segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 10


AGUARDANDO O CHAMADO

Após minha apresentação como voluntário, os dias que passaram a partir daquele momento, foram de verdadeiros suplícios para mim; jamais gostei de esperar. O avião partindo do Rio de janeiro, conduzindo pessoal classificado no 1º Grupo de Caça, fazia escala, aqui no campo do Ibura em Recife. Era sempre a tardinha que ele chegava. Um pouco triste e encabulado, assistia a passagem dos pequenos contingentes de oficiais e sargentos, quase todas as semanas, com destino ao Panamá, para efeito de treinamento. E os dias passando, angustiado esperava ser chamado. Afinal, havia dado o meu nome me apresentando como voluntário fazia questão de seguir. Por fim, comecei a perder a esperança uma vez que a formação do pessoal integrante do Grupo estava sendo elaborada no Rio de Janeiro, daí foi grande a surpresa, quando o boletim da unidade publicou minha transferência e desligamento imediato por ter que seguir destino. Embarquei de avião para o Rio de Janeiro, devendo apresentar-me no Ministério da Aeronáutica, na Rua do México, nº 74, na Esplanada do Castelo. O nosso Ministério tinha como sede um edifício alugado; muito pequeno, o serviço de elevador deixava muito a desejar. Os mais apressados usavam a escadas. Era grande o número de militares, oficiais, graduados e soldados que se acotovelavam pelos estreitos corredores.

Muitos civis, aguardando embarque para os Estados Unidos da America; deveriam fazer cursos de pilotagem e outras especialidades nas escolas americanas, para completarem os quadros da FAB.

Fui encaminhado à junta especial de Saúde; fiquei apreensivo dado o rigor dos exames, não obstante estar certo de que o meu estado físico era muito bom; mas, vi companheiros serem reprovados por simples desvio do septo nasal. Os médicos nos tratavam com muita simpatia e alguns chegavam até a tirar brincadeiras. Foi grande o alívio, quando pude ver meu nome entre os aprovados. Recebi uma ajuda de custo para comprar meu enxoval; uma relação de tudo que deveria levar além dos uniformes; nela constavam agasalhos, méis de lã, agulhas, botões e até linha.

A parte burocrática consistia de preenchimento de declarações de herdeiros, nome e endereço de uma pessoa a quem deveria ser avisada em caso de acidente ou morte e outras papeladas. Nesse meio tempo, várias vacinas nos foram aplicadas.

Mandei confeccionar minha farda na alfaiataria Moraes Alves, na Av. Uruguaiana; pedi que caprichasse, pois iria representar o País no exterior e queria estar bem uniformizado. Na manga esquerda da túnica o distintivo de expedicionário; uma pequena faixa ligeiramente curva, verde e amarela escrita o nome do Brasil. Assim, fardado, transitava pela Av. Rio Branco, sob as vistas de curiosos, que nos olhavam com admiração, pois sabiam que era um expedicionário da Força Aérea Brasileira.

Estava tudo pronto e de mala arrumada, aguardando, apenas, o dia e hora de embarque. Tudo providenciado. Tirei uma fotografia fardado e enviei para os meus pais. Escrevi as últimas cartas. Finalmente, soube do dia exato que deveria embarcar. Estávamos numa semana pré-carnavalesca. Os americanos lutavam na Itália, e a música mais tocada era uma homenagem aos nossos bravos aliados.

Para mostrar

Que braço é braço

Eu conquistei Cecília

Enfrentei bala de aço

Mas conquistei Cecília ...

No dia 27 de fevereiro de 1944, numa bela manhã de um Domingo, estava no calabouço, esperando a hora do embarque; várias pessoas presentes, familiares, parentes e amigos; uma delegação de oficiais e um deles apresentou as despedidas em nome do Ministério da Aeronáutica, apertando a mão de um a um, desejando boa sorte, o avião era um DC-3 nº 7849, americano e respectiva tripulação. Tinha o nome de Rio Rita, pintado no seu bojo um busto de uma linda mulher tropical. Embarcamos éramos 15 militares, chefiados pelo Aspirante-Aviador Renato Gourlart, sendo 8 sargentos: Bechara, Neto, Coutinho, Cançado, Prime, Paiva, Lima e Dorcelino; 6 soldados: Poras, Silveira, Faustino, Pato, Senatore e Otacílio. O avião deu partida nos motores, taxiou para a pista, decolou e logo tomou altura. Com enorme saudade, contemplava lá de cima a encantadora cidade do Rio de Janeiro, que pouco a pouco ia ficando para trás até se perder de vista. Pousamos em Salvador, Recife e Natal onde passamos a noite, para sairmos no dia seguinte para Belém onde pernoitamos. Finalmente, decolamos com escala em Georgetown e Trindad, ficando ali seis dias à espera de um novo transporte.

No dia 6 de março de de 1944, decolamos de Trindad e Tabago, com escala em Caraçau e Panamá. Desembarcamos no Aeroporto do Panamá; passamos pela alfândega. Sendo logo liberados, seguimos para Albrook Field. Era uma excelente base-escola. Ficamos alojados num prédio muito bonito, de alvenaria, onde tínhamos todo o conforto. No dia seguinte, muito cedo, tomamos café e em seguida, juntamente com outros que ali já se encontravam fomos para uma sala de aula. Uma programação de instrução puramente teórica foi vivenciada. Aulas pela manhã e à tarde, de inglês, noções da organização do Exército Norte-Americano, camuflagem, etc.. De permeio um filme curta-metragem era exibido, sem distração. Cenas das mais horríveis passadas nos campos de batalha no Pacífico. Logo compreendemos que fazia parte da instrução. Era uma preparação psicológica para a guerra.

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