segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A MARINHA ALEMÃ - Parte 04

CAÇA AO BISMARCK

Comparada com os sucessos dos meses anteriores a história do Bismarck seria gloriosa e trágica, dominada pelo eterno "se". Se a Alamanha tivesse tido um alto comando terrestre, marítimo e aéreo combinado, três líderes trabalhando juntos, e não separados por intrigas políticas, se o ciúme de Goring pela preponderância da Luftwaffe tivesse permitido a Raeder criar um setor aéreo para a esquadra alemã, com bombardeiros de longo alcance e uma força de porta aviões, se o Scharnhorst e o Gneisenau tivesse podido fazer surtidas simultâneas de Brest e finalmente, se os britânicos não tivessem rapidamente aprendido as lições recebidas, desde setembro de 1939.


Se todas essas coisas tivessem acontecido, a saga do Bismarck teria um desfecho diferente. O Bismarck poderia ter zarpado com porta aviões Graf Zeppelin, poderia ter-se unido ao o Scharnhorst e o Gneisenau em alto mar e conquistado o domínio do Atlântico Norte. Mas o fato é que o imenso couraçado alcançou o maior triunfo isolado até então conquistado pela esquadra de alto mar de Hitler, afundando a mais imponente belonave da Marinha Real.

O plano original que eventualmente levou o Bismarck a zarpar tomou definitiva quando o Gunther Lutjens trouxe o Scharnhorst e o Gneisenau para o porto de Brest. Ai estava, potencialmente a garra sul de um decisivo movimento de pinças naval. Se o Bismarck com a outra nova belonave da esquadra, o cruzador pesado Prinz Eugen, pudesse chegar ao Atlântico pelo norte, enquanto o Scharnhorst e o Gneisenau iam pelo sul, Raeder sabia que poderia conseguir uma combinação de forças que os britânicos não poderiam igualar sem tirar seus couraçados do serviço de escolta de comboios.

O almirantado britânico sabia que o Bismarck estava quase pronto para zarpar e, quando recebeu o relatório , através da Suécia, de que se avistaram, duas belonaves passando pelo grande cinturão da Dinamarca, os britânicos iniciaram intensa busca aérea.

No dia 22 de maio, um reconhecimento aéreo identifica o grande barco, que faz preparativos de aparelhamento no fiorde de kors, ao sul de Bergem. Um segundo reconhecimento, algumas horas mais tarde, encontra o fiorde vazio. Cinco comboios estão ao mar, dois dos quais, SC – 31 rumo a leste e o OB – 324 rumo a oeste, se acham na rota provável do couraçado, na saída do estreito da Dinamarca, e o terceiro, o NS-8B, transporta as tropas que se destinam ao Egito. Tôdas as escoltas, inclusive os velhos navios de linha como o Ramillies e o Revenge não passam de cascas de noz diante do navio de guerra mais poderoso do mundo: 42.000 Tol de deslocamento, 28 nós, 8 peças de 15 pol. Os dois couraçados ingleses que acabam de entrar em ação, o King George V e o Prince of Wales, não chagam sequer a igualá-lo.

A saída do Bismarck poderia significar uma ofensiva geral da frota de superfície alemã. Um cruzador pesado também novo, o Prinz Eugen, acompanha o gigante. O Almirante Raeder dispõe ainda do couraçado de bolso Lutzon, dos cruzadores Hipper, Koln, Emden e em Brest da poderosa divisão dos cruzadores de batalha Scharnhorst e o Gneisenau. Sir John Tovey, sucessor do Almirante Forbes no comando da Home Fleet, está diante de uma batalha da qual pode depender o destino do Reino Unido.

Mas a sorte, uma sorte cheia de heroísmo sorriu para os ingleses. No dia 6 de abril, apenas com uma formação de quatro aparelhos, o Flying Offcer Campbell do Coastal Squadron nº 22 atingiu a enseada de Brest, e, de modo suicida, torpedeou o Gneisenau, Este acontecimento dissuade o almirante alemão de fazer com que a divisão de Brest, reduzida a uma única unidade, participe da saída do Bismarck. O grande barco, no qual embarca o Almirante Lutjens, não passa de um corsário solitário confiante na sua estrela.

No dia 23 de maio, as condições no estreito da Dinamarca são singulares. Nessa alta latitude, a noite de maio não passa de um crepúsculo prolongado, mas a bruma transforma o dia em um outro crepúsculo, cheio de uma claridade leitosa que fere os olhos. O gelo obstrui o estreito, deixando, do lado da Islândia, apenas um canal de algumas milhas. Os dois cruzadores de 8 pol. Do Contra almirante Wake Walker, o Sulfolk e o Norfolk, patrulham os limites das geleiras. Às 19 h 22 min, o Sulffolk avista o Bismarck seguindo o Prinz Eugen, a uma distância de menos de 8 milhas. O navio Inglês volta a entrar na bruma, e continua a seguir o inimigo pelo radar. Uma hora depois, quando clareia um pouco o Norfolk recebe impunemente a menos de 6 milhas, o primeiro obus que o Bismarck lança contra o inimigo. Por sua vez, o Norfolk penetra nas brumas e, lado a lado com o Suffolk, segue a esteira dos dois navios alemães. As rajadas de neve, os efeitos de miragem produzidos pela fosforescência da banquisa, o gelo esmagado pelas rodas de proa à velocidade de 28 nós, a luz crua da noite boreal criam uma atmosfera fantástica em torno dessa corrida de morte.

Do sudoeste, a uma distância de 600 milhas, vem o Almirante Holland. Comanda o Hood, cruzador de batalha, o maior navio de guerra do mundo. Vem seguido do Prince of Wales, que se não fora o Bismarck, seria a mais poderosa belonave do mundo. Mas o Hood é volhe demais, tem mais de vinte anos e o Prince demasiado novo, acaba de sair dos estaleiros e ainda não esta em plena forma. O Almirante Tovey esta quase a enviar um sinal, ordenando ao Prince of Wales, melhor protegido que o Hood, que tome a frente da fila. Mas, lembrando-se da antiguidade de Holland, cala-se.

A aproximação é difícil. Pretendendo surpreender o inimigo, Holland não quer utilizar o radar nem o rádio, separa-se dos quatros contratorpedeiros que tinham conseguido seguir esses grandes barcos e que se perdem em uma tempestade de neve. O inimigo é descoberto pelo Hood às 5 h 35 min, mas está numa posição em que pode utilizar toda a artilharia, enquanto os ingleses só podem fazer uso de uma parte da sua. Não tendo velocidade, Holland não pode aproximar-se para combater e a, distância, o ângulo de incidência dos obuses do Bismarck é perigoso para o velho Hood, que não tem ponte blindada.

Ás 5 h 35 min, os dois barcos ingleses fazem fogo a 24.231 metros. Os canhões alemães respondem como eco. A terceira salva do Bismarck atinge o Hood. Diante da chaminé, crepita uma labareda. Alguns segundos mais tarde, formidáveis explosão faz em pedaços o maior navio do mundo. O Hood parece o mesmo modo que o Queem Mary e o indefatigable, na Jutlândia, vítima, como eles, de um defeito de construção que permite a propagação de um incêndio aos paióis de munição. Dentre os 95 oficiais e os 1.432 homens da tripulação, apenas 3 são salvos das águas geladas pelos torpedeiros ingleses.

Tendo ficado só o Prince of wales é atingido quatro vezes em 4 minutos. O Almirante Wake Walker toma a responsabilidade de ordenar ao couraçado que abandone o combate. Com o Suffolk e o Norfolk, conduzirá até o Bismarck as forças arrasadoras que o Almirantado pôs em ação.

O Bismarck, por sua vez, não está ileso. Do seu flanco, arrombado por um obus do price of Wales,sai um grosso rastro de óleo. A prudência aconselharia que Lutjens levasse o seu navio atingido para as altas latitudes, a refugiar-se em um porto norueguês, levando consigo a brilhante vitória que acaba de acrscentarao ativo da marinha de Hitler. Atendendo a razões cujo segredo ele leverá para o seu túmulo marinho, ele persiste em descer para o sul, e às 8 h 01 min, comunicando ao Almirantado alemão que sua velocidade ainda se mantém em 28 nós, anuncia sua intenção de atingir Saint-Nazaire.

Contra ele, mobiliza-se o Atlântico. Tovey traz de Scapa o King Georg V, o Repulse e o porta aviões Victorious. O Ramillies, o Rvenge e o Rodney abandonam suas missões de comboio para tomar parte na persegição. Somerville traz de Gibraltar o Ark Royal, o Renown, os cruzadores Sheffield e Dorsetshire. Os alemães, por sua vez, ordenam aos seus submarinos que se dirijam para o Bismarck, mesmo que já não disponham de torpedos, com objetivo de multiplicar os alarmes falsos. Sem torpedos, é o caso do U-556. Num mar encapelado, seu comandante, Wohlfarth, vê desfilando do seu periscópio o porta aviões Ark Royal e o couraçado Renown a toda velocidade, levantando ondas de espuma que os recobrem da proa à popa. Espetáculo magnífico e desesperador. O submarino já não tem torpedos para impedir tal desfile.

Durante todo dia 24, o Prince of Wales, o Suffolk e o Norfolk escoltam a respeitosa distância o Prinz Eugen e o Bismark. Às 18 horas, os dois barcos alemães se separam, o cruzador intacto segue a sua rota para o sul, enquanto o couraçado dobra para sudeste. À meia noite, uma esquadrilha de Swordfisches, lançada pelo Illustrious, acha o Bismarck, e, apesar da noite, apesar da tempestade, apesar da inexperiência das tripulações, consegue acerta-lhe um torpedo no meio do costado. Mas, três horas depois, os perseguidores são atingidos, por um desastre: o Suffolk, depois de um ziguezague anti-submarino, não mais consegue encontrar o Bismarck no seu radar. Churchill, que está a par da perseguição minuto a minuto, sucumbe sob o golpe. A pista está perdida. A Câmara dos comuns, cuja sala de reuniões acaba de ser destruída por um bombardeio, está quase indo reunir-se ao quartel-general da Igreja da Inglaterra, Church House. De que modo se apresentaria ele diante do Parlamento para confessar-lhes que o Bismark, depois de ter assassinado o Hood, regressa tranquilamente a sua terra.

Passam-se o dia e a noite. A perseguição acaba-se por si só. As embarcações, com os paióis quase vazios, uma a uma se dirigem para os portos mais próximos. O Revenge ruma à Terra Nova. O Victorious, o Prince of Wales e o Repulse vão para a Islândia. O King Georg V e o Rodney são obrigados a imitá-los. Aliás, o Almirantado está convencido de que os últimos esforços são inúteis. Voltando sobre a sua esteira, em direção ao norte, Lutjens, provavelmente, já está fora de alcance. Por desencargo de consciência, as patrulhas de Catalinas procuram-no da Bretanha até a Islândia. É nas paragens desta última que se espera encontrá-lo, livre do perigo.

O Patrulheiro que se encontra mais ao sul é pilotado pelo Flying Officer D. A Briggs, da esquadrilha 209, do Coastal Command. O tempo está horrível, o céu cheio de turbulências, as nuvens espessas. Às 10 h 30 min do dia 26, Briggs avista um grande barco. Tem que descer muito baixo para identificá-lo e o fogo antiaéreo que isso provoca é tão preciso, que por pouco ele não volta para o colchão de nuvens, enquanto seu rádio lança a grande novidade. O Bismarck foi reencontrado. Pensavam que o barco estava em algum lugar sob o circulo polar, quando se achava a 690 milhas a oeste de Brest.

Não há dúvida. O Bismarck tinha ultrapassado de 100 milhas a força principal do Almirante Tovey. A partir de então, estaria, sem interrupção, sob a proteção da Luftwaffe. Os únicos barcos ingleses capazes de interceptá-los são os que chegam de Gibraltar. Mas o velho Renown não esta à altura de um Bismarck, mesmo avariado. Tudo depende do Ark Royal.


Os Swordfiches decolam com grande dificuldade de uma ponte em movimento, e no meio da bruma. As nuvens e as ondas se encontram. Na posição indicada por Briggs é detectada uma embarcação. Os torpedos correm pelas águas revoltas e os aviões sobrevoam, a ponto de quase tocá-la, a embarcação sobre a qual atiraram. Os pilotos reconhecem sua vítima. Briggs se enganara em 25 milhas na sua estimativa. Os Swordfiches tinham torpedeado o Sheffield. Mas não, em manobra rápida, o cruzador tinha conseguido evitar os torpedos. Aborrecidos os pilotos fazem os Swodfiches voltar para o Ark Royal.

Desta vez é realmente, à última oportunidade. Conduzidos pelo lieutenant-commander T. P. Poole, 15 Swordfiches partem novamente. Decolam às 19 h 10 min, sob uma claridade que o mau tempo já começa a toldar. Se errarem novamente, a noite cobrirá o couraçado e, pela madrugada, o Bismarck estará entrando no canal de Iroise, sob poderosa cobertura aérea.

Às 20 h 47 min, está quase totalmente escuro. Os aviões que chegarem disparandos pela tempestade têm que atacar isoladamente.

A ação dura 38 minutos. Um torpedo atinge o Bismarck, mas na carcaça, e, como o da véspera, não lhe causa senão ligeiras avarias. Outro torpedo se dirige para a popa. As condições deficientes de iluminação e a agitação do mar atrasam de alguns segundos a manobra de fuga. Alguns segundos que significam alguns metros, e alguns metros que significam a diferença entre o triunfo e a morte. O torpedo atinge as hélices e arranca o leme. A velocidade cai para 3 nós. O Bismarck está desamparado.

Começa sua noite de agonia. Às 1 h 20 min, uma divisão de 5 contratorpedeiros, conduzidos pelo capitão Vian, entra em cena. Fazendo voltas em torno de o gigante torpedeá-lo duas vezes. Ao Amanhecer, quando surgem o Rodney e o Georg V, o Bismarck está praticamente parado. O mar e o vento atinge respectivamente as fôrças 5 e 7, e retardam para 8 h 47 min o início do canhoneio. O revide do Bismarck enfraquece rapidamente. Às 10 h 15 min, o couraçado está envolto de chamas, com todos os canhões mudos. Tovey, abraços com problemas de máquinas em pleno mar agitado, dirigi-se para a Inglaterra e ordena aos cruzadores que acabem de destruir o inimigo vencido. O Norfolk e o Devonshire encarregam-se dele. O Bismarck desaparece às 10 h 36 min. Apesar do mau tempo, são salvos 110 dos seus marinheiros.











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