domingo, 7 de fevereiro de 2010

A MARINHA ALEMÃ - Parte 03

O GRAF SPEE

No tocante à frota de superfície, os couraçados de bolso seriam os primeiros a entrar em ação. Raeder já os despachara para suas áreas de espera no meio do atlântico, com o Graf Spee zarpando de Wilhelshaven a 21 de agosto e o Deutschland três dias depois. Dois petroleiros de abastecimento foram designados para sua manutenção em alto mar. Os couraçados de bolso em alto mar receberam instruções claras, a destruição do comercio marítimo era considerada apenas parte secundária da sua função, que consistia em manter as frotas aliadas em desequilíbrio.

A zona de operação do Graf Spee ficava ao sul do Equador, enquanto que o Deutschland faria do Atlântico Norte o seu campo de caça, mas durante três semanas Hitler recusou-se a permitir o início das incursões contra as rotas comerciais. Ele esperava vencer rapidamente a Polônia obter um acordo de Paz com os aliados.

A caça ao Graf Spee ressuscita todas as emoções que marcaram, vinte e cinco anos antes, a perseguição ao Konigsberg e ao Emden.

O almirantado soube que, no dia 1 de outubro, o Graf Spee se encontrava no Atlântico e que afundou o vapor Clement, ao largo do Brasil. Vinte dias mais tarde, os sobreviventes do vapor norueguês Lorentz H. Hansen chegam às Órcades e comunicam que seu navio fora destruído pelo Deutschland. Dois couraçados de bolso estão em ação, um no Atlântico Norte e o outro no Atlântico Sul. Temíveis navios, obras primas da construção naval, canhões de 11 pol., blindagem de 10 cm, máquinas dando 28 nós, acumulados num deslocamento de 10.000 tol., graças a economia de peso, realizada pela substituição da solda pelo rebite. É uma ameaça que a qualquer preço deve ser eliminada dos mares.

Os dois navios são idênticos, mas seus comandantes diferem. O do Deutschland dá prova de excessiva prdência e regressa a Wilhelmshaven, com magro quadro de caça. O do Graf Spee, Langsdorff, aplica-se, obstina-se. De resto, sua conduta é irrepreensível, nenhum navio é afundado antes de ser completamente evacuado. Os comandantes prisioneiros são recebidos com consideração a bordo do Graf Spee e as tripulações são acomodadas, o menos mal possível, no Altmark, que acompanha o couraçado de bolso na qualidade de reabastecedor. Langsdorff se felicita por ainda não ter feito correr uma só gota de sangue.

Contra os dois corsários, depois contra o solitário Graff Spee, as frotas aliadas deslocam forças imensas. Oito divisões navais compostas de couraçados, de cruzadores e de porta aviões, são designadas para setores que vão do Ceilão às Antilhas. No dia 22 de outubro, um S.O.S. do SS Trevanion faz esperar que um torno se aperte sobre o couraçado solitário. Mas passam-se os dias e as semanas. O Graf Spee não está em parte alguma, na imensidão dos mares.

Para despistar os perseguidores, Langsdorff fez vasto desvio no oceano Índico. Regressa ao Atlântico, parcialmente satisfeito com seu cruzeiro. Seus recursos esgotam-se e a partir de 30 de setembro, ele só destruíra 9 cargueiros, perfazendo um total de 50.000 ton., cosa bem modesta para um navio tão poderoso como o seu. Ele quer, antes de voltar à Alemanha, melhorar seu quadro de combate nas águas agitadas de tráfico do Rio da Prata.

Ás 6 h 08 min, quando o Graff Spee está a 150 milhas de Montevidéu, seus vigias descobrem uma fumaça. Langsdorff aproxima-se pela proa, convencido de que se trata de uma nova vítima. Oito minutos mais tarde, reconhece uma embarcação de guerra. Suas ordens lhe prescrevem evitar combate, mas a fuga é difícil, na manhã de um longo dia de verão, e Langsdorff se considera bastante forte para impor-se rapidamente, ao cruzador leve cuja supeestrutura se desenha no horizonte. Instantes mais tarde, dois outros navios se tornam visíveis, por sua vez é tarde demaispara fugir. O alemão tem o sol nos olhos, mas a visibilidade é excelente, com vento moderado e ligeira corrente marítima, vinda de nordeste.

O primeiro cruzador avistado pelo Graff Spee é o Ajax, com canhões de 6 pol.. O segundo, da mesma força é o Achilles, da marinha da Nova Zelândia. O terceiro é o Exeter, armado de canhões de 8 pol.. Eles constituem, sob o comodoro Harwood, a força G, uma das melhores, pois não conta com couraçados e nem com porta aviões. Além disso, o quarto navio da divisão, o cruzador Cumberland, se reabastece nas Falkland. Sozinho contra três, Langsdorff possui, no entanto, grande superioridade sobre os adversários. Tem as melhores chances de destruí-lhos, um após outro, sem que o Graf Spee sofra avarias.

Às 6 h 14 min começa o combate. A distância entre o Graff Spee e seus adversários é de 19.000 m. Hora e meia mais tarde, a ação está terminada. O Exeter, com três torres, de suas quatro, demolidas, pesadamente adernado a bombordo, imterrope o combate e tenta, penosamente voltar a Port Stanley. Os dois cruzadores ligeiros batem-se com extraordinária teimosia, atraindo a curta distância, um adversário cuja artilharia secundária se iguala à artilharia principal deles. Aproveitavam-se do duelo entre o Graf Spee e o Exeter, para atingir, repetidamente, o couraçado inimigo. Mas também sofrem danos leves, o Achilles, graves, o Ajax. Ficam sozinhos diante de um poderoso navio cuja força combativa está intacta, sós, sem outra superioridade senão ligeira vantagem em velocidade. O Graf Spee pode forçá-los a fugir. Mas é o couraçado que foge !

As suas avarias são importantes, embora não o ponham em perigo. As cozinhas estão destruídas, o casco, furado, parte da artilharia inutilizada, o barco esta atulhado de feridos. Um espírito menos fanático do que Langsdorff se faria ao largo, tentaria uma evasão, desaparecendo nos espaços desertos do oceano. Mas o humanitário comandante do Graf Spee, que considera absurda a guerra, só sonha encontraruma angra para reparar seu navio e desembarcar seus feridos. Montevidéu está próximo, lança-se para lá. É uma armadilha. Os dois pequenos cruzadores vitoriosos unen-se contra ele, no limite das águas territoriais uruguaias e, voltando apressadamente das Falkland, o Cumberland dá-lhes reforço, no dia seguinte.

Os três dias que se seguem inflamam o mundo, o Almirantado inglês alardeia o glorioso combate dos três cruzadores. A curiosidade pública espera, àvidamente, a peripécia seguinte. Hitler, sufocado de raiva, bombardeia Langsdorff com telegramas, acusa-o de covardia, pôe-no sob suspeita de traição. Quer que tire o Graf Spee de Montevidéu e o afunde, com o pavilhão hasteado. Mas Langsdorff recusa sacrificar seus homens, resiste ao Embaixador alemão no Uruguai e aos agentes nazistas que acorreram de Buenos Aires. As setenta e duas horas de prazo que obtivera do Governo uruguaio esgotam-se. Torna-se necessário que ele deixe Montevidéu ou que aceite o internamento, terminantemente vetado pelo Fuhrer.

No dia 17 de dezembro, às 18 horas, imensa multidão aflui ao cais de Montevidéu. O Graf Spee parte. Nenhum reforço aliado chega ao Achilles, ao Ajax e ao Cumberland, a bordo dos quais ressoa o toque de combate. Mas Langsdorff desembarcou a maior parte de sua tripulação e é um grupo de afundamento que conduz o magnífico navio do estuário, na glória do sol poente. Ouvem-se duas ou três explosões ensurdecedoras. O Graf Spee deixa-se afundar lentamente em águas tão poucas profundas, que por muito tempo seus destroços serão vistos à flor da água.

Langsdorff foi o último a abadonar seu navio. No dia seguinte, mata-se. Um temor, ligado ao ocorrido, apodera-se do supersticioso Hitler, o que acontecera ao Graf Spee poderia ter acontecido ao Deutschland. O Mundo, divertido, teria visto a Alemanha soçobrar ignominiosamente. Dá ordem para que se rebatize, com o nome Lutzow o decano dos couraçados de bolso

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