domingo, 7 de fevereiro de 2010

LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parete 12


DO PANAMÁ AOS ESTADOS UNIDOS- ROTEIRO DO DIA A DIA

Dia 27 de junho de 1944, completamos quatro meses fora do país desde nossa partida do Rio de Janeiro. Às 8h40 do mesmo dia, deixamos Albrook Field, com destino a Nova York, onde deveríamos receber novo treinamento, e desta vez conhecer o avião que iríamos usar no teatro de operações.
Deixamos aquela base, num comboio de 25 caminhões e nos dirigimos ao cais-do-porto e nesta oportunidade conhecemos um dos maiores empreendimentos econômicos de engenharia e de saneamento, realizados no século XX, o Canal do Panamá, considerado como uma das maravilhas do mundo.
Embarcamos do lado do Pacífico no navio de prefixo P-31, da Marinha dos Estados Unidos, completamos um carregamento de 2000 homens. Tivemos logo um exercício de salvamento e combate.
Às 12h10 do mesmo dia, o navio levantou ferros e começou a entrar num grande sistema de comportas que represam e escoam as águas do mar. Os navios são elevados ou baixados uns 26 metros, por meio de três câmaras das eclusas de Gatúm, até atingirem o nível do lago do mesmo nome. Cada câmara tem 304,80m de extensão e 33,52m de largura.
Chegando à cidade de Colón, no Atlântico às 21h30. A travessia durou 9h20. Dormimos fundeados no Porto de Colón. Às 4h da madrugada do dia 28, fomos acordados com forte temporal e a onda varreu todo o convés. Mais de 5% do pessoal enjoou durante a viajem, principalmente na travessia do Mar das Caraíbas. Íamos escoltados por um destróier, sendo que, de vez em quando, apareciam aviões Martin Mariners de patrulhamento.
No dia 30, entramos nos mares mansos que costeiam Cuba e assim a maioria do pessoal havia se restabelecido do enjôo. Às 8h10 do mesmo dia, passou sobre nosso navio um dirigível da U.S.N. ( Marinha dos Estados Unidos ). Nosso navio era novo, tendo apenas 4 meses de mar. Avistamos terra: desde as primeiras horas; Haiti ás 17h30; logo depois, as famosas Ilhas Bahamas. O dirigível continuava cobrindo nossa rota. No dia primeiro de julho, mar calmo nas costas da Flórida.
No dia 2, domingo; amanheceu chovendo muito. Às 15h viajamos nas costas dos Estados de Virgínia e Maryland.
O navio trazia feridos de guerra da Nova Guiné e dois faleceram durante a viagem. No dia 3, viajamos nas costas do Estado da Pensilvânia sob um vento forte e frio e mar revolto. Às 17h do mesmo dia cruzamos com um porta-aviões, um dirigível, dois navios de transparentes e um destróier. Recebemos instruções para o desembarque.
No dia 4, todo Grupo foi despertado com a notícia dos primeiros clarões da cidade de Nova York e daí em diante ninguém conseguiu dormir mais. Rebocadores retiravam a rede de Minas que protegia a entrada do porto contra submarinos inimigos. Avistamos a Ilha Bedloes na Baía de Nova York onde está a famosa Estátua da Liberdade, do escultor francês Fredéric A. Bartholdi, monumento gigantesco, oferecido pela França aos Estados Unidos da América do Norte, em 1886. Seu título original é Lá Liberte éclairant Le monde; A Liberdade iluminando o mundo. A nossa chegada a Nova York coincidiu com a data da Independência dos Estados Unidos, 4 de julho.
Atracamos às 9h30 e nos aguardava no porto uma banda de música composta de moças americanas. Recepção muito calorosa; sabíamos que não era dirigida para nós; e sim, aos americanos feridos que regressavam do Pacífico.
Muita Algazarra, gritos, assobios e muita alegria. O pessoal a bordo acenava, jogava beijos para as pessoas que se achavam no caís. Começou o desembarque. Primeiro, dos feridos em macas, que eram conduzidos para ambulâncias que os aguardavam no porto. Após o desembarque dos feridos, começamos a sair e ficamos no cais do porto aguardando ordens. Foi uma alegria pisar em terra firme novamente, depois de 6 dias embarcados. Deitamos no chão do cais para esticar o corpo, tendo como travesseiro nosso próprio saco de bagagem. Às 14h apareceram umas moças da Cruz Vermelha, que nos ofereceram um lanche. Nesta oportunidade, o Cap. Gibson falou com o pessoal, um a um recomendando para não receber o lanche deitado; que todos se levantassem ao ser oferecida a merenda.
Às 14h30 embarcamos, novamente, no navio de transporte dos EstadosUnidos e dessa vez navegávamos no Rio Hudson, sob forte cerração que logo desapareceu e pudemos apreciar Nova York, seu aspecto grandioso, o Empire State com 102 andares sobrepujava os demais. Nosso pequeno navio navegava a uns 100 metros das docas e todos os arranha-céus expunham suas majestosas partes arquitetônicas. O Riverside todo ajardinado atraía o povo a admirar o Hudson e suas imediações. Passamos sob a Ponte George Washington. Depois de 4h de viagem pelo Hudson, chegamos ao porto de destino. Desembarcamos e dali, de caminhões, fomos encaminhados para Camp Shanks, em New Jersey, onde ficamos dois dias de quarentena, de acordo com as leis sanitárias americanas.
Nesse campo, onde ficamos 48 horas, nossos oficiais travaram conhecimento pela primeira vez com os super homens de Hitler. Os prisioneiros faziam a limpeza dos barracos e os serviços de cozinha. Havia um orgulho ariano em suas atitudes. Um deles disse ao tenente Alberto Martins Torres que não chegaríamos vivos à Europa. Disse-o com desdém, como se a guerra estivesse ganha. Torres limitou-se a dizer-lhe: " Se fores curioso, encontrarás na história da derrota da Alemanha, um esquadrão brasileiro, que concorreu com parcela sensível para esmagar esse orgulho desarrazoado e ridículo de vocês ".
Uma base como Camp Shanks, era o mesmo que morar numa cidade; tinha 12 cinemas, ringue de Box, estádio, hospital, igreja, P.X. (Posto Exchange ), ônibus que faziam o serviço de transporte interno, norte-sul, leste-oeste e outros que partiam de meia em meia hora para Nova York, distância percorrida em 45 minutos.
No dia 6 de julho de 1944, seguimos para uma pequena estação no Estado de Nwe Jersey, embarcando de trem às 12h50 chegando às 17h10 do mesmo dia à Suffolk Air Field, Westhampton Beach, em Long Island, ao norte de Nova York, onde passamos dois meses realizando novo treinamento, agora no moderníssimo P-47 Thunderbolt.

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