domingo, 14 de fevereiro de 2010

A MARINHA ALEMÃ - Parte 08

A BATALHA DO ATLÃNTICO - DONITZ CONTRA RAEDER
O Almirante Donitz previa que os sucessos fáceis dos submarinos alemães ao longo das costas americanas seriam efêmeros. Reorganiza suas táticas, volta a seus costumeiros locais de caça. As perdas aliadas continuam pesadas, mas vão decrescendo. Reunidas todas as causas em todos os oceanos, elas haviam atingido 114 navios e 856.042 toneladas em junho de 1942, caem para 69 navios e 695.562 toneladas, em julho. Diminuem, ainda, durante os meses seguintes e, ajudadas pelas tempestades de inverno, caem, em dezembro, para o seu nível mais baixo, desde 1941. O total, para 1942, fará aparecer uma destruição de tonelagem mercante de 8.333.258 toneladas, ou seja, uma média mensal de 694.438.
Em seu P.C. parisiense da Avenida Marechal Maunoury, o Almirante Donitz contabiliza a destruição. O objetivo a que se obrigou é o de destruir, pelos menos tantos navios quantos os aliados constroem. Seus serviços avaliam em 8.090.000 toneladas a produção reunida dos estaleiros britânicos e norte-americanos. Isso impõe às forças navais e aéreas do Eixo a tarefa de destruir, mensalmente, cerca de 700.000 toneladas. Assim, 1942 aparecem como um ano de equilíbrio, nem excedente, nem déficit. A batalha continua ardorosa. A ação combinada dos submarinos, a tática dos lobos, está afiada. Certos comboios são massacrados, como foi o caso do SC-107, que em quartro noites, perdeu 15 de seus 30 navios. Após o torpedeamento do Lucania, afundado com 1.800 prisioneiros italianos a bordo, 3 navios de mais de 20.000 toneladas, Oronsay, Oecades e Duchess of Atholl, desaparecem, somente no decorrer do mês de outubro. Apesar disso, verifica-se que o rendimento individual dos U-Boot e caiu ao décimo de seu total em 1940. Donitz só mantém seu equilíbrio pela multiplicação das flotilhas. Possuindo, agora 260 submarinos, consegue ter, ao Atlântico, uma centena, ao mesmo tempo.
Mas multiplicam-se perdas misteriosas. O U-502, de Von Rosenstiel, o U-165, de Hillmann, o U-578, de Rehwinkel, o U-705, de Horn, e o U-751, de Bigahl, somem no golfo de Gasconha, ao voltar do cruzeiro, num momento em que na avenida Maunoury, se considerava estarem fora de perigo. Os relatórios marítimos de outros comandantes permitem reconstruir seu fim. O Submarino está na superfície, à noite, recarrengando as baterias, reoxigenando a tripulação, cortando caminho para compensar a lentidão mortal de navegação submersa. Bruscamente, é inundado de luz, pelos faróis que se acendem no céu. Um avião mergulha sobre ele e cobre de bombas. A noite era a cúmplice indispensável dos marinheiros que se viam forçados a vir respirar periodicamente, como cachalotes. Se a noite não é mais um asilo, se o radar permite uma perseguição contínua, então a guerra submarina, tal como era praticada desde 1914, já está superada.
Donitz tenta manobras. Nenhuma é satisfatória. Seria preciso ter um submersível impulsionado por turbinas a oxigênio, proposta há muitos anos, pelo professor Walter, um navio realmente digno do nome de submarino capaz de fazer em emersão ininterrupta, os mais longos cruzeiros, desenvolvendo imerso 23 nós em lugar de 7 a 8. Mas Walter é o primeiro a declarar que é tarde demais para se entregar à realização de seus planos. Na falta da Turbina a oxigênio, o professor propõe ao almirante uma invenção relativamente simples, um tubo controlado por uma válvula automática, que aspire na superfície, o ar necessário ao funcionamento dos diesels, permitindo consequentemente a supressão dos motores elétricos e fazendo desaparecer a necessidade de vir à tona, a intervalos freqüentes. O Schnorchel, cuja primeira aplicação data de 1897, entra na história. Será associado às últimas tentativas alemães para disputar à Inglaterra e aos Estados Unidos ter os mares à sua livre disposição.
Entre Donitz e Raeder as relações não são boas. Com sessenta e sete anos, o grande Almirante é um oficial de marinha de alto bordo, que sofre por ter tão poucos grandes barcos para por em linha e que suporta mal a glória dos submarinos de Donitz. Por duas ou três vezes, tenta desmembrar o comando deste, tentativa tanto mais perigosa em face do prestígio de que o caráter e o uniforme de Reader gozam junto a Hitler.
Em terra diz modestamente o Fuhrer, sou um herói no mar, sou um poltrão. O grande Almirante é o último dignitário da Wehrmacht de quem Hitler ainda tolera as opiniões.
O caso de JW 51 B faz desaparecer essa exceção. Trata-se de um comboio de Murmansk, que os ingleses arriscam, nos últimos dias de dezembro de 1942, fiando-se na noite ártica e no estado do mar. Informada, a Krigsmarine decide destruí-lo, com seus navios de superfície. O couraçado Lutzov, o cruzador Hipper e 6 contratorpedeiros sobem até o paralelo 73, dentro de uma furiosa tempestade, e no dia de São Silvestre, atacam com auxílio do radar, uma escolta unicamente composta de corvetas e de contratorpedeiros. Mas esta resiste com tanta felicidade que dá aos cruzadores Jamaica e Sheffield tempo de restabelecerem o combate. O Hipper é avariado, um contratorpedeiro é afundado e, acreditando estar diante de fôrças superiores, o almirante alemão se retira. Nem um navio mercante é arranhado, O JW 51 b chega a Murmank intacto.
Hitler esperava com ansiedade apaixonada o resultado dessa batalha naval do dia de São Silvestre. Sabendo do fracasso alemão, explode, declara que os grandes navios são inúteis e que todos inclusive os cruzadores leves, serão imediatamente desarmados. A decisão está longe de ser absurda, pois a frota de alto mar, fraca demais para representar um papel estratégico, só imobiliza homens e devora recursos. Mas o velho almirante Raeder não pode aceitar tal condenação. Tenta fazer revogá-lo e, esmagado pela violência verbal de Hitler, balbucia sua demissão. Pressionado a nomear os dois oficiais mais qualificados para suceder-lhe, designa em primeiro lugar o Almirante Carl e em segundo, o Almirante Donitz. Hitler, pra grande tristeza de Rader, escolhe o segundo.

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