quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA Parte 07


A DECLARAÇÃO DE GUERRA.
O Brasil, respondendo ao desafio dos consecutivos ataques ás suas linhas de comunicações dentro de suas próprias águas territoriais, declarou guerra à Alemanha e à Itália. Fez um gesto característico de nação digna, ciosa de sua soberania. A atitude do Brasil torna inconfundível caráter de defesa da dignidade, de autoridade, liberdade e segurança de todas as Américas. Uma semana após o covarde torpedeamento de cinco navios, com numerosas perdas de vida de brasileiros, nosso país declarou a existência do estado de guerra – trazendo assim, para a luta partilhada por 28 nações, os inestimáveis recursos naturais, industriais e a contribuição de força de terra, mar e ar, de uma nação que se levanta em peso, indignada contra as bárbaras imposições de força bruta.
Torna-se, portanto, o Brasil a primeira nação Sul-americana a ser forçada à guerra pelo insólito ataque do Eixo, e reúne-se às onze outras repúblicas irmãs – Costa Rica, Cuba, República Dominicana, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, e Estados Unidos – ora em armas contra as potências agressoras que tentavam conquistar o mundo.
O Brasil se esforçou sinceramente para manter-se em paz. Suas simpatias e interesses, naturalmente são afins com os das outras nações americanas, de conformidade com a Declaração de Havana, segundo a qual um ataque feito por uma nação não-americana contra a soberania de qualquer nação americana, constitui um ato de agressão contra todas. A conferência de chaceleres do Rio de Janeiro não havia encerrado, e o Brasil já havia rompido relações diplomáticas e comerciais com as nações do Eixo, e manifestando praticamente a sua colaboração a bem dos interesses do nosso hemisfério.
Durante os primeiros meses de guerra os submarinos alemães haviam feito seus ataques quase à vontade em águas americanas, porque a Marinha dos Estados Unidos dispunham de poucas unidades anti-submarinas a serem afastadas do necessário serviço de comboio de tropa e abastecimento para as zonas de guerra na Europa. Mas, a rápida produção de navios para escolta, a extensão do serviço de patrulha aérea e a organização de comboios, já havia tornado cada vez mais perigoso para os submarinos aventurarem-se em águas norte-americanas. Esses submarinos voltaram, pois, suas atenções para o sul, a fim de continuarem suas depredações nas pacificas águas brasileiras. Na noite de 15 para 16 de agosto, nada menos de cinco navios brasileiros eram torpedeados dentro de 20 milhas da costa, quando faziam suas viagens de cabotagem entre portos brasileiros. Dentre os passageiros destacavam-se numerosos romeiros que haviam ido assistir ao Congresso Eucarístico em São Paulo. Em meio às vítimas dos ataques submarinos, havia centenas de mulheres e crianças. Foi, assim, uma agressão feita diretamente contra a navegação de cabotagem, empenhada em atividades pacíficas, que não poderiam favorecer ou prejudicar nenhum país beligerante.
Assim, em 22 de agosto de 1942, o governo brasileiro declarou formalmente a existência de um estado de guerra, afirmando que, antes de 15 de agosto, a atitude do Brasil em face das depredações cometidas pelos alemães, havia sido de simples protesto contra a violação das normas de Direito Internacional e dos princípios de humanidade que regem a guerra no mar. Os protestos reafirmavam sua intenção de se manter-se em paz.
O Brasil não poderia ter dado maiores provas de sua tolerância e pacificação, conforme afirmou o próprio governo, ao declarar a existência do estado de guerra. Não há que negar, portanto, que a Alemanha e a Itália praticaram atos da guerra contra o Brasil, criando uma situação de beligerância, que forçou o país a reconhecê-la não somente a bem da defesa de sua própria dignidade, soberania e segurança, como também com relação á defesa das Américas.
O Brasil foi recebido expressiva e entusiasticamente no meio da Liga das Nações. "Com essa decisão, solenemente tomada, o povo do Brasil cerra fileiras com os povos livres do mundo na luta sem tréguas contra as potências desenfreadas e predatórias do Eixo", afirmou o Presidente Roosevelt em mensagem dirigida ao Presidente Vargas, "decisão que vem dar mais força, moral e material, aos exércitos da liberdade. Como companheiro de armas, nossos soldados e marinheiros perpetuarão mais uma página da história já repleta de provas de amizade, confiança e cooperação que tem marcado desde os primeiros dias de independência, as relações entre nossos países. A decisão hoje tomada pelo vosso governo vem apressar o advento da inevitável vitória da liberdade contra a opressão, da religião cristã sobre as forças do mal e das trevas".
Com gigantesco empório de matérias-primas de guerra, o Brasil não somente fará sentir o efeito de sua contribuição nesse sentido, como tornar-se à também ativo centro industrial, verdadeiro arsenal que cooperará para que os recursos bélicos das Nações Unidas se coloquem por parte faz potências do Eixo.
Quanto às matérias-primas, as minas do Brasil fornecerão ainda em maior quantidade, produtos estratégicos vitais, vez que dispõe o país da quinta parte do manganês existente em todo o mundo; possui a metade do berilo, elemento importante para o enrijecimento de todos os metais; é rico em bauxita, usada na fabricação de alumínio para aeroplanos; diamantes industriais, dos quais é a única fonte no continente, e é também o único exportador de titânio, próprio para a fabricação de ferramentas; assim como é o único produtor do mundo, do quartzo de superior qualidade, empregado na fabricação de rádios, de aparelhos reveladores de submarinos e aviões, de alça-de-mira e periscópios; sircônio, para as munições, óleo de mamona, para motores de grandes velocidades; cânhamo, para cordas; couros, de aplicação em aviões, tanques e navios; paina, para salva-vidas e crescente quantidade de borracha. Além dessas contribuições materiais que servirão para apressar a decisão final da guerra, o Brasil traz não menos valiosa contribuição moral, que se fará refletir dentro e fora do hemisfério.
"O secretário de Estado dos Estados Unidos, o Sr. Cordell Hull dirige uma vibrante mensagem ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil, Dr. Osvaldo Aranha, nos seguintes termos: "Hoje declara o Sr. Hull – um golpe formidável foi desferido contra as nações do Eixo, golpe moral e militarmente, quando uma grande nação pacífica e respeitadora dos tratados, vê se forçada a recorrer às armas em sua legitima defesa contra atos não provocados, de inominável barbarismo. Não foi, para meus compatriotas, surpresa alguma haver a digna nação brasileira preferido os riscos e dissabores da guerra, quando confrontada com a ignomínia de ataques á sua dignidade e soberania. O ato das potências do Eixo, ao atacar vosso país e seu brioso povo é mais uma demonstração de que essas potências atacarão qualquer nação pacífica, a despeito de considerações de humanidade e do direito do mundo. "O fato também vem realçar o princípio básico no qual se apóia a solidariedade das Repúblicas Americanas – Isto é, que um ataque contra qualquer uma delas é um ataque contra todas".
Apesar da criação da Liga das Nações, em 1919, o equilíbrio do poder foi rompido pela ascensão ao poder dos chefes nazistas e fascistas, como Hitler, na Alemanha, e Mussolini, na Itália. A paz foi rompida quando, apesar dos pactos anteriormente assinados, Hitler invade a polônia em 1º de setembro de 1939. Tradicionalmente, o Brasil guardaria uma neutralidade no conflito, não fossem dois acontecimentos importantes: em primeiro lugar, o ataque japonês a Pearl Harbor, em 1941; pelos compromissos assumidos pelas nações americanas (Pan-americanismo), o Brasil declara cortadas as relações diplomáticas com as potências do Eixo: (Alemanha, Itália e Japão); em segundo, o torpedeamento de navios brasileiros por submarinos alemães o que levou o Presidente Getulio Vargas a decretar o estado de guerra a 22 de agosto de 1942.




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