terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 16




SENTA A PUA
Senta a Pua foi o grito de guerra do pessoal do 1º Grupo de Caça da Força Aérea Brasileira, que nos céus da Europa, num dia chuvoso e nublado por ocasião da primeira missão dos nossos bravos pilotos, reboou por todo o território inimigo, passando a ser o terror dos tedescos.
Senta a Pua foi mais que um simples grito, ele veio dar eco às nossas tristezas, aos nossos anseios. Ele mostrou o valor da nossa aviação militar, notabilizando o Brasil no seio dos aliados e firmando conceito de alta popularidade entre as nações.
Senta a Pua significa lançar-se sobre ele (Inimigo) com decisão, coragem, sangue frio, golpe de vista e vontade de aniquilá-lo. Quem vai sentar a Pua, não tergiversa. Arremete de ferro em brasa e verruma o bruto (Austregésilo de Athayde).
A insígnia Senta a Pua nasceu em 1944, quando ainda estávamos em treinamento nos Estados Unidos, prestes a seguir para o campo de batalha. É costume na aviação norte-americana as unidades possuírem seu distintivo próprio, geralmente com fundo humorístico. Ora, sendo nós componentes de um Grupo brasileiro, porém organizado de acordo com os moldes americanos, não queríamos ser exceção nessa particularidade. Qual seria, então, nosso Problema?
As controvérsias foram demasiadas uns optavam pelo papagaio caracterizado no conhecido Zé Carioca de Walt Disney, queriam uns que fosse representados na singular de Jeca Tatu, de Monteiro Lobato e outros, desejavam ainda, um diabólico macaquinho.
Foi o capitão Fortunato que veio resolver o problema. Jovial e inteligente, dotado de espírito brincalhão, aliado a vasto conhecimento de desenho, logo surgiu com célebre Avestruz Voadora. E pro que foi escolhida a avestruz e não outro animal ou ave genuinamente brasileira?
Essa ave é largamente conhecida com possuidora de estômago descomunal, daí a expressão estômago de avestruz, aplicada àqueles que em demasia e de tudo. Acostumados a cozinha brasileira, ao entrarmos em contato com a comida americana foi um verdadeiro pandemônio, e apesar de seu alto valor nutritivo e bem preparado, nem de longe se assemelhava ao nosso gosto. Doce às refeições. Tudo ali era açucarado inclusive, as garotas, verdadeiros bombons. Carne, ovos, presunto, feijão, tudo era diabólico. Como poderíamos, acostumados com nossos salgadinhos, à cozinha baiana, adaptarmo-nos tão rapidamente àquela doçura? Era preciso, naturalmente, ser uma avestruz e daí surgir nossa amiguinha.
Foi-lhe entregue um velho bacamarte, símbolo do poderio das nossas metralhadoras. Um grande escudo azul, com a insígnia do Cruzeiro do Sul, e colocado na asa esquerda e tal quais os velhos espartanos, representava nossa defesa. Colocada em cima de uma nuvem branca, simbolizando a paz, pura e permanente e sobre um céu vermelho, caracterizando a guerra sangrenta e cruel.
Um quépi da FAB completou sua militarização. Assim, durante 7 meses da campanha, o Grupo executou centenas de surtidas sobre o território inimigo levando a insígnia Senta a Pua na carenagem de todos os seus aviões.
Em terra, era um prazer ostentá-lo no peito e isso constituía orgulho geral.
Eis aí, uma breve explicação de nossa companheira, surgida quando mais necessitávamos luz de bondade que nos guiou, moralmente, através de meses de incertezas e angústias.
Pensar no Grupo de Caça é lembrar o Senta a Pua. E hoje, depois de tanto tempo, recordando-me de uma frase quando de regresso ao Brasil e se referindo à nossa amiguinha, declarava o Sargento José Adolfo Teixeira. Seu espírito viverá eternamente em nossos corações.

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