domingo, 12 de setembro de 2010

LINHA MAGINOT

A LINHA MAGINOT

Uma enchente do rio carrega algumas manchas: os estados maiores procuram uma linha reta para fazê-las afundar pelas casamatas da margem, sem que os projéteis atinjam a margem alemã. Soldados alemães trabalham a todo risco, sob painéis, prometendo que não atirarão em primeiro lugar. Um Fieseler-Storch faz sua ronda, com um Ruído de motocicleta enrouquecido, alto-falantes gritam que os ingleses se baterão até o último francês. Ninguém tenta dispersar os trabalhadores, abater o avião ou fazer calar essa voz destrutiva do moral. Esquisita guerra! Exércitos contendo centenas de milhares de homens terminam assim sua prestação de contas cotidiana.

O front, se é que se pode empregar essa palavra pomposa, caiu em letargia. No dia 12 de setembro, a ofensiva em favor da Polônia foi detida, porque já não mais havia Polônia. A 30 de setembro, decidiu-se a retirada das forças para território francês. Em 16 de outubro, porque Hitler ordenara libertar o território alemão, as retaguardas, foram dispensadas. Para ficarem à altura, os franceses evacuaram, espontaneamente, o saliente de Forbach, onde se encontram suas mais produtivas minas de hulha. O primeiro dogma de sua religião militar estritamente defensiva era não se bater em duas frentes. Conseqüentemente, tudo está subordinado à defesa da Linha Maginot, principal posição de resistência, onde a guerra será ganha, contendo o assalto inimigo.

À opinião francesa, a Linha Maginot inspira uma confiança religiosa. Mas o menos importante oficial de estado maior, em gozo de um mínimo de independência de espírito, conhece os defeitos desse imenso covil de raposa. É, realmente, uma linha, isto é, uma posição sem profundeza, sobre a qual só pode travar combate frontal. Os fortes se defendem mal e seus construtores ignoram a existência da aviação. Não tomaram em consideração o bombardeio de mergulho, que tanto pode vencer os couraçados terrestres quanto os couraçados do mar, nem o desembarque de tropas aerotransportadas sobre as superestruturas. Os obstáculos antitanque, constituídos por pedaços de trilhos, são fracos demais. Os parapeitos da artilharia são vulneráveis, os campos de tiro podem ser obstruídos por uma preparação de artilharia, enfim, o poder de fogo das obras é íntimo em relação à sua enormidade e a seu custo. A linha Maginot é um magnífico abrigo, mas um medíocre instrumento de combate. Diga-se que é impenetrável e absurda. A prova disso será feita depois de 10 de maio de 1940. Nesse dia, os alemães se apoderarão, em quatro horas, por meio de um assalto aéreo, do forte belga de Eben-Emael. Os oficiais do Estado Maior francês, reportando-se às suas notas de campanha, para apreciar o acontecimento, lerão a definição seguinte. O forte couraçado de Eben-Emael, pilastra norte da defesa de Liège, é comparável às obras mais poderosas de nosas fortificações do Nordeste.

O fato de que a Linha Maginot se detém em Montmédy escapou menos aos cérebros militares franceses do que a invenção do avião. Foram elaborados projetos para prolongá-la até o mar e reforçá-la numa segunda linha, disputando o acesso da Bacia Parisiense. Foi necessário renunciar a isso, não somente por motivos financeiros, mas principalmente porque o acabamento e a duplicação da Linha Maginot absorveram o Exército francês. As fortificações têm por objetivo economizar os efeitos e é um costume tão antigo como a guerra mantê-las por tropas de valor secundário. A Linha Maginot contrariamente exige para suas guarnições tropas numerosas e especializadas. Em Sain-Cry as listas de promoções não saem mais "na Legião", saem "dans Le béton". De Basiléia a Sedam, 21 divisões de elite se acumulam em subterrâneos. Imóveis e inutilizáveis fora de sua concha. Triplicar a extensão da Linha Maginot teria estendido essa paralisia a dois terços das grandes unidades.

Mas ainda não é tudo. Feita para defender, a Linha Maginot tem necessidade de ser defendida. A cada uma das divisões de fortaleza é preciso sobrepor uma ou duas divisões ditas de intervalo. A destreza insuficiente, a fraca mobilidade do Exército francês são ainda reduzidas por essa pesada servidão e, no entanto, o dogma da Linha Maginot é imposto como uma disciplina intelectual a toda a hierarquia militar. Aconteceu a um general moderar o entusiasmo do Duque de Windsor, de volta de uma visita à Linha Maginot; informado disso, pelo Duque, por ocasião de um almoço, em Vincennes, Gamelin pousou o guardanapo e foi ao telefone exonerar o herético do comando. Em média, a Linha Maginot se encontra a uma dúzia de quilômetros aquém da fronteira. Cada divisão de intervalo prolonga, para frente. Seu grupo de reconhecimento e um ou dois batalhões. Frágil cobertura que se subdivide em uma linha de concentração e uma cadeia de destacamento de segurança. Por fim, só esses grupos estão em contato, algumas vezes em completa quietude, outras em condições bastante severas. Dois ou três setores, como o de Apach, na vizinhança da fronteira luxemburguesa, ou a regiuão atormentada ao sul de Forbach, fazem exceção à trégua tática que os exércitos francês e alemão se permitiram. Os alemães fazem rápidas incursões de viavém, com cobertura do fogo de metralhadoras e de morteiros e, freqüentemente, tomam de assalto os postos. Os franceses limitam-se a armar emboscadas, nas quais se deixa prender, de quando em quando, um inimigo desafortunado. Com tal jogo, enquanto os franceses fazem 100 prisioneiros, os alemães fazem 3.000. O Comando explica que não deseja deixar-se arrastar na engrenagem de uma luta nos postos avançados. Só se combate em uma posição. O impressionantemente é o deserto que se estende entre os destacamentos de cobertura e a Linha. Toda a população foi evacuada, embora os alemães tenham deixado seus civis nas vizinhanças da fronteira. Nas aldeias, vergonhosamente pilhadas, falência da disciplina, mal se encontra um pequeno elemento da engenharia encarregada de fazer o jogo das destruições. Da mesma maneira que as aldeias, as cidades foram evacuadas, inclusive Estrasburgo, transformada em cidade do silêncio e severamente protegida por barragens de gendarmes, de tal maneira se teme que ela seja saqueada. Contidos no Sudoeste da França, os alsacianos e os lorenos acumulam um velho rancor contra os franceses que não podem admitir que franceses falem alemão.

E a chuva cai. E as perguntas se multiplicam. Essa guerra se, guerra não será um mal entendido? No dia 6 de outubro, em um discurso ao Reichtag, Hitler fizera propostas de paz, a França e a Inglaterra as repeliram, mas a trégua total nos combates dão a impressão de que conversações secretas estão em curso.

De resto, consolidara-se nos espíritos a idéia de que a Linha Maginot e a Linha Siegfried eram inexpugnáveis e de que o exército que se arriscasse a tomar a ofensiva seria destruído. Assim, o conflito só pode revestir-se das formas de uma luta ideológica e econômica. Seria pela propaganda e pelo bloqueio que Hitler iria ser posto de joelhos.

Nascida a dúvida e do tédio, uma imensa pregiça apoderou-se do exército francês. As sondagens feitas pelo controle postal pintam homens dóceis mas inertes e convencidos de que serão desmobilizados antes de haverem combatido. Os acantonamentos são em geral deficientes, mas a alimentação, regulamentar ou suplementar é superabundante. O exército francês come e bebe. Os oficiais, que regulamento alemão põe no regime do Goulashkamon, da cozinha rolante, vivem no luxo alimentar. Os quartéis generais são os últimos a de ter autoridade para censurá-los. Disputam-se os chefes dos grandes restaurantes parisienses e enviam seus carros de ligação a buscar trutas nos Vosges ou rodovalho em Boulogne. Uma das mais importantes cozinhas do G.Q.G. arrastará sua adega pelas estradas da derrota e a esvaziará, depois do armistício, em Montauban.

Adesculpa desse sibaritismo sob as armas era que o sangue não corria. Mal recuperada da hemorragia 1914-1918, a nação ficava reconhecida, por isso, ao comando. Essa segunda guerra de posição não repete as matanças absurdas, as lutas de gigantes por pedaços de terra, as ofensivas para o comunicado, da guerra precedente. Mas o exército francês deveria empregar a trégua que lhe concediam para se reforçar e se endurecer. Mas foi o contrário que aconteceu, o exército francês perdia a têmpera e amolecia.

No entanto, teve para instruí-lo uma lição gratuita. A Wehrmacht deu-lhe, na Polônia, uma exibição de seus processos de combate. Lição preciosa. Lição perdida.

Depois de outubro, o Deuxième Bureau empreendeu, espontaneamente, um estudo crítico da campanha da Polônia. Prisioneiro do conformismo militar francês, atento para não se chocar, muito diretamente com as idéias dos grandes chefes, não se elevou à simplicidade e à força das conclusões formuladas no outro campo, através de estudos análogos: falência completa da defesa militar linear, preponderância da rapidez sobre a ação do fogo, etc. Não obstante, enumerou com exatidão todas as características da nova guerra à maneira alemã. Monstrou que a vitória na Polônia havia sido trabalho quase exclusivo das divisões blindadas, cooperando com a aviação. Fez ressaltar que não havia apenas um, mas na realidade, dois exércitos alemães, um de infantaria-artilharia e um de tanque-aviação, cada qual operando com velocidade própria e independentemente do outro. Entretanto em pormenores, o Deuxième Bureau demonstrou a manobra das duas Panzerdivisionen: a 3ª forçando o ferrolho de Mlawa, mudando de rumo para varrer as margens da Narew, antes de descer para tomar Varsóvia pela retaguarda; a 5ª, desembocando da Eslováquia, varrendo a Galícia, indo apoderar-se de Lvov, a 300 km de sua base de partida, depois girando 120º para se abater, ela também sobre Varsóvia. Os efeitos do bombardeio de mergulho, sobre o moral da tropa, a utilização dos pára-quedistas, a paralisia dos movimentos militares causada pelas multidões de refugiados que enchiam as estradas, nada de essencial falta a esse importante documento. A lentidão de escoamento dessa papelada militar fará com que ele chegue, a certos estados maiores, durante a batalha de maio, a tempo de que possam confirmar seu fundamento. Só terá essa utilidade.

O Comando francês recusa-se a dar importância a esse ensinamentos da campanha da Polônia, Kriegspiel, na realidade. Os oficiais que empreenderam seus estudos estão discretamente desencorajados. O Trosième Bureau, autoridade decisiva, declara que não se poderia tomar o que se passara na Polônia como base de instrução do exército francês durante o inverno. As condições são por demais diferentes. Na Polônia, a Alemanha enfrenta um exército primitivo, mediocremente equipado, constrangido a guarnecer irentes desproporcionadas, em terreno desprovido de qualquer organização defensiva. Na frança, está enfrentando um exército moderno, comandado por um discíplo de Joffre, soberbamente equipado, instalado num campo de batalha bem dividido e bem isolado, apoiado no sistema de fortificação mais poderoso jamais construído, a Linha Maginot.

A maior prova de que na existe de comum entre as duas situações é que Hitler não ataca. Ele se atirara sobre a Polônia. Diante da França, espera.

A CHUVA PÕE HITLER EM XEQUE

A primeira ordem de ataque contra o exército comandado, equipado, fortificado, maginotado, fora assinada a 27 de outubro, pelo Fuhrer. A ofenciva deveria iniciar-se a 12 de novembro, um quarto de hora antes de nascer o sol.

A decisão de derrotar a França ainda em 1939 havia sido tomada antes mesmo do término da guerra na Polônia. Quando Hitler a anunciou aos principais chefes da Wehrmacht, a 27 de setembro, Varsóvia ainda resistia. Os generais recusaram tomar a sério uma intenção que lhes parecia desproporcionais aos meios de que dispunham. Foram necessárias muitas conferências na nova Chancelaria, a instrução nº 6 sobre a condução da guerra e, finalmente, a ordem de 27 de outubro, para convencê-los de que o Fuhrer cogitava mesmo de se atirar sobre a França, transportando para o Oeste os métodos de combate que no Leste haviam sido tão brilhantemente bem sucedidos.

Regressando da Polônia, pelas vias férreas ou rodovias, os exércitos alemães se encontravam no Reno. Brauchistch, conscienciosamente, visitou os quartéis generais. A unanimidade reinava neles, a ofensiva desejada pelo Fuhrer era uma impossibilidade e a ordem de ataque, para 12 de novembro, uma loucuras. Brauchitsch considerou que era seu dever de comandante chefe opor-se a eles.

O dia 5 de novembro era uma data importante. Devia-se decidir, ao meio dia, se a ordem de ataque seria ou não mantida. Brauchitsch apresentou-se, pela manhã à nova Chancelaria e pediu para ser recebido, a sós pelo Fuhrer. Hitler acedeu de má vontade. Brauchitsch começou pela leitura de um memorando em que reunira as considerações militares que desaconselhavam um ofensiva a oeste. O exército francês era forte demais. O exército alemão ainda não havia adquirido bastante resistência. Faltava-lhe artilharia pesada, faltavam-lhe as munições necessárias para atacar as fortificações francesas. Alcançada sobre um adversário fraco a vitória da Polônia não devia iludir ninguém. Devia ser utilizada a vantagem política que ela dava à Alemanha, para ser negociada, em boas condições, a paz geral.

Hitler no início escutara em silêncio enfadonho. A explosão veio quando o coronel general aludiu aos defeitos morais que a campanha da Polônia fizera aparecer no novo exército alemão, nascido do nazismo.

A infantaria, disse Brauchitsch não demonstrou o mesmo espírito ofensivo que teve na guerra precedente. Mesmo em certas divisões da ativa, atos de indisciplina foram assinalados.

Brauchitsch nada mais leu. Reapareceu, na ante sala, tão desfeito, tão trêmulo, que seu oficial ordenança pensou que ele ia desmaiar. Hitler precipitara-se sobre ele e arrancara-lhe o papel das mãos. Rasgara o documento e calcara aos pés os pedaços. Depois, chamara Keitel, Lakeitel, Keitel, o lacaio e, através da porta acolchoada, ouviram-no rugir contra a estupidez e a covardia dos generais.

Quando Keitel saiu, o ponteiro do relógio atingia a vertical do meio dia. O coronel de estado maior Warlimont esperava à porta do Fuhrer. Advertiu que o momento fixado para a confirmação da ofensiva já fora ultrapassado. No calor da indignação, Hitler e seu general doméstico haviam esquecido disso.

Keitel voltou à furna do leão. Dali saiu alguns momentos mais tarde, dizendo que a ordem para 27 de outubro fora confirmada. Quando Warlimont telefonou essa ordem ao estado maior de Brauchitsch, o oficial que recebeu a mensagem manifestou surpresa. Mas, disse ele o coronel general, foi expor ao Fuhrer por que a ofensiva é impossível. O coronel general respondeu Warlimont não conseguiu convencer o Fuhrer.

Brauchitch pediu demissão. Hitler respondeu-lhe perguntando se os soldados rasos, nas trincheiras, pedem demissão. Brauchitsch teve que permanecer no posto, para preparar planos que desaprovava.

O plano da ofensiva de 12 de novembro fora preparado pelo estado maior do exército (O.K.H.), a 19 de outubro. O exército alemão deveria penetrar nos três países cuja neutralidade, um mês antes, Hitler prometera respeitar: Holanda,Bélgica e Luxemburgo. O centro da gravidade, o schwerpunkt, era a região de Liège. A ala a marchar, formada pelos grupos de Von Bock (grupo B), devia conquistar as costas do mar do Norte, a fim de proporcionar à Marinha e à força Aérea uma base de operações aeronavais contra a Inglaterra. Um terceiro grupo ( grupo C), comandado por Von Leeb, manteria a frente pacífica, de Luxemburgo à Suíça.

Hitler estava parcialmente satisfeito. Eles calçaram as botas de Schlieffen dissera a seus dois palacianos, Keitel e Jodl. Havia-lhes explicado que o efeito de surpresa produzido, em 1914, pela extensão da ala direita alemã não podia repetir-se. Desta vez, o Comando francês esperava o ataque pela Bélgica. A fina-flor de suas forças estava disposta das Ardenas ao mar do Norte e seria a uma batalha frontal que uma reedição do plano Schlieffen se arriscaria a chegar.

Entretanto, Hitler deixou passar o plano da O.K.H. Embora dotado de verdadeira intuição estratégica, não tinha, disse o general francês Koeltz, a formação superior de estado maior que lhe permitisse expressar plana e imediatamente a idéia de manobra, nascente em seu pensamento.Na realidade, não era somente Hitler chefe de guerra, era Hitler, como general, que engendrava suas idéias em estado de nebulosa e depois as precisava numa alternância de meditações solitárias e de conversações descosidas. A intuição da penetração de Sedan lhe veio muito cedo, mas ficou por muito tempo em gestação, sob forma fluida, em torno de hipóteses instáveis.

O ultraje a Brauchitsch foi seguido, a 23 de novembro, por violenta repressão aos comandantes de exército, reunidos na Chancelaria. Conta Halder, Hitler ladrou contra os generais, não posso expressar-me de outra maneira.

Mesmo assim, alguns mantiveram sua oposição, e um deles, Leeb, chegou até a propor uma greve do Alto-Comando, para matar o projeto de ofensiva. Mas o hábito de obediência e o fatal juramento de fidelidade prestado ao Fuhrer acorrentaram a imensa maioria desses soldados.

É o céu que se encarrega de adiar a ofensiva a oeste. Hitler exige bom tempo para que o rendimento da força aérea e dos blindados seja digna do que foi durante o luminoso verão Polônes. Ora, o outono de 1939 é execrável. Novembro traz chuvas torrenciais. Os rios enchem e as inundações estendem, pelas planícies, grandes obstáculos aos tanques. As previsões meteorológicas anunciam enormes nuvens, vindas do Atlântico, prometendo novos dilúvios para os dias seguintes.

No dia 7, Hitler transfere para o dia 9 a decisão relativa ao ataque. E, novamente, para 13, depois para 16, depois para 20. Uma suspeita apodera-se do Fuhrer, exige que os boletins bi cotidianos sejam fixados pela Luftwaffe, uma vez que os generais de terra lhe parecem capazes de subornar os meteorologistas. Mas os homens barômetro da aviação não são menos pessimistas do que os da terra. Os adiamentos da ofensiva se sucedem, 27, e 29 de novembro, depois 4, 6 e 12 de dezembro.

Estranha guerra. A chuva cai, torrencialmente. Em seus péssimos acontonamentos, da Alsácia e das Ardenas, os homens se encharcam, sob a tempestade que não tem fim. A palha para os colchões apodrece nas granjas. Atingidos por misteriosa doença ou vitima da negligência dos seus condutores, os cavalos da artilharia morrem aos milhares. A intempérie é boa razão para que se cancelem os exercícios e para que sejam suspensos os trabalhos de organização do terreno. Os homens se unem nos botequins das aldeias e se entediam, entendiam, entendiam...

domingo, 29 de agosto de 2010

A AGONIA DO 6º EXÉRCITO


Deixou-se passar o Natal, para depois reduzir de 200 para 100 gramas a quota de pão. No dia 1º de janeiro, o serviço de saúde assinala as primeiras mortes por inanição. Está provado que o 6º exército não pode ser abastecido por via aérea. Para manter a promessa do chefe culposo, a Luftwaffe faz, em vão, um heróico esforço admitindo perdas que, contando 536 aviões de transportes, 149 caças e 123 bombardeiros, farão de Stalingrado uma batalha aérea tão dispendiosa quanto a da Inglaterra. As condições meteorológicas, contudo, são especialmente desfavoráveis, quando o céu se apresenta claro sobre Stalingrado, geralmente está nublado na região de Rostov, e vice-versa, de tal forma que o funcionamento da ponte aérea se vê entravado tanto na partida quanto na chegada. Como os russos haviam tomado Tazinkaia e Morosovskaia, os aeródromos de partida são transferidos para Salsk, Novocherassk e Cheretkovo, o que duplica a distância e reduz o rendimento dos aparelhos. A média diária de entregas, durante o cerco, não ultrapassará 94 toneladas, menos de um quinto do prometido a Georing.


A fim de conferir-lhe as folhas de carvalho da cruz de comandante, Hitler faz sair do bolsão o General Hube, Meu Fuhrer, diz Hube, o senhor mandou fuzilar vários generais do exército. Por que não manda fuzilar o general da Aeronáutica que lhe prometeu abastecer Stalingrado.


Esfuma-se toda esperança de libertação. Hoth batera em retirada, a princípio, passo a passo, com dor no coração, depois às pressas. O início de 1943 encontra o 4º exército blindado junto ao Kuberle, a 200 km de Stalingrado. É inapelável o abandono do 6º exército.


No bolsão, a situação é indescritível. A ração de pão está reduzida a 50 gramas. A gasolina é tão escassa que os únicos veículos autorizados a movimentar-se são as motocicletas com side-car. Os únicos feridos evacuados são os que tem força para arrastar-se até os aeródromos. A neve alteia-se em montículos, cadáveres de homens mortos de fome e frio.


A 8 de janeiro, uma bandeira branca flutua diante dos postos avançados. Três parlamentares soviéticos vêm oferecer a Paulus uma capitulação honrosa. Seguindo ordens de Hitler, Paulus a repele, determinando responder com fogo a qualquer nova tentativa de parlamentarão. No dia seguinte, os russos atacam. Os alemães defendem-se desesperadamente. O móvel da batalha é o terreno de Pitomnik, pelo qual se escoa a maior parte do tráfego aéreo. Os russos apoderam-se da área no dia 16. Agora o abastecimento s[o é possível pelo terreno ruim de Gumrak, tomado logo depois, e a seguir por meio de pára-quedas. Quatro quinto do bolsão foram perdidos. Os alemães são repelidos até o Volga, enclausurados em sua fatal conquista, as ruínas de Stalingrado. A 24 de janeiro, Paulus se comunica com Hitler. Não tem sentido, diz ele, o prolongamento da resistência. 18.000 feridos jazem sem assistência nos portões. O tifo alastra-se com virulência, esgotaram-se os víveres e munições. O comandante do exército solicita em conseqüência disso, autorização para capitular, e o comandante do grupo de exércitos, Manstein, apóia seu pedido em uma conversação telefônica de três quartos de hora com Hitler. Este permanece intratável. Proíbo qualquer capitulação. O exército deve resistir até a última bala. Seu heroísmo é uma inesquecível contribuição para o salvamento do ocidente.


No dia 25, os ataques russos recomeçam. No dia 26, o 62º exército reúne-se ao 21º, na colina Mamai. O 6º exército alemão é cortado em dois. Ao norte, o que sobra do 51º corpo entrincheira-se na fábrica de tratores. Ao sul, os despojos de quatro outros corpos amontoam-se no setor central da cidade, e Paulus instala seu último quartel general no subsolo da Univermag da Praça Vermelha. Com pressa para liquidar o inimigo, os russos bombardeiam furiosamente as ruínas de Stalingrado. Nenhum canhão responde , mas quando a infantaria tenta avançar entre os destroços, os últimos cartuchos barram-lhe o caminho.


No dia 30, Hitler nomeia Paulus General Feldmarschall. Nunca diz ele a Keitel, um marechal alemão se rendeu. O Fuhrer só espera um gesto do oficial que acaba de elevar à mais alta dignidade militar; o suicídio. Ignora que Paulus interditara precisamente essa porta de saída aos oficiais, ao dizer que deveriam compartilhar até o fim da sorte de seus soldados.


No dia 31, a luta se encontra praticamente terminada. Uma das últimas emissões radiofônicas do 6º exército descreve desta maneira a situação. Os soldados vagabundeiam, poucos ainda combatem, o comando não é mais exercido. Um momento após às 5h 45 min, os russos estão diante do bunker, vamos destruir o posto. Depois, por três vezes reped[tidas, o sinal C.L., significando: Esta estação encerra suas irradiações. Os russos alcançam efetivamente a univermag, cujo porão abriga o mais recente marechal, o primeiro marechal da derrota criado por Hitler. Ninguém atira. Um parlamentar soviético adianta-se e exige capitulação. É conduzido ao bunker, de onde sai um Paulus esquelético, quase indiferente. Sim capitula. Nada tem a acrescentar ao " Heil Hitler !" que proferira ainda na véspera. O modelo dos oficiais do Estado Maior parte em silêncio para o cativeiro.


Conhecemos, pelo texto estenográfico, as imprecações de Hitler. Há que matar-se com a última bala.... Desprezo um soldado que se rende, como Giraud... vinte mil pessoas se suicidam por ano na Alemanha e é absurdo que um general não seja capaz de fazer o mesmo que uma mulher ultrajada. Não farei mais marechais, o heroísmo de dezenas de milhares de soldados é manchado pela covardia de um só.. Verão que antes de oito dias os russos farão Paulus e Seydlitz falarem no rádio. Eles incitarão os homens do bolsão, incitarão toda a Wehrmacht a render-se.


Paulus nem teve tempo para incitar os homens do bolsão a render-se: os últimos deles capitularam a 2 de fevereiro.


Adolf Hitler se enganava igualmente em relação à data em que Paulus convidaria o exército e o povo alemão a depor as armas. O Nationalkomitee Freies Deutschland ( Comitê Nacional da Alemanha Livre) só foi fundado em 13 de julho de 1944, sob a presidência do Conde Bismarck-Enkel e do General Von Seydlitz. O Plebeu Paulus demorou-se mais do que esses nomes históricos a aderir à resistência alemã no exterior. Só deu esse passo depois de julho de 1944, quando soube do suplício a que foram submetidos alguns dos soldados por quem experimentava o maior respeito, como Witzleben e Hoeppner.


Paulus diz um de seus biógrafos, que tinha muita dificuldade em tomar decisões, e raramente distinguia o falso do verdadeiro. Os maiores talentos militares não teriam salvado o exército alemão da derrota em 1942, as deficiências pessoais de Paulus contribuíram para dar-lhe um caráter esmagador.

sábado, 28 de agosto de 2010

MANSTEIN ENTRA EM CENA

MANSTEIN ENTRA EM CENA



A fim de libertar o exército cativo, Hitler apela para seu mago militar, o estrategista que disputa com ele a glória do plano de Sedan , o artilheiro que esmagara Sebastopol, o idealizador das manobras que impediram o levantamento do cerco de Leningrado; Marechal de Campo Erich Von Manstein.


A tardinha do dia 21, em Vitebsk, Manstein recebe a ordem para assumir o comando do grupo de exércitos do Don. O despacho que determina sua missão revela a que distância da realidade se encontra o Alto Comando, e também a decadência a que chegara o pensamento militar alemão. Manstein deve sustar a ofensiva inimiga e restaurar as antigas posições exatamente da mesma maneira.


Manstein não se apressa. A correr o risco de um vôo entre as tormentas da neve, prefere viajar em seu trem de comando, só chegando no dia 24 a Starobelsk, Q.G. do grupo B, que deve desmembrar a fim de formar o seu. Ali ele avalia a gravidade da situação, o peso de seu encargo e a pobreza de meios de que dispõe para levá-lo a cabo.


Havia sido colocado sob as ordens de Manstein o 6º exército (encerrado em Stalingrado e preparado ao solo por ordem de Hitler), o 4º exercito blindado (reduzido à 16ª divisão motorizada), o 3º exercito romeno (que só apresentava intacta a ala esquerda) e o 4º exercito romeno (ainda mais mutilado do que o 3º). Dispõe ainda dos restos do 4º corpo blindado e do destacamento Hollidt, formado por um amálgama de tropas alemães, e romenas. E, finalmente, encontram-se a caminho do Cáucaso, e o 6º, a chegar da França, vai reconstituir ao sul de Stalingrado o 4º exercito blindado, encarregado de tirar Paulus do cerco. Uma outra a 17ª juntar-se-á posteriormente a elas.


Concentradas e repousadas, essas forças seriam insuficientes para a dupla tarefa de deter a ofensiva soviética s salvar o 6º exercito. Encontram-se, porém, fatigadas, incompletas e dispersas. Os reforços provenientes do Cáucaso e da França demoram-se em ferrovias desconjuntadas, com os homens a padecer o inferno do frio em vagões abertos aos quatros ventos. As outras unidades estão disseminadas por um campo de batalha de 800 km, que vão do Don, no qual Hollidt apóia sua ala esquerda, até a estepe calmuque, onde a 16ª divisão motorizada dá prosseguimento, no descampado. À missão de ligar o Cáucaso ao Volga. É um milagre que os russos parem no Tchir, diante de uma salada de exércitos formada por fugitivos detidos na debandada , membros da Luftwaffe, soldados do exercito de Paulus em licença, etc em vez de correrem até Rostov, onde barrariam as linhas de saída do grupo de exércitos A. Mas a metódica estratégia russa não quer passar o carro adiante dos bois, não avalia bem a deterioração do formidável adversário do ano precedente. O comando soviético poderia impor a Manstein uma batalha deses perada por Rostov. Deixa-lhe o vagar de fazer uma suprema tentativa por Stalingrado.


Esta tentativa suprema, declara o Marechal Eremenko, teria logrado bom êxito caso houvesse sido conduzido com audácia.


Até o dia 24 de setembro diz ele, só tínhamos forças de menor importância no setor de Kotelnikovo. O 51º exercito encontrava-se muito enfraquecido, e o 4º corpo de cavalaria representava uma densidade de menos de um pelotão por quilometro. Desde de 4 de dezembro, a 6ª divisão Panzer, completíssima e inteiramente repousada, uma vez que chegava da França, poderia ter aberto caminho até os sitiados. Uma vez mais, os adeptos de Hitler foram vítimas da rotina. Manstein nos deu dez dias de presente.


Manstein preparara de início uma engenhosa manobra. No ferrolho do Don, Hollidt deveria atacar para retomar Kalatch. O 48º corpo blindado, reconstituído com 2ª divisão Panzer, desembocaria da cabeça de ponte que conservara diante de Nijni-Tchirkaia, a fim de apoiar o ataque principal, levado a cabo pelo 47º corpo blindado, procedente da região de Kotelnikovo. O grupamento Hollidt, porém estava inteiramente absorvido pela defesa de Tchir e, ao invés de participar da ofensiva, o 48º corpo blindado é expulso da cabeça de ponte. Em lugar de uma pressão concêntrica, a tentativa para romper o cerco reduz-se a um solitário esforço do 57º corpo. Fixado para 2 de dezembro, o ataque é adiado para 8, depois para 12, devido a desesperante lentidão dos transportes.


Existe, além do mais, um conflito entre as concepções de Manstein e Hitler. O rompimento do cerco de Stalingrado é considerado pelos dois homens com objetivos inteiramente diversos.


O marechal quer recuperar o 6º exército para reintegrá-lo nas forças móveis da frente oriental. Vê sue escoamento pela brecha aberta, para reconstituí-lo na região de Rostov. Vê igualmente o grupo de exércitos A a retirar-se do Cáucaso até o Don. Tendo o conjunto de manobras reconstituído pela diminuição do teatro de operações, Manstein acredita ser possível dobrar a ofensiva soviética e talvez infligir ao exécito vermelho a tão esperada derrota decisiva. Aspira a dirigir o quadro da batalha e, quando demonstra a necessidade de um comandante-chefe na frente oriental, não há dúvida possível sobre a identidade do titular que tem em vista.


Ninguém contesta que Manstein seja o mais apto, talvez mesmo o único homem para desempenhar essa tarefa. A hora militar de Hitler já passou. Se é bem verdade que ele tivera no início da guerra, admiráveis inspirações. se é indiscutível que salvara as forças armadas durante o inverno de 1941-1942: se é fato verídico que o plano de sua campanha de verão representara a última oportunidade de evitar a derrota total da Alemanha, é igualmente verdadeiro que o Fuhrer constitui agora um imenso perigo para suas tropas, configurando-se em seu mais cruel inimigo. Apagou-se em seu cérebro todo e qualquer raciocínio estratégico, permanecendo apenas a vontade cega e feroz de manter tudo o que conquistara. Romper o bloqueio de Stalingrado não significa para ele a recuperação de um exército, para depois retomar a iniciativa das operações, mas unicamente a possibilidade de manter o pé fincado no Volga.


A marcha sobre Stalingrado tem uma brilhante estréia. Das duas divisões blindadas do 47º corpo, a 23ª, procedente do Cáucaso, está reduzida a cerca de quarenta tanques, porém a 6ª, procedente da França, encontra-se completa. O primeiro choque leva-a à passagem do monte Akssai, que franqueia no dia 13. À direita, não obstante sua fraqueza, a 23ª progride ao longo da ferrovia, na qual lograra acumular 3.000 toneladas de víveres e combustível para os sitiados. No dia 19, Mischkova é atingida. São cobertos 130 doa 180 km que separam do 6º exército o 4º exército blindado, e os libertadores vêem do céu as luzes dos projetores dos que defendem Stalingrado.


Manstein, entretanto não alimenta ilusões. Sabe que os acontecimentos a precipitar-se diante de Rostov só lhe deixam um limitado espaço de tempo para agir. A única possibilidade de salvação para o 6º exército consiste em ajudar-se a si mesmo, dirigindo-se com rapidez ao encontro de Hoth. Manstein ordena-lhe que o faça, multiplica as conversações radiofônicas com Paulus e, preocupado com as reticências deste, envia ao bolsão um oficial do estado-maior, o major Eismann que retorna confirmando o singular estado de espírito em que se encontravam o comandante do 6º exército e seu chefe de estado-maior. A tese destes era a de que não fora a troco de nada que se encontravam cercados, e, logo tinham direito de esperar pela libertação. Estimavam que a mobilidade da centena de tanques que lhe restava limitava-se a trinta quilômetros, aproximadamente, e dessa forma, sofreria pane, condenando-se à mais completa destruição caso atacasse antes que Hoth atingisse ao menos aquela distância. Eismann retruca vivamente que o risco que recusam correr nada é perto do de morrer de fome ou apodrecer na prisão. Paulus e Schmidt são inabaláveis, e quando Eismann invoca a autoridade do marechal Von Manstein, eles invocam outra ainda mais alta, a do Fuhrer.


E é realmente Adolf Hitler quem proíbe a saída da guarnição de Stalingrado. A Zeitzler, que a requer noite e dia, ele responde que considera o 6º exército praticamente fora de perigo, e que longe de admitir o abandono de Stalingrado, tem em mira a expansão de suas forças pelo Volga. Certo dia, acreditando tê-lo convencido, Zeitzler apresenta-lhe a ordem de abrir passagem, a fim de que a assine. Hitler assina, e depois e depois acrescenta de seu punho a seguinte condição que invalida tudo: " sob a expressa reserva de que o exército alemão continuará a manter a linha do Volga." Quanto ao mais, a situação é bem nítida. Uma nova catástrofe atinge as forças do Eixo e sela o destino do exército sitiado em Stalingrado.


Após a derrota romena. A frente situada a oeste do Don estabilizara-se aos poucos. Ela seguira o curso do rio até Veschekaia, dobrara em direção ao sul, alcançara novamente o Tchir, no qual se fundira até seu confluente, e reencontrara o Don ao norte de Potemkinkaia. Inteiramente enregelados, os cursos de água não apresentam o menor valor como obstáculo. As posições defensivas não inexistentes e, à progressão dos tanques a estepe opõe sua superfície coberta de neve. O termômetro baixa a -30º ou -35º C, para grande surpresa dos italianos, a quem seus aliados haviam garantido que o frio, no sul da Rússia, não ultrapassava jamais os 5 ou 6º C. Insuficientemente agasalhados, mal alimentados, os homens deperecem. Algunsas vezes, o sol faz magias na neve, mas o tempo normal é o de um nevoeiro gelado, que só desaparece para descobrir um céu plúmbeo.


Na direção leste-oeste, a frente é sustentada pelos restos do 3º exército romeno, o destacamento do exército Hollidt, o 8º exército italiano e o 2º exército húngaro. Ninguém ignora que o elo mais frágil dessa longa corrente é o italiano. Hitler se inquieta por causa dele, ao ver o relatório de 12 de dezembro, porém não existe nenhuma força alemã disponível para "cintar" as divisões do General Gariboldi. Estendendo-se por 270 km de frente, quatro corpos do exército italiano, o 29º, o 35º, o 2º e o alpino, esperam um embate cuja preparação é lida pelos estados-maiores como uma carta aberta.


O encontro ocorre no dia 16 de dezembro. O 1º exército soviético da Guarda cruza o Don em meio do nevoeiro e abate-se sobre o centro da frente italiana. A estepe é novamente invadida por massas em debandada. Uma testemunha, o general alemão Fretter-Pico, descreve o efeito surrealista produzido pelos bandos de soldados italianos, "tendo por única arma um violão", e andando rumo ao oeste a cantar, malgrado o rigor do frio. Hitler telegrafa a Mussolini, pedindo-lhe que lance um apelo a seus soldados, para que interrompam a fuga. O Duce, irritado, não responde.


Durante o dia 16, os russos avançaram 25 km. Nos dias seguintes a ofensiva se estende. A direita russa, o 6º exército marcha sobre Vorochilovgrado e Stalino. A esquerda, o 3º exército da guarda e o 5º exército blindado prolongam o ataque na frente do Tchir. Obrigado a voltar-se, o grupo Hollidt combate em difíceis condições. As passagens do Donetz inferior, Kamensk, Schatinsk e Forchstadt, são ameaçadas. Rostov está em perigo. Tem-se em vista uma Stalingrado ampliada, uma Stalingrado de 1.000.000 de homens.

A situação do 4º exército blindado é particularmente arriscada. Enquanto a frente alemã se desmorona e o avanço russo ameaça Rostov, ele se agarra à passagem da Mischkova esperando que o exército de Paulus se decida a sair de Stalingrado. O caráter sagrado de sua tenta o moral, mas Hoth não cessa de advertir que asua presença ali pende de um fio, e que sua retirada vier a seu encontro. Na antevéspera do Natal, um apelo do grupo de exércitos precipita esta retirada: Manstein, o informar Hoth da situação a oeste do Don, pede-lhe a cessão de uma de suas divisões blindadas, para tentar restabelecer o combate na região de Morosovkaia. Hoth, consiste do perigo, designa a mais forte, a 6ª. Esta se põe a caminho em direção a Potiomkinskaia, entre uma nevasca, levando a última oportunidade de salvação dos sitiados de Stalingrado.

domingo, 15 de agosto de 2010

STALINGRADO

O FLANCO DE VIDRO DO ARÍETE


O exército de Paulus não combate apenas em Stalingrado. Dobrando-se qual braço protetor, barra o istmo que espera o Volga do Don. Transpõe este ultimo e rodeando o ferrolho de Kletskaia. Dois corpos de exército, 0 8º e o 11º, guardam essa frente defensiva. Além do exército alemão os setores eram mantidos pelos seus aliados Romenos, Italianos e Húngaros. Os três exércitos equivalem-se em fraqueza. A motorização dos três exércitos é bem nula, equipamento, vestuário, transmissores, material óptico etc.. são de última categoria e a artilharia é antiquada.


Três frentes de exércitos cercavam a eminência de Stalingrado. A única saída consistia num contra ataque. As perdas e a dispersão, contudo haviam enfraquecido a Wehrmacht numa extensão difícil de ser concebida. Um intervenção espontânea da 14ª Panzer, à esquerda do Exército de Paulus, conseguiu liberar o 11º corpo alemão, mas o 48º corpo blindado sacudido por ordens contraditórias, turbilhonou a esmo pelo campo de batalha enregelado, submergindo em hordas de fugitivos e chocando-se em toda parte contra forças superiores. Para não ser envolvido, terminou por fugir. Von Hein, que tivera metade dos seus carros blindados inutilizados pelos ratos, foi apontado como responsável pelo desastre e permaneceu encarcerado na prisão militar de Moabit até 1945.


A 20 de novembro, enquanto Vatutim e Rokossovski galopavam a oeste do Don, Eremenko, por sua vez atacava ao sul de Stalingrado. O 4º corpo alemão susteve o choque, mas o 4º exército romeno esboroou-se, como fizera na véspera o 3º. O 51º exército soviético correu em direção a Kalatch, principal passagem do Don, gargalo vital das comunicações de Paulus. Quando a atingiu, no dia 22, a ponte já fora tomadas pelos soldados de Rokossovski. O grupo de D.C.A. que a guardava e a bateria de 155 que lhe dava cobertura estavam tão longe de esperar penetração russa, que tomaram os T 34 que se aproximavam do Don pelos tanques, capturados do inimigo, que a companhia de instrução de Kalatch utilizava. Alguns minutos mais tarde a ponte, intacta encontrava-se em poder dos russos. O 6º exército estava cercado!


O próprio Paulus quase fora aprisionado. Encontrava-se em seu P.C. de Globulinskaia, 15 Km ao norte de Kalatch, na margem ocidental do Don, quando às 14 horas surgiram os russos. O Estado Maior escapou pelo Don enregelado, abandonando o material da companhia de propaganda e utensílios de cozinha. Paulus e seu chefe de estado maior, general Arthur Schmidt, levantaram vôo em dois Fieseler Storch e foram pousar no Q.G. de inverno do exército, em Nijni-Tchirkaia, na confluência de Don e do Tchir, isto é, fora do bolsão demarcado pelo inimigo.


Na antevésperas, Paulus podia considerar uma questão de horas a tomada de Stalingrado, vitória que iria ilustrar seu nome. Na véspera recebera do comandante do grupo de exércitos, General Von Weichs a inesperada ordem de reenviar sua unidades móveis em direção ao Oeste. Pela manhã, procurava compreender o que teria tão repentinamente acontecido ao exército vizinho. Ao meio dia ser ter sido vencido, encontrava-se na ridícula situação de um general separado de seu exército, fugindo antes de qualquer saldado. Ao escapar da armadilha, Paulus acreditou por um momento poder dirigir do exterior as operações de salvamento de seu exército. Um telegrama de Hitler chamou-o a uma concepção draconiana do dever: O Oberbefehlshaber, Generalíssimo do 6º exército voltará a Stalingrado. O exército se organizará em uma frente fechada e esperará novas ordens. A situação era das que pedem reações imediatas, iniciativas ousadas. As primeiras instruções de Hitler ditadas de Berchtesgaden impunham espera e imobilidade.


Pronto para voar para Stalingrado, Paulus vê aparecer um companheiro de Infortúnio, Hoth, comandante do 4º exército Blindado. Ele perdera tudo, tanto suas unidades alemãs, cercadas no bolsão de stalingrado, como as romenas, dispersadas pela estepe calmuque. Os adeuses são rígidos, embora carregados de emoção, entre os dois chefes. Um representa um exército aniquilado, o outro vai juntar-se a um exército condenado. Em seguida, o pequeno avião de Paulus voa baixo, sobre a planície branca, e pousa perto da estação de Gumrak, a 15 km de Stalingrado, onde já funciona o novo P.C. do exército.


Paulus é um exemplar oficial de estado maior, rapidez de análise, facilidade de exposição. A partir das 16 horas, dirige ao O.K.H. um lúcido resumo da situação. O 6º exército cercado, conserva uma cabeça de ponte a oeste do Don, mas tem o flanco sul a descoberto, falta-lhe combustível e só dispõe de víveres para seis dias.


Ainda que a exposição seja clara, as conclusões carecem de firmeza. Paulus Hesita. Trava-se um discussão em Nijni-Tchirkaia. Pôr-se em ferrenha defensiva, como deseja Hitler, implica num abastecimento aéreo até o momento de o cerco ser rompido pela intervenção de um novo exército. O comandante da 4ª Luftflotte, Wolfram Von Richthofen, foi categórico: manutenção, por via aérea de 200.000 a 300.000 homens, empenhados em duros combates, ultrapassa a capacidade da aviações de transporte. O general de D.C.A. Martin Fiebig opinara no mesmo sentido ao dizer a Paulus que só lhe restava uma coisa a fazer. Ritirar seu exército da armadilha, sem perda de uma única hora. Mas o chefe de estado maior Schmidt mantivera parecer oposto. Uma retirada, dissera ele, seria napoleônica, exigindo o abandono de enorme material e 15.000 feridos. Indeciso, Paulus limitara-se a pedir ao Fuhrer liberdade de ação, e licença para abandonar Stalingrado, caso o 6º exército não conseguisse fechar seu flanco sul.


Vinte e quatro horas mais tarde, as idéias de Paulus evoluíram. A situação lhe aparece sob uma luz mais sombria, e a nova mensagem que endereça ao Fuhrer propõe a abertura imediata de uma brecha, ao menos para salvar preciosos combatentes. Acrescenta sob risco de ser acusado de conjuração que os comandantes dos cincos corpos de seu exército, Heitz, Von Seydlitz, Strecker, Hube e Jaennicke, compartilham de sua opinião. Nesse meio tempo, o comandante do grupo de exército, Von Weichs, falara mais energicamente ainda. O abastecimento aéreo de vinte divisões notifica ele a Angerburgo, só poderá satisfazer um décimo das necessidades das mesmas. Cercado, o 6º exército se vê condenado a perder em alguns dias a maor parte de seu valor combativo. Uma tentativa para abrir caminho acarretará a perda de considerável material, porém não há outro meio de evitar um desastre total.


Hitler chega a rastenburgo no dia 23, à uma hora da manhã. Zeitzler, que o esperava devorado de impaciência, é avisado que o Fuhrer se encontrava cansado da viagem e que só daria audiência ao meio dia. Zeitzler protesta, alega urgência, consegue fazer-se recebr e para sua grande surpresa, encontra um homem sereno. Ao trabalhar com Jodl, em seu trem, Hitler encontrara um meio de conjurar a crise de Stalingrado. Chamar do Cáucaso uma, talvez duas divisões blindadas, que reabrissem as comunicações com o 6º exército, a essa altura, já estaria completamente esgotado. Mas quando propõe a abertura imediata de uma brecha, Hitler pergunta-lhe com ar ameaçador se tenciona abandonar Stalingrado. Ao obter resposta afirmativa, bate com o punho na mesa e grita inúmeras vezes: Nunca deixarei o Volga! Nunca Deixarei o Volga!


Durante o dia, as notícias pioram. A cabeça de ponte a oeste do Don é penosamente mantida. Voltando à carga, Zeitzler abala Hitler e às duas horas da manhã telefona a Von Sodenstern, chefe que o Fuhrer concorda em reconsiderar a questão e que dará a conhecer sua decisão às 08 horas. Parece fora de dúvida acrescenta que essa que essa decisão consistirá na ordem de abrir imediatamente passagem para sair. O 6º Exército pode começar seus preparativos. Por uma linha telefônicaque os russos cortarão um minuto após, Sodenstern comunica a notícia ao PC de Gumrak. Esta se espalha pelo bolsão, propiciando a sensação de alívio que conhecem os emparedados ao receberem a primeira lufada de ar puro.


As 10 horas, nenhuma outra comunicação alcança o grupo de exércitos.


Inquieto, Sodenstern telefona para Rastenburgo, nada obtendo além de um impaciente convite a ser paciente. Alguns minutos mais tarde, o rádio de escuta capta uma ordem direta de Hitler a Paulus. O 6º Exército é convidado a organizar-se na seguinte frente: Stalingrado, Norte, cota 137, Marinovka, Zybenko, Stalingrado Sul. Isto desenha no mapa uma espécie de ameba com cerca de sessenta quilômetros de comprimento e quarente de largura. A cabeça de ponte no Don, poterna de evasão, deve ser abandonada. O Fuhrer termina sua mensagem dizendo que o 6º Exército pode contar com ele para um abastecimento satisfatório, assim como para ser tirado do cerco a tempo.


Assim, Hitler não pode resignar-se a abandonar Stalingrado. Quando Zeitzler se apresentou em sua residência, as 8 horas, o Fuhrer trazia nos lábios uma nova expressão: Stalingrado é uma fortaleza. E o 6º Exército é sua guarnição. Uma guarnição não abandona a fortaleza que lhe é confiada. Se for necessário, a guarnição de Stalingrado sustentará o cerco durante todo o inverno e eu a libertarei com minha ofensiva de primavera. Quando Zeitzler tentou demonstrar que Stalingrado nada tinha de fortaleza. Hitler recomeçou a agitar o punho no ar. Nunca deixarei o Volga! Primeira e última palavra a ilustrar a servidão em que o chefe militar é mantido pelo condutor de massas. O estrategista submisso ao demagogo. A 9 de novembro, em Munique, Adolf Hitler pronunciara as seguintes palavras: Aquilo que o soldado alemão guarda, fôrça alguma no mundo poderá arrancar-lhe. Como poderia ele aceitar um desmentido tão rápido?


Zeitzler encolerizou-se e exclamou por sua vez Meu Fuhrer! Seria um crime abandonar o 6º Exército! Isso significaria a morte ou a captura de um quarto de milhão de valentes soldados. E mais ainda! A perda de um grande exército quebraria a coluna vertical da frente oriental.


Ao ouvir a palavra Crime, "Verbrechen – Hitler estremeceu. Mas conteve-se, chamou o SS. De serviço e ordenou que introduzissem no recinto o Marechal Keitel e o General Jodl. Declarou em tom complenetrado que estava na iminência de tomar uma grave decisão, e que não desejaria fazê-lo sem que seus melhores colaboradores lhe dessem a conhecer sua opinião, com a mais completa liberdade:


"Feldmarschall Keitel ?"


"Meu Fuhrer, não abandone Stalingrado!"


Keitel falou num tom de quem dita posição de sentido com inflexões teatrais, os olhos flamejantes. Jodl, ao contrário, pensou os prós e os contras, mas acabou por concluir que, ao menos até nova ordem, era preciso permanecer em Stalingrado.


Interrogado por sua vez, Zeitzler manteve sua conclusão: abertura imediata de uma brecha, e retirada. Hitler ouviu-o calmamente, e depois retrucou, com polidez glacial: " O senhor está vendo, general, que não sou o único a defender minha opinião. Ela é compartilhada por dois oficiais, ambos mais graduados e mais experientes que o senhor. Atenha-se pois `a decisão que tomei. Ordeno que se defenda a fortaleza de Stalingrado."


Uma questão, todavia, condiciona tudo: a possibilidade de abastecer o 6º exército por meio de uma "ponte aérea". Fizera-se isso no inverno precedente, pelo bolsão de Demiank, mas este continha menos de 100.000 homens, e a fortaleza de Stalingrado abriga o triplo disso.


Interrogado, o 6º exército informou que, para satisfazer omínimo de suas necessidades, precisaria por dia 750 toneladas de munições, combustível, ferragem, víveres. Interrogado, o chefe da aviação de transporte respondera que 350 toneladas representavam o máximo de suas possibilidades. Segundo a tradição militar, considerara-se a primeira cifra uma superestimação sistemática, e a segunda uma subestimação prudente. Georing, o eterno ausente, encontrava-se em Paris, que decididamente, ele considerava uma estância mais refinada que Rastenburgo. Consultado pelo telefone, declarou que a verdade estava na medida áurea. Sua Luftwaffe disporia de meios para depositar 500 toneladas por dia na fortaleza de Stalingrado. Poderia assim responder pelas necessidades primordiais do 6º exército. Seu chefe de estado maior, Jeschonnek, veio assegurar isso a Hitler, omitindo uma comunicação de Von Richtofen, em que este pedia que fosse levada ao conhecimento de Hitler sua opinião sobre a impossibilidade da "ponte aérea".


Para os sitiados, a decisão de Hitler fora um golpe terrível. A palavra "fortaleza" poderia iludir um público ignorante, mas a "guarnição" sabia o que tinha pela frente. Stalingrado encontrava-se inteiramente em ruínas. As poucas localidades do perímetro cercado haviam sido queimadas até o chão. A estepe achava-se rigorosamente nua. Na frente norte, alguns trabalhos para organizar o terreno haviam sido executados durante o verão, mas as frentes oeste e sul não tinham uma só vala a demarcá-las. Não era mais possível cavar o solo enregalado. Não havia madeira alguma para a construção de abrigos. Os soldados teriam apenas a lona de suas tendas como proteção contra o fogo inimigo e as tempestades de neve, de 40º C para baixo. A primeira reação dos generais é de revolta. O comandante do 4º corpo, Jaennicke, exclama, dirigindo-se a Paulus: "Reichenau não obedeceria!" Paulus abaixa a cabeça: "Não sou Reichenau". E abafa os protestos de seus subordinados como argumento incontestável de que a um soldado só compete obedecer.


Um único general não se resigna: Von Seydlitz Kurbach, comandante do 51º Corpo. Estava tão plenamente convencido de que iria romper as linhas inimigas, que fizera evacuar seus postos avançados e destruíra todos os itens supérfluos e intransportáveis, inclusive suas calças e capote sobresselentes. Ele escreve uma nota para Paulus exigindo que este a transmita aos escalões superiores. Ainda que 500 aviões transportassem 1.000 toneladas por dia, sustenta ele, as necessidades do 6º exército não seriam atendidas. Urge aproveitar o breve instante em que o inimigo ainda se encontra fraco ao sudoeste de Stalingrado, para romper através de suas linhas em direção a Kotelnikovo. "Se o O.K.H. mantém a ordem de risistir in loco, o dever de consciência para com o exército e o povo alemão exige imperiosamente que o senhor tome nas mãos a iniciativa de evitar uma grande catástrofe, o aniquilamento de 200.000 combatentes e a perda de seu material. Não há escolha possível!".


O nome Seydlitz figura entre os mais altos expoentes da história militar da Prússia. O Seydlitz da guerra de sete anos, amigo íntimo do grande Frederico, é considerado como um dos melhores generais de cavalaria de todos os tempos. As linhas citadas acima, o mais ousado desafio que um oficial fez chegar a Hitler, constituem ao mesmo tempo uma sentença de morte. Seydlitz fica a espera de que um avião venha buscá-lo, para jogá-lo diante de um poste de execução. Von Weichs, porém, intercepta o memorando, e o que chega a Seydlitz é apenas a ordem de sumir o comando de toda frente norte do bolsão. "Que pretende fazer o senhor"? – pergunta Paulus, "Já que o senhor não desobedece – diz ele – só me resta obedecer".


A ponte aérea começa a funcionar. Uma centena de trimotores Junker decola dos aeródromos de Tazinskaia e Morosovskaia, no ferrolho de Don e, após percorrerem 200 km, pousam em Pitonik ou em Gumrak. Retornam carregados de feridos. As perdas ocasionadas pelo inimigo não são a princípio, muito elevadas, porém as que resultam das más condições atmosféricas e de desgastes do material revelam-se desde logo extremamente pesadas. O rendimento cotidiano começa com cerca de 50 toneladas e só lentamente atinge uma centena. A Luftwaffe pede que os sitiados tenham paciência, dizendo ser-lhe necessário algum tempo para organizar-se.


Arrolam-se no bolsão o 4º, o 8º, o 11º e o 51º Corpos do exército, e o 14º Corpo Blindado; as divisões de infantaria nº 44, 71, 76, 79, 94, 100, 113, 295, 297, 305, 371, 376, 384, 389; as divisões motorizadas nº 3, 29 e 60; as divisões blindadas nº 14, 16 e 24; o 8º Corpo de D.C.A.; os regimentos de canhões de bombardeio 243 e 245; 12 batalhões de engenharia militar; e mais 149 formações independentes, que vão da artilharia pesada ao correio militar; e finalmente, duas divisões romenas e um regimento croata. Um grande possante e denodado exército.

sábado, 17 de julho de 2010

HITLER ESCAPA DE DOIS ATENTADOS

HITLER ESCAPA DE DOIS ATENTADOS

Um acontecimento importantíssimo deixou de dar-se. Hitler não morreu. Deveria ter morrido no dia 13 de março. Uma singular providência estendeu a mão sobre ele.

Nomeio de estremas dificuldades e perigos terríveis, prosseguia a conspiração contra o Fuhrer. Os chefes civis e militares, Gordeler, Witzleben, Beck, reatam-lhe os fios incessantemente emaranhados e rompidos. Eles haviam vencido seus escrúpulos e reconhecido plenamente que o assassínio do tirano seria o único meio de salvação do povo da Alemanha. Nos círculos militares e especialmente nos estados maiores, o cruel sacrifício do 6º exército em Stalingrado acirrara os ódios. Não faltam Brutus entre os jovens oficiais, pertencentes, em geral, à mais alta aristocracia. Mas o assassínio de Hitler é operação difícil. Ele usa colete a prova de bala, o fundo de seu quepe é blindado, tudo o que come é provado por seu médico, todos os seus movimentos são mantidos em segredo, e as ocasiões para abordá-lo, entre seus pretorianos, são raras.

O Major General Henning Von Tresckow, de uma ilustre família militar brandeburguesa, é o primeiro oficial do Estado Maior do Grupo de Exército Mitte. Ele tentara induzir ao Putch seu primo, o Marechal Von Bock, e depois da substituição de Bock por Von Kluge, fizera o mesmo com este. O plano consistia em liquidar Hitler por ocasião de uma de suas visitas a Smolensk. Q.G. do grupo. O Barão Von Boselager, comandante do regimento de guarda, assume a responsabilidade do caso e diz estar seguro de seus subordinados. Mas Kluge responde que a situação militar não é bastante grave para autorizar ação tão radical.

O País e o exército não a compreenderiam. Tresckow e seu ajudante de ordens, o Tenente Fabian Von Schlabrendorff, decide agir sozinhos. Utilizando plástico e detonadores ingleses fornecidos por um cúmplice, fabricam duas bombas, a que dão forma de garrafas. A 13 de março, Hitler chega a Smolensk, cercado por uma corte de S.S., cujo desusado aparato parece indicar que ele nutre suspeitas especiais no momento. Quando regressa algumas horas depois, seu avião leva as duas bombas, devidamente acionadas. Schlabrendorff confiara o embrulho contendo a máquina infernal a um coronel da comitiva, pedindo-lhe que entregasse ao General Helmuth Stieff as duas garrafas de conhaque que lhe enviava o General Von Tresckow.

Passam-se uma, duas horas. A palavra combinada para previnir que o atentado decorria como previsto fora transmitida à central de Berlim. Tresckow e o grupo de Smolensk esperam que o rádio de um dos caças de escolta avise que o avião do Fuhrer explodira no ar. Recebem de Minsk a mensagem de que o Fuhrer chegara sem acidentes.

Os conspiradores salvam a situação. O estouro do Putsch é cancelado a tempo. Schlabrendorff telefona ao coronel a quem fizera executor inconsciente e sacrificado do golpe, para que não entregue o pacote, e no dia seguinte, com uma ordem de missão de Tresckow, vai recuperá-la em Rastemburgo. Ao abri-lo, verifica que nas duas bombas, o percussor fora realmente liberado pelo ácido, que corroera o fio de metal, mas que as cápsulas não haviam reagido ao choque.

Alguns dias mais tarde, outra tentativa para pulverizar Hitler, por ocasião de uma exposição em benefício dos soldados da frente, no Zeughaus de Berlim, falha por sua vez. Os conspiradores têm que aguardar nova ocasião.

ISOROKO YAMAMOTO

COMO MORREU O ALMIRANTE YAMAMOTO


Protegidos por um grupo de zeros, os dois bombardeiros japonês preparavam-se para pousar no aeródromo de Kaihili, na ponta meridional da ilha de Bougainville.


Os caças norte-americanos surgiram rente à água. O Capitão Thomas G. Lanphier abateu um dos bombardeiros. O Tenente Rex T. Barber abateu outro. Os dois aparelhos caíram e incendiaram-se na floresta. O Grande Almirante Isoroku Yamamoto estava morto.


Ele não sucumbira após um encontro fortuito. Os norte-americanos decifravam sempre os códigos japoneses. No começo de abril de 1943 o chefe de seu G-2 trouxe ao almirante Halsey o plano de uma viagem de inspeção do comandante chefe japonês do Pacífico Sul. Partindo de Rabaul, Yamamoto devia visitar as bases aeronavais da região do Buin. Seu avião deveria sobrevoar Kaihili a 18 de abril, às 9h 35m. Os norte-americanos planejaram chegar ao encontro ao mesmo tempo que ele.


Um escrúpulo fê-los hesitar. Era boa tática utilizar uma vantagem clandestina para desfazer-se de um grande chefe inimigo? Era uma emboscada permitida pelas leis da guerra, ou uma armadilha?


Halsey consultor Nimitz. Nimitz perguntou a seus especialistas se eles achavam que o desaparecimento de Yamamoto enfraquecia o Japão. Os especialistas responderam afirmativamente. O grande Almirante havia mostrado hostil a uma guerra contra os Estados Unidos, mas não havendo podido impedi-la, fazia-se com talento e energia. Era o autor do plano de ataque contra Pearl Harbor e nem a derrota de Midway nem o abandono de Guadalcanal o havia qualificado como um desses capitães que um inimigo inteligente tem interesse em conservar. Esses testemunho de suas qualidades foi a sentença de morte do Almirante Yamamoto.



O empreendimento não era fácil. Os 16 P-38 do 339º Fighter Squadron que decolaram de Guadalcanal, sob o comando do major Mitchell, deviam percorrer 500 km antes de se encontrar, com uma precisão cronométrica acima de Bougainville. Deviam costear as ilhas da Nova Geórgia sobre as quais zumbia o enxame inimigo. Os P-38 escapam da detecção raspando as ondas, e estavam em um minuto sobre Kaihili. Todos voltaram, exceto um. O feito foi guardado em segredo até o fim da guerra, primeiro, para não revelar aos japoneses que seus códigos estavam descobertos, depois porque Lanphier tinha um irmão prisioneiro no Japão e temia-se contra ele a mais atroz vingança.