quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA Parte 07


A DECLARAÇÃO DE GUERRA.
O Brasil, respondendo ao desafio dos consecutivos ataques ás suas linhas de comunicações dentro de suas próprias águas territoriais, declarou guerra à Alemanha e à Itália. Fez um gesto característico de nação digna, ciosa de sua soberania. A atitude do Brasil torna inconfundível caráter de defesa da dignidade, de autoridade, liberdade e segurança de todas as Américas. Uma semana após o covarde torpedeamento de cinco navios, com numerosas perdas de vida de brasileiros, nosso país declarou a existência do estado de guerra – trazendo assim, para a luta partilhada por 28 nações, os inestimáveis recursos naturais, industriais e a contribuição de força de terra, mar e ar, de uma nação que se levanta em peso, indignada contra as bárbaras imposições de força bruta.
Torna-se, portanto, o Brasil a primeira nação Sul-americana a ser forçada à guerra pelo insólito ataque do Eixo, e reúne-se às onze outras repúblicas irmãs – Costa Rica, Cuba, República Dominicana, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, e Estados Unidos – ora em armas contra as potências agressoras que tentavam conquistar o mundo.
O Brasil se esforçou sinceramente para manter-se em paz. Suas simpatias e interesses, naturalmente são afins com os das outras nações americanas, de conformidade com a Declaração de Havana, segundo a qual um ataque feito por uma nação não-americana contra a soberania de qualquer nação americana, constitui um ato de agressão contra todas. A conferência de chaceleres do Rio de Janeiro não havia encerrado, e o Brasil já havia rompido relações diplomáticas e comerciais com as nações do Eixo, e manifestando praticamente a sua colaboração a bem dos interesses do nosso hemisfério.
Durante os primeiros meses de guerra os submarinos alemães haviam feito seus ataques quase à vontade em águas americanas, porque a Marinha dos Estados Unidos dispunham de poucas unidades anti-submarinas a serem afastadas do necessário serviço de comboio de tropa e abastecimento para as zonas de guerra na Europa. Mas, a rápida produção de navios para escolta, a extensão do serviço de patrulha aérea e a organização de comboios, já havia tornado cada vez mais perigoso para os submarinos aventurarem-se em águas norte-americanas. Esses submarinos voltaram, pois, suas atenções para o sul, a fim de continuarem suas depredações nas pacificas águas brasileiras. Na noite de 15 para 16 de agosto, nada menos de cinco navios brasileiros eram torpedeados dentro de 20 milhas da costa, quando faziam suas viagens de cabotagem entre portos brasileiros. Dentre os passageiros destacavam-se numerosos romeiros que haviam ido assistir ao Congresso Eucarístico em São Paulo. Em meio às vítimas dos ataques submarinos, havia centenas de mulheres e crianças. Foi, assim, uma agressão feita diretamente contra a navegação de cabotagem, empenhada em atividades pacíficas, que não poderiam favorecer ou prejudicar nenhum país beligerante.
Assim, em 22 de agosto de 1942, o governo brasileiro declarou formalmente a existência de um estado de guerra, afirmando que, antes de 15 de agosto, a atitude do Brasil em face das depredações cometidas pelos alemães, havia sido de simples protesto contra a violação das normas de Direito Internacional e dos princípios de humanidade que regem a guerra no mar. Os protestos reafirmavam sua intenção de se manter-se em paz.
O Brasil não poderia ter dado maiores provas de sua tolerância e pacificação, conforme afirmou o próprio governo, ao declarar a existência do estado de guerra. Não há que negar, portanto, que a Alemanha e a Itália praticaram atos da guerra contra o Brasil, criando uma situação de beligerância, que forçou o país a reconhecê-la não somente a bem da defesa de sua própria dignidade, soberania e segurança, como também com relação á defesa das Américas.
O Brasil foi recebido expressiva e entusiasticamente no meio da Liga das Nações. "Com essa decisão, solenemente tomada, o povo do Brasil cerra fileiras com os povos livres do mundo na luta sem tréguas contra as potências desenfreadas e predatórias do Eixo", afirmou o Presidente Roosevelt em mensagem dirigida ao Presidente Vargas, "decisão que vem dar mais força, moral e material, aos exércitos da liberdade. Como companheiro de armas, nossos soldados e marinheiros perpetuarão mais uma página da história já repleta de provas de amizade, confiança e cooperação que tem marcado desde os primeiros dias de independência, as relações entre nossos países. A decisão hoje tomada pelo vosso governo vem apressar o advento da inevitável vitória da liberdade contra a opressão, da religião cristã sobre as forças do mal e das trevas".
Com gigantesco empório de matérias-primas de guerra, o Brasil não somente fará sentir o efeito de sua contribuição nesse sentido, como tornar-se à também ativo centro industrial, verdadeiro arsenal que cooperará para que os recursos bélicos das Nações Unidas se coloquem por parte faz potências do Eixo.
Quanto às matérias-primas, as minas do Brasil fornecerão ainda em maior quantidade, produtos estratégicos vitais, vez que dispõe o país da quinta parte do manganês existente em todo o mundo; possui a metade do berilo, elemento importante para o enrijecimento de todos os metais; é rico em bauxita, usada na fabricação de alumínio para aeroplanos; diamantes industriais, dos quais é a única fonte no continente, e é também o único exportador de titânio, próprio para a fabricação de ferramentas; assim como é o único produtor do mundo, do quartzo de superior qualidade, empregado na fabricação de rádios, de aparelhos reveladores de submarinos e aviões, de alça-de-mira e periscópios; sircônio, para as munições, óleo de mamona, para motores de grandes velocidades; cânhamo, para cordas; couros, de aplicação em aviões, tanques e navios; paina, para salva-vidas e crescente quantidade de borracha. Além dessas contribuições materiais que servirão para apressar a decisão final da guerra, o Brasil traz não menos valiosa contribuição moral, que se fará refletir dentro e fora do hemisfério.
"O secretário de Estado dos Estados Unidos, o Sr. Cordell Hull dirige uma vibrante mensagem ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Dr. Osvaldo Aranha, nos seguintes termos: "Hoje declara o Sr. Hull – um golpe formidável foi desferido contra as nações do Eixo, golpe moral e militarmente, quando uma grande nação pacífica e respeitadora dos tratados, vê se forçada a recorrer às armas em sua legitima defesa contra atos não provocados, de inominável barbarismo. Não foi, para meus compatriotas, surpresa alguma haver a digna nação brasileira preferido os riscos e dissabores da guerra, quando confrontada com a ignomínia de ataques á sua dignidade e soberania. O ato das potências do Eixo, ao atacar vosso país e seu brioso povo é mais uma demonstração de que essas potências atacarão qualquer nação pacífica, a despeito de considerações de humanidade e do direito do mundo. "O fato também vem realçar o princípio básico no qual se apóia a solidariedade das Repúblicas Americanas – Isto é, que um ataque contra qualquer uma delas é um ataque contra todas".
Apesar da criação da Liga das Nações, em 1919, o equilíbrio do poder foi rompido pela ascensão ao poder dos chefes nazistas e fascistas, como Hitler, na Alemanha, e Mussolini, na Itália. A paz foi rompida quando, apesar dos pactos anteriormente assinados, Hitler invade a polônia em 1º de setembro de 1939. Tradicionalmente, o Brasil guardaria uma neutralidade no conflito, não fossem dois acontecimentos importantes: em primeiro lugar, o ataque japonês a Pearl Harbor, em 1941; pelos compromissos assumidos pelas nações americanas (Pan-americanismo), o Brasil declara cortadas as relações diplomáticas com as potências do Eixo: (Alemanha, Itália e Japão); em segundo, o torpedeamento de navios brasileiros por submarinos alemães o que levou o Presidente Getulio Vargas a decretar o estado de guerra a 22 de agosto de 1942.




LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 06





MERCANTES TORPEDEADOS.
Foram 32 navios mercantes brasileiros torpedeados por submarinos do "Eixo"; eles conduziam, em geral, cargas de um porto para o outro em serviço de cabotagem, pela costa. O "Baependi" que vinha para o Nordeste transportava parte de uma unidade do Exército, o 7º Grupo de Artilharia de Dorso, comandada pelo Major Landerico de Albuquerque Lima. "Das 306 pessoas que se encontravam a bordo, entre passageiros e tripulantes, inclusive o Comandante, pereceram 270, sendo 215 passageiros e 55 tripulantes. Entre os passageiros desaparecidos figuram o Major Landerico, três capitães, cinco tenentes, oito sargentos e cento e vinte cinco cabos e soldados.
No ano de 1941, quando o Brasil era neutro, dois navios nacionais desapareceram misteriosamente e ambos não estão computados nas estatísticas abaixo. Foram o "Imediato João Silva" e o cargueiro "Santa Clara".
"O navio "Santa Clara", desapareceu em condições inexplicáveis, nas proximidades das Ilhas Bermudas. Navegava o navio nacional com comandante e imediato de nossa Marinha de Guerra, trazendo valiosa carga para o Governo Federal. Toda sua tripulação foi dada como perdida, não sendo possível ao governo identificar a verdadeira causa da ocorrência, presumindo-se como conseqüência da campanha submarina. O navio vinha sob o comando do Capitão-de-Corveta José D' Alibert Siqueira Thedim.
São os seguintes navios torpedeados: 1) Cabedelo, 2) Buarque, 3) Olinda, 4) Arabutã, 5) Cairu, 6) Parnaíba, 7) Comandante Lira, 8) Gonçalves Dias, 9) Alegrete, 10) Pedrinhas, 11) Tamandaré, 12) Piave, 13) Barbacena, 14) Baependi, 15) Araraquara, 16) Aníbal Benévolo, 17) Itagiba, 18) Arará, 19) Jacira, 20) Osório, 21) Lages, 22) Antonico, 23) Porto Alegre, 24) Apolóide, 25) Brasilóide, 26) Afonso Pena, 27) Tutóia, 28) Pelotaslóide, 29) Bagé, 30) Itapagé, 31) Cisne Branco, 32) Campos.
A "Covardia" dos submarinos nazistas atingia os extremos do incompreensível. "Até uma barcaça à vela, "Jacira", que negava de Belmonte para Salvador, transportando cacau, piaçaba, caixas com garrafas vazias e um caminhão desmontado, fora posta a pique por três tiros de canhão. Vinha sob o comando do mestre de pequena cabotagem Noberto Hilário dos Santos, seu proprietário".

Assim, a guerra deflagrada na Europa, em 1939, logo cedo veio bater às nossas portas. O mundo parecia periclitar num caos de conseqüências imprevisíveis. Era época do nazi-facismo e do expansionismo germânico; guerra puramente de conquista e também o mito da super-raça ariana e a invencibilidade nazista.



Em meio às espantosas violações das leis de guerra e aos crimes praticados pelosas nazistas, avultam os atentados á nossa soberania. Nossas águas territoriais eram flagrantemente invadidas e violadas por submarinos alemães, incursões estas feitas a titulo de represálias, mas, na verdade, eram métodos puros e simples de "guerra total" para alcançar vitória o mais rápido possível, com emprego dos meios mais desumanos.
O internacionalista Professor Mário Pessoa ressalta com bastante ênfase no seu livro de Direito Internacional Moderno, o fato de que, no começo do conflito, dois atos de cavalheirismo denotavam que a guerra iria ser conduzida com lealdade, o que infelizmente não foi confirmado. "O primeiro ato de cavalheirismo ocorreu por ocasião da batalha naval de Punta Del Este, entre o couraçado de bolso alemão "Admiral Graf Von Spee" e a flotilha de cruzados britânicos Ajax, Achilles e Exeter. Após o combate, o vaso de guerra alemão recolheu-se avariado ao porto neutro de Montevidéu, com cerca de trinta mortos a bordo, afora os feridos. No momento em que eram sepultados os marinheiros germânicos no cemitério da capital uruguaia, compareceu a marinha britânica, fazendo se representar por uma turma de oficiais e marinheiros, que ofereceu grande coroa mortuária, na qual se encontrava uma inscrição, exaltando a bravura e a tradição da Marinha de Guerra adversária. O segundo exemplo ocorreu na guerra européia no começo de 1940 ou 1941. Caíra prisioneiro dos alemães um bravo aviador britânico, herói das duas conflagrações, que, na aterrissagem forçada que fizera, perdera uma das pernas metálicas resultando duma amputação, na Primeira Guerra Mundial. A "Luftwaffe" em dia predeterminado, consentiu que uma esquadrilha inglesa viesse trazer ao herói aprisionado um outro exemplar das pernas metálicas, procedendo-se a operação sem qualquer ataque de ambas as partes".
Tais atos de cavalheirismo não foram confirmados posteriormente; pois torpedear navios de cargas e de passageiros e depois metralhar os sobreviventes e uma extrema desumanidade.
Era um inimigo terrível que tivemos de combater. Eles vinham sorrateiros e "covardemente", muitas vezes na calada da noite e afundavam nossos navios. Sim, perdemos 32 navios mercantes; frieza desse número é bem expressiva; chega a tocar a nossa sensibilidade e a inspirar o respeito que sempre devotamos aos companheiros da Marinha Mercante e muito especialmente à Marinha de Guerra do Brasil, gloriosa Marinha de Tamandaré, Barroso e Marcílio Dias.

LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 05


O INIMIGO INVÍSIVEL.
Seis meses antes de entrar em guerra, o Brasil já sofria as primeiras perdas. A partir de fevereiro de 1942, os submersíveis do eixo, em desenvolta ação no Atlântico, passaram a atacar os navios mercantes brasileiros, afundando-os impiedosamente. Nossa Marinha de Guerra já estava engajada na luta contra o inimigo invisível.
Em 1943, foi adotado o Comando Único Aliado para as operações estratégicas na área do Oeste do Atlântico Centro-Meridional, ficando a Marinha de Guerra Brasileira representada entre as forças marítimas integradas nesse esquema: Coube a Força Naval do Nordeste, comandada pelo Contra-Almirante Alfredo Carlos Soares Dutra, incorporar-se à 4ª Esquadra dos Estados Unidos da América, comandada pelo Vice-Almirante Jonas Howard Ingram.
Em sua missão de patrulhamento do litoral brasileiro e a tarefa de proteger os navios mercantes do litoral brasileiro e a tarefa de proteger os navios mercantes aliados, a Marinha de Guerra do Brasil teve saliente papel: realizou 251 comboios, sendo 181 em águas brasileiras e 70 em águas estrangeiras, tendo perdido três belonaves, o navio auxiliar Vital de Oliveira, a corveta Camacuã e o cruzador Bahia, que afundou ao termino da guerra, com perda total de 466 homens, entre oficiais e praças. Dos 32 navios mercantes afundados, pereceram 502 tripulantes e 473 passageiros, entre homens, mulheres e crianças.
A utilização, pelas forças Americanas das bases aeronavais do Recife e de Natal representou valiosa cooperação, não só para o desembarque dos aliados na África do Norte, ainda 1942, com o desenvolvimento das operações nessa região e a neutralização do poder ofensivo das forças navais do Eixo no Atlântico Sul, durante o resto do conflito. "Na defesa da costa brasileira, a Marinha de Guerra do Brasil, que nas águas do Nordeste, área mais infestada pelos submarinos inimigos, empenhava dois cruzadores, o Rio Grande do Sul e o Bahia, 11 contra-torpedeiros, 8 corvetas, o couraçado Minas Gerais e no porto do Recife, e o São Paulo, para a defesa fixa dessas cidades".
A participação também da Força Aérea Brasileira, na campanha anti-submarina e a proteção à navegação marítima, decorreu antes da declaração de guerra do Brasil ao Reich em 22 de agosto de 1942. A FAB havia reforçado os seus efetivos nas bases aéreas do Ibura, próximo do Recife, e Parnamirim, em Natal.
O atrevimento do inimigo intensificou nossa vigilância aérea, culminando em 22 de maio de 1942, entre o Arquipélago Fernando de Noronha e as Ilhas Rocas, com ataque a um submarino e afundamento de outro, o U-199, em 31 de julho de 1943, aprisionando 12 sobreviventes, incluindo o comandante. Participávamos ativamente do conflito. Apenas com pouco mais de um ano e meio de criada a jovem entidade militar, arcava com tremendo encargo. Mas, tínhamos motivação e fé. Como esclarece o Exmo. Sr. Tenente-Brigadeiro Nelson Freire Lavenére Wanderley: "Para a mais jovem das Forças Armadas do Brasil, recém criada, o impacto foi terrível. A responsabilidade que lhes foram impostas, no gigantesco e duplo esforço de desenvolvimento e de operações de guerra inadiáveis que surgiram ao longo do litoral, obrigando a Força Aérea Brasileira a uma atividade febril para consolidar a sua organização, para desenvolver sua infra-estrutura, para formar e adestrar seu pessoal, para receber e operar adequadamente mais de quatro centenas de aviões de toda espécie, alguns altamente complexos, recebidos durante os três anos que ainda durou a guerra e, finalmente, para enfrentar numa luta de vida ou morte, poderosos inimigos, já veteranos".
Milhares de missões foram executadas pelos homens da FAB na frente marítima do Atlântico-Sul; missões estas em que participei de umas cinco ou seis, se não me falha a memória, se bem que como simples observador. Mas, foi uma dessas surtidas que desapareceu para sempre no oceano um "North-American", pilotado pelo Aspirante Aviador Bandeira Duarte e o Sargento Mecânico Raul Ferreira de Melo Júnior, este da minha turma; fato bastante lamentado por todos aqui na Base do Recife. Durante muito tempo acreditou-se na possibilidade de que fora abatido por algum submarino nazista e estavam prisioneiros dos alemães.
O Exército concentrou numerosas unidades no Recife, Natal e Campina Grande. Já antes disso instalara no Arquipélago de Fernando de Noronha um destacamento misto, compreendendo unidades de Infantaria, Artilharia e contingente de Engenharia. Os canhões de um Grupo Móvel de Artilharia de Costa e as baterias antiaéreas do ½º RAAAé – Regimento de Artilharia Antiaérea – tinham por missão defender de uma possível incursão inimiga as estratégicas ilhas. Com a ocupação da África do Norte pelos Aliados, desvaneceu-se tal perigo, mas passou Fernando de Noronha a representar mais um trampolim para a África.
Ali pousaram em escala para Dakar, numa pista construída em tempo recorde pelos norte-americanos no decorrer de 1943, os quadrimotores B-24, Liberator, de bombardeio, e vários outros, de transporte. Aviões PBY "Catalina" e bimotor Veja-Ventura davam proteção ao arquipélago. Sobre o papel desempenhado no arquipélago pelos soldados brasileiros, descreveu o Marechal Tristão de Alencar Araripe, que, como General comandava o destacamento: "Lá o vimos sob o Sol escaldante, à chuva e ao vento, de calção e tronco nu, transformando em jangadeiro, pontoneiro e estivador... Relata a extrema dificuldade de abastecimento, diante da intensificação da ofensiva submarina inimiga, e a penúria de alimentação e água: a água para beber vinha das antigas cisternas, velhos algibes do tempo do presídio, e de poços de pequenas profundidades. Era pesada e salobra, e não chegava para matar a sede. A pequena capacidade dos algibes e poços abrigavam o racionamento do liquido indispensável... O corned beef foi por meses a alimentação essencial da ilha, e, por isso, criou-se-lhe ódio... A falta de cigarros, o suplicio dos fumantes... A nostalgia, a neurose da solidão e da saudade contribuíram para desajustamentos profundos em muitos jovens.
No cemitério do Alto da Floresta, em Fernando de Noronha, há sepultado um punhado de bravos anônimos... "A disenteria e o beribéri ceifaram muitas vidas".
Esta ação contra um inimigo invisível é que ficou mais conhecida como a guerra da praia. Esses ex-Combatentes do litoral, da Marinha, Exército e da Aeronáutica, que não tiveram a ventura de atravessar o Atlântico, são merecedores do respeito e admiração do povo brasileiro, vez que contribuíram para a vitória aliada.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

LEMBRANÇAS E RERLATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 04


ESTAGIANDO EM NATAL

Com o término do curso houve distribuição do pessoal recém – formado. Optei pela minha classificação para servir no Recife, Pernambuco, meu Estado Natal. Havia uma expectativa de guerra com a chagada de tropas americanas para nos ajudar na defesa do litoral. O clima era tão tenso, que houve "Black-out". Aqui havia sido construída uma das grandes bases americanas, como em todo o Nordeste. Alojamentos, oficinas, armazéns de suprimentos de materiais, hangares, conjuntos residências ao longo da praia de Piedade, hospital, aumento e alargamento da pista de pouso, tudo foi edificado para defender às necessidades norte-americanas e brasileiras.

O Brigadeiro Eduardo Gomes comandava a 2ª e 1ª Zonas Aéreas ( Norte e Nordeste do Brasil); cumulativamente com as Rotas Aéreas, função que exercera quando Coronel.

Dias após a minha apresentação, por ordem do Comando segui para Natal juntamente com outros companheiros de turma com finalidade de fazer um estágio na base americana; deveríamos nos ambientar com moderno material, conhecer novas técnicas e os mais variados tipos de aviões usados pela Força Aérea Norte-Americana. Aquela enorme base de Parnamirim em Natal era uma beleza para nossas vistas. Os aviões se alinhavam de acordo com seu tipo e emprego. Aviões de caça bombardeio leve, médio e pesado; de transporte de cargas e tropas, havia os P-38, B-25, B-26, A-20, Hudson, Lodestar, C-46, C-47, B-24 e a fomosa Fortaleza Voadora B-17. Observei um bando de Liberators, B-24 e espantei-me de como um aparelho tão bonito no ar, pode ser feio e desajeitado no solo. Era um enorme e possante quadrimotor, triciclo de deriva dupla.

O nosso treinamento era integrado com os americanos, fazendo parte das equipes de manutenção de aviões de vários tipos. Eles nos tratavam muito bem e tinham prazer em nos ensinar tudo sobre aviação moderna. Eram pacientes conosco e se esforçavam para nos entender.

A base de Natal fava a impressão de uma grande cidade. O Tráfego de aviões era intensíssimo, quase não se podia dormir com o barulho dos motores dos aviões que aterravam e decolavam constantemente. Durante o período de um ano e meio, desde que o Brasil declarou guerra ao Eixo, grande foi o desenvolvimento da rede de aeródromos em todo território brasileiro Mas, de todas as bases aéreas, nenhuma foi tão importante quanto a de Parnamirim, em Natal. Tornou-se, desde o início, a base fundamental do sistema de segurança e da defesa do Hemisfério, na América do Sul; depois com os acontecimentos desenrolados no Norte da África contra o Deutches Afriks Korps do Marechal Rommel, passou a desempenhar o papel de trampolim para o envio de pessoal, cargas e equipamentos, para as mais diversas partes das frentes de operações de além-mar. Assim, por ser ponto mais a Oeste do continente Sul-Americano, Natal era o ponto de contato aéreo com a´África, a 1.260 milhas de distância, com a Itália, com o Oriente - Próximo e com o Extremo-Oriente, com a Rússia e a Índia.

No período movimentado de 1942/1943, a Base de Parnamirim foi visitada por ilustres personagens, entre as quais, o primeiro Ministro Winston Churchill, o General Marshall, o Ministro da Marinha dos Estados Unidos Knox, Chiang Kai-Shek, etc. Foi também o local do histórico encontro entre os Presidentes Roosevelt e Getúlio Vargas, a 28 de janeiro de 1943, quando o grande estadista norte-americano, regressava da Conferência de Casablanca; presente na ocasião, entre outras autoridades, o Embaixador Jefferson Caffery, Almirante Ingram e o General Osvaldo Cordeiro de Farias.

Diariamente, aviões cargueiros e de guerra, que se dirigiam para as frentes de combates, faziam paradas em Natal para reabastecimento de combustível e para repouso de suas tripulações antes de iniciarem o vôo de travessia do Atlântico. Os aviões de transportes chegavam carregados de peças sobressalentes, de instrumentos, de medicamentos e plasma sanguíneo necessários aos exércitos em ultramar. Pelas Bases brasileiras passaram aviões e abastecimentos que contribuíram para a vitória dos aliados na África e para seu subseqüente controle da parte central do Mediterrâneo.

Foi no Brasil ainda, que outros aviões levantaram vôos com carregamentos de matérias-primas destinadas a abastecer as indústrias bélicas nos Estados Unidos da América.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

LEMBRAÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 02


ACONTECIMENTOS PRELIMINARES

A Segunda Guerra Mundial decorreu, entre outros fotores, das condições drásticas impostas à Alemanha, vencida na primeira, pelo Tratado de Versalhes e da pusilanimidade ou conveniência de se consequência à derrota militar viu-se o Estado Alemão transformado numa república eivada de dificuldades, resultantes da ocupaçao do seu território por tropas dos exércitos vitoriosos e da desorganização de sua economia, assim como do caos a que chegou sua política interna.

Subjugado, naturalmente, surgiu o desejo de desforra. Sob essas condições, nasce em Munique, organizado por Adolf Hitler, austríaco de nascimento, o Partido Nacional Socialista, que entre outros princípios, defendia o extermínio dos judeus; a participação do Estado no lucro das gransdes empresas; pena de morte para os aproveitadores da dissolução econômica e a criação de um Estado Totalitário.

Em 1930, vitorioso nas urnas, aquele partido conquista a maioria no Parlamento. Era a ascensão do nazismo e início da escalada de Hitler ao poder. em 1933, o Marechal Hindenburgo, desde 1925 na presidência da chamada República de Weimar, encarregou Von Papen de formar um gabinete, chefiado por Hitler. Nascia assim o Estado Totalitário Alemão, o famigerado 3º Reich.

Investido no poder, auto-intitula-se FUHRER e passa a materializar seus ideais pangermânicos e seus desatinos genocidas, convocando eleições imediatas, dissolvendo os partidos políticos - menos o Nacional Socialista, é claro - fechando sindicatos, colocando, sob as vistas da GESTAPO, as forças morais, intelectuais, educacionais e religiosas, inclusive cientistas, e enchendo as prisões com socialistas de esquerda, comunistas, etc. e de judeus e outras minorias raciais.

Seus discursos inflamados, tendo como motivação a crise econômicas e financeira que trazia a depreciação da moeda, a inflação, o desemprego, a caristia de vida, a especulação comercial e a corrupção administrativa e, mais a humilhação imposta pelo Tratado de Versalhes, a ocupação estrangeira, a perda das colônias e a ação do capitalismo internacional habilmente explorado por ele e seus sequases; empolgavam o sentimento nacionalista e contribuíam para o fortalecimento do nazismo.

Assim, no ano de 1935 Adolf Hitler restabeleceu o serviço militar na Alemanha, desafiando o Tratado de Versalhes, iniciando a restauração do poder militar germânico. Nesse mesmo ano, Mussolini lançou os exércitos italianos na invasão da Abissínia. Uma conquista brutal e vergonhosa, dado a inferioridade das armas daquela nação.

A liga das Nações, organismo internacional de então, formulou um protesto representado por 50 Estados Menbros, mas Mussolini, o DUCE, não modificou seus planos. No ano seguinte, 1936, Hitler determina a ocupação da Remânia. Naquele ano, rebentou a guerra civil na Espanha, chefiada pelo General Francisco Franco com auxílio de Hitler e Mussolini, os quais tinham interesses na vitória daquele governo. Dois anos depois, 1938, as forças alemães invadem a Áustria, que foi em seguida anexada ao Terceiro Reich; no mesmo ano, na cidade de Munich, Chamberlain, Chanceler Inglês, Deladier, Chanceler Françês, Mussolini e Hitler assinaram um acordo sobre a entrega de território dos Sudetos à Alemanha.

Em 1939, Hitler apoderou-se do resto da Thecoslováquia (Boêmia e Moravia) violando o acordo de Munich, assinado seis meses antes; ainda no mesmo ano apodera-se do território de Memel, que era administrado pela LItuânia. Von Ribbentrop, Ministro das Relações Exteriores da Alemanha, envia uma proposta ao governo polonês sobre a reintegração da cidade de Dantzig e do corredor polonês ao Reich. A Inglaterra e a França asseguram à Polônia uma ajuda militar no caso de agressão e em seguida Hitler e Mussolini firmaram o Pacto de Aço ( Alemanha e Itália).

Na madrugada de 7 de abril de 1939, as forças italianas invandem a Albânia, que passaria a servir de base às futuras ações do eixo, Roma-Berlim-Tóquio, nos Balcãs. Em agosto do mesmo ano, Von Ribbentrop, visando afastar as possibilidades de uma guerra em duas frentes, assinou em Moscou o Pacto Germano - Russo, restituindo à Rússia os Estados Bálticos e a repartição da Polônia. Ainda em 1939 forças militares alemães invadem a Polônia e a cidade de Dantzig era incorporada ao Reich. A Grã-Bretanha protestando, envia um ultimato a Hitler declarando o estado de guerra entre os dois países se o governo não dessa ordem para suspender a ação agressiva contra a Polônia. Seguindo a linha tomada pela Grã-Bretanha, também o governo francês declarou a existência do estado de guerra entre a França e a Alemanha, em face da agressão germânica dirigida contra aquele país, a despeito dos compromissos de renúncia à guerra assinada anteriormente pelos dirigentes do Reich.

Assim, estava iniciada a Segunda Guerra Mundial, empreendida pela Alemanha e seus aliados, para a conquista de objetivos que lhes asseguravam o domínio do mundo.

As áreas ainda não atingidas assistiam perplexas ao desenrolar dos acontecimentos.

domingo, 24 de janeiro de 2010

LEMBRAÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 01


APRESENTAÇÃO

Há tempos vinha sentindo desejo de passar para letra de forma a história desenvolvida neste relato, sobre o feitos heróicos dos componentes do 1º Grupo de Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira, na Segunda Guerra Mundial.

Durante alguns anos fiu anotando com cuidado, circustâncias e eventos dos quais participei como protagonista e espectador, envergando a farda daquela vitoriosa corporação, sob céus outros, além dos nossos, no canal do Panamá, nos estados Unidos e, por fim, nos campos de combate da península italiana.

Consciente da revelação sobre a minha personalidade e se dirigir à inteligência do público esclarecido, e que, assim compreendido, deve consubstanciar uma realização útil, na forma e no conteúdo, hesitava ante minhas limitações.

Engajados na defesa da Democracia, ameaçada pelas forças nazi-nipofascista, elevando bem alto o valor do homem brasileiro, e a Bandeira do Brasil, nos campos de batalha italiano, ofereceram contribuição inestimável para o desmantelamento daquelas hordas.

Escrevo com sangue,suor e lágrimas, páginas dignas da História do nosso País. Embora outros tenham encontrado na morte a exaltação de suas próprias vidas. Feitos que nunca serão demais contar e recontar para edificação das gerações mais novas.

Voltando-me orgulhosamente para o passado, no meu dia-a-dia de Oficial da Reserva, entre os meus antigos e estimados camaradas, rememorando ou sob minha atual condição de professor, entre colegas docentes e meus jovens alunos, curiosos e sedentos de detalhes, satisfazendo-lhes a curiosidade oralmente - e cada vez aumentando em mim, aquele desejo, estimulado decisivamente pelos meus companheiros e pela riqueza a quem leciono. Resolvi, assim, escrever e publicar minhas lembraças na internet. É minha contribuição pessoal, um subsídio a mais, que quem inserir na História do meu gloriosos 1º Grupo de Caça.

Gilberto Affonso Ferreira Paiva

sábado, 23 de janeiro de 2010

A MARINHA ALEMÃ - Parte 01

DESPREZANDO SEU PODER ARMAMENTISTA
Hitler era de mentalidade terrestre, como pensavam alguns estudiosos em relação ao seu caráter, e ele não tinha a ambição de possuir uma grande armada. Assim dentro da Wehrmacht, as forças armadas alemãs, a Krisgsmarine não teve benefícios comparáveis aos do exercito ou da Luftwaffe durante a grande fase expansionista de 1935 à 1939.

Tudo muito natural, embora Hitler não ignorasse o papel que o poderio marítimo desempenhava na política da Grã-Bretanha ou Estados Unidos o que desempenhava na política alimã na época do Kaiser. Ele não considerava que esse papel fosse aplicável à estratégia que esse papel fosse aplicável à estratégia que planejara para o Terceiro Reich. A estratégia seria basicamente terretre, destinada a garantir, para a alemanha, a posse do continenteeurasiano, e o poderio marítimo não poderia contribuir com muita coisa para a sua realização. Por outro lado, as grandes potências - Inglaterra e USA, poderia fazer muita coisa, se assim o desejassem, para desfrutar sua estratégia. Portanto a intenção de Hitler era evitar o conflito com ambas.

Nos anos que antecederam a guerra os poderosos e excelentes navios das classes Scharnhorst e do Bismark, onde estes daria a alemanha na guerra, uma potente força de ataque marítimo de superfície. Hitler tomou uma decisão antes da guerra, quanto a estratégia naval, de criar uma pequena força, porém bem selecionada, de supercouraçados que alnçariam pelas grandes rotas marítimas, assim que a marinha britânica estivesse tenuemente espalhada para proteger as rotas comerciais, a fim de perseguir e destruir seus opositores, dispersos e, portanto, enfraquecidos.

Mas a guerra começou cedo demais para a marinha alemã. A frota não estava no todo, suficientemente preparada para iniciar incursões, como ficou registrado na batalha do Rio do Prata, que terminou a destruição do encaroçado de bolso Graf Spee, e mais tarde 02 destróieres perdidos, durante a operação de apoio ao exército na Noruega.

A frota de submarinos também não tinha condições para iniciar de imediato a campanha de destruição sistemática dos navios mercantes, mas a captura de portos franceses em 1940, modificou todo esses panorama. Repentinamente o programa de construção de submarinos atingiu novo ponto culminante e houve oportunidades, numa escala sem precedentes para a guerra submarina.

Na verdade, a frota de superfície teve as mesmas oportunidades, mas foi incapaz de aproveita-las, porque, alcançar os portos franceses vitais, era preciso atravessar a rede formada pela armada real Britânica. Um exemplo disso foi o Bismark que, na primavera de 1941, embora conseguisse romper o bloqueio naval britãnico, foi caçado até seu afundamento.

Hitler cansou da estratégia das grandes belonaves dos seus almirantes. Os cruzados de batalha Scharnhorst e Gneisenau humilharam a marinha britânica, ao passar pelas defesas do Canal da Mancha, em 1942. O Supercouraçado Tirpitz exercía influência nas operações navais em seu ancoradouro, nos fiordes noroegueses, porém o afundamento do Bismark comprometeu o papel da frota para desempenhar em alto mar.

Se não fosse a inflexível tendência de Hitler para a estratégia terrestre, muita coisa poderia ser diferente. Uma esquadra de Bismark protegida por aviação própria, poderia ter varrido os mares do norte.