitou as idéias de Wegener alegando que, depois do colapso de 1918, a Alemanha evidentemente jamais tornaria a entrar em guerra coma Grã-Bretanha. E Lançoe-se à tarefa de criar a nova frota.

Ao fazer isso, Raeder aprovou, com restrições e cautela, a técnica que as forças armadas alemãs estavam adotando para fraudar o Tratado de Versalhes. Assim a marinha alemã continuou fazendo experiências com submarinos através de uma companhia holandesa, em Haia. Ela planejava usar cargueiros convertidos como cruzadores auxiliares, traineiras como caça minas e preparou planos de treinamento de pilotos civis para formar oficiais em potencial para uma força aérea naval. Raeder era excelente planejador e tinha como meta a construção de uma frota equilibrada, do tipo contido na tese de Wegener, mas cujas inferências lógicas e mais profundas ele rejeitava.

Assim é que, muito antes de Hitler subir ao poder, a Marinha Alemã vinha-se preparando para um eventual rompimento das condições estipuladas pelo Tratado. Quando Hitler se tornou Chanceler do Reich, em janeiro de 1933, Raeder apoiou sua elevação ao cargo. Hitler envidou todos os esforços para impressionar o Grande Almirante e logo adquiriu sua confiança, especialmente com suas garantias de que, embora o rearmamento fosse essencial, a guerra com a Grã-Bretanha era inconcebível. Fiel ao seu ponto de vista, Raeder manteve a marinha alheia à política brutal que grassava por trás do incêndio do Reichstag e do Expurgo Sangrento de Rohm de 1933 e 1934, que tornaram Hitler o verdadeiro ditador da Alemanha. O novo regime recompensou a fidelidade de Raeder, prometendo-lhe apoio a um programa de construção naval muito além dos limites fixados pelo Tratado de Versalhes. O grande acontecimento no caminho do rearmamento alemão ocorreu em março de 1935, quando Hitler denunciou o Tratado de Versalhes e proclamou o restabelecimento da Luftwafle, a Força Aérea Alemã.

Agora a fraqueza de Raeder começava a aparecer. Ele decidiu manter sua Kriegsmarine, a Marinha de Guerra, fora da política, mas isso não se aplicava a Hermann Goring, grande às da 1ª guerra mundial, importante líder nazista e comandante – chefe da nova Lufrwafle do Reich. Foi a administração de Goring no Ministério da Aeronáutica e na Luftwafle que arruinou as chances de um sistema unificado de comando para os três ramos das Forças Armadas Alemãs. O General Von Blomberg, chefe do Ober-kommando der Wehrmacht ( OKM), o alto comando das forças armadas, não podia controlar na prática, a posição muito superior de Goring na hierarquia interna nazista.

Todos os planos secretos para a nova arma aérea da esquadra de alto mar alemã foram imediatamente bloqueados pelo monopólio que Goring tinha do programa de aviões militares da Alemanha nazista. A única concessão, que soou como grande generosidade, foi referente à criação de uma aviação naval, que a marinha poderia controlar em tempo de guerra. Por volta de 1942, era promessa de Goring que esse setor receberia 62 esquadrões com total de 700 aviões, uma oferta mais que razoável que Raeder aceitou. Em breve ele descobriria a desagradável realidade que a maioria das promessas de Goring ocultava.

Em 1935 o tratado naval anglo-germânico. Tendo renunciado às limitações do tratado de Versalhes, a Alemanha obtinha formalmente o direito de aumentar sua marinha até atingir 35% dos efetivos da marinha real britânica. Também se concordou com o renascimento do setor de submarinos. O Tratado foi uma obra prima de propaganda que anunciava hipocritamente ao mundo que a Alemanha nazista não tinha intenções de desafiar a Grã-Bretanha para outra corrida naval, mas, passados apenas onze dias da assinatura da Tratado, o U-1 foi incorporado à esquadra de Kiel. Por volta de janeiro de 1936, mais onze submarinos haviam sido incorporados, mesmo antes do tratado. Assim teve início a construção propriamente dita da frota de batalha.

Em 1936 iniciou-se o trabalho de construção dos dois mais poderosos couraçados de que tinha noticia até que a marinha Imperial Japonesa apareceu com o super-couraçados da classe Yamato: O Bismark e o Tirpitz, armados com canhões de 15 pol.. Uma vez mais, as autoridades alemãs atenuaram seu verdadeiro deslocamento, anunciando 35.000 ton., quando na verdade era de 41.700 ton. Para o Bismark e 42.000 ton. Pata o Tirpitz. Com isso aumentava-se o potencial humano da marinha. Dois outros cruzadores leves, o Leipzig e o Nurnberg, já se haviam unido à frota, e o sexto, o Konigsberg, foi lançado em 1937. O crescimento era desenfreado.

Em 1937 houve outro acontecimento importante, Hitler convocou seus lideres militares e informou-os abruptamente de que teria de utilizar a força armada para resolver os problemas do Reich na Europa. Áustria, Theco-Eslováquia e Polônia. Raeder ainda estava convicto de que não haveria guerra, mas os generais não pensavam assim. Tampouco o Almirante Donitz, comandante da arma de submarinos desde 1935, que não podia acreditar que a Grã-Bretanha e França cruzassem os braços. Contudo, Raeder ficava impressionado com a exatidão da previsão de Hitler, de que as potências ocidentais não interviriam para impedir a reocupação da Renânia pela Alemanha. Ele ainda acreditava que, a despeito das crises inevitáveis dos meses seguintes, as táticas do Fuhrer realmente dariam tempo para reconstruir a frota.

Em março de 1938, a Áustria não era mais o Osterreich, mas o Ostmark do Grande Reich Alemão, ainda assim as potências ocidentais não reagiram. Chegara a vez da Tcheco-Eslováquia e uma vez mais Grã-Bretanha e França capitularam a um pedido território final e à proposta de uma paz duradoura de Hitler na forma do acordo de Munique, em 1938.

Depois de um inverno de intensa atividade, surgiu o famoso Plano Z naval. Aceito por Hitler em janeiro de 1939, recebeu ele prioridade sobre todos os outros programas de armamento no Reich. O Plano Z era basicamente um programa de seis anos de construção acelerada de belonaves, e nele a Marinha Real era vista como principal competidor.

Deveria ser aumentada para ter neste período as seguintes belonaves:

1 – 06 Couraçados de 56.000 toneladas

2 – 02 Couraçados de 42.000 toneladas (Bismark e Tirpitz)

3 – 03 cruzadores de batalha de 31.000 toneladas, com canhões de 15 polegadas com o Scharnhorst e o Gneisenau

4 – 03 cruzadores de bolso ( Deutschland, Admiral Scheer, Graf. Spee )

5 – 02 porta-aviões (Graf Zeppelin e um outro)

6 – 05 cruzadores pesados ( Hipper, Blucher, Prinz Eugem, Seydlitz e Lutzow)

7 – 44 cruzadores leves ( seis dos quais já estavam prontos)

8 – 68 destróieres e 90 torpedeiros

9 – 259 submarinos costeiros e oceânicos.

O Plano Z reflete melhor do que qualquer outra coisa, o total desprezo pela reação da França e da Grã-Bretanha e que se manifestara por volta do ano novo de 1939. Ele supunha que, em 1945, a Marinha Alemã surgiria com efeitos iguais aos da marinha Real.

No verão de 1939 registrou-se o último triunfo ilusório da diplomacia de marreta de Hitler, o Pacto Germano-Soviético de Não Agressão. E na ultima semana de agosto, a frota alemã entrou em prontidão operacional, enquanto os exércitos alemães tomavam posição para invadir a Polônia.

Em setembro de 1939, expirou o ultimato britânico para que a Alemanha saísse da Polônia ou se considerasse em guerra com Grã-Bretanha. Os planos de Raeder entraram em colapso quando a Alemanha se viu em guerra com a Grã- Bretanha, sua reação poderia muito bem ter sido semelhante à de Hitler, a quem viram olhar fixamente para o Ministro do Interior, Ribbentrop, e esbravejar: E agora? Ou à do Goring, que comentou: Que Deus tenha piedade de nós, se perdemos esta guerra.

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