domingo, 29 de agosto de 2010

A AGONIA DO 6º EXÉRCITO


Deixou-se passar o Natal, para depois reduzir de 200 para 100 gramas a quota de pão. No dia 1º de janeiro, o serviço de saúde assinala as primeiras mortes por inanição. Está provado que o 6º exército não pode ser abastecido por via aérea. Para manter a promessa do chefe culposo, a Luftwaffe faz, em vão, um heróico esforço admitindo perdas que, contando 536 aviões de transportes, 149 caças e 123 bombardeiros, farão de Stalingrado uma batalha aérea tão dispendiosa quanto a da Inglaterra. As condições meteorológicas, contudo, são especialmente desfavoráveis, quando o céu se apresenta claro sobre Stalingrado, geralmente está nublado na região de Rostov, e vice-versa, de tal forma que o funcionamento da ponte aérea se vê entravado tanto na partida quanto na chegada. Como os russos haviam tomado Tazinkaia e Morosovskaia, os aeródromos de partida são transferidos para Salsk, Novocherassk e Cheretkovo, o que duplica a distância e reduz o rendimento dos aparelhos. A média diária de entregas, durante o cerco, não ultrapassará 94 toneladas, menos de um quinto do prometido a Georing.


A fim de conferir-lhe as folhas de carvalho da cruz de comandante, Hitler faz sair do bolsão o General Hube, Meu Fuhrer, diz Hube, o senhor mandou fuzilar vários generais do exército. Por que não manda fuzilar o general da Aeronáutica que lhe prometeu abastecer Stalingrado.


Esfuma-se toda esperança de libertação. Hoth batera em retirada, a princípio, passo a passo, com dor no coração, depois às pressas. O início de 1943 encontra o 4º exército blindado junto ao Kuberle, a 200 km de Stalingrado. É inapelável o abandono do 6º exército.


No bolsão, a situação é indescritível. A ração de pão está reduzida a 50 gramas. A gasolina é tão escassa que os únicos veículos autorizados a movimentar-se são as motocicletas com side-car. Os únicos feridos evacuados são os que tem força para arrastar-se até os aeródromos. A neve alteia-se em montículos, cadáveres de homens mortos de fome e frio.


A 8 de janeiro, uma bandeira branca flutua diante dos postos avançados. Três parlamentares soviéticos vêm oferecer a Paulus uma capitulação honrosa. Seguindo ordens de Hitler, Paulus a repele, determinando responder com fogo a qualquer nova tentativa de parlamentarão. No dia seguinte, os russos atacam. Os alemães defendem-se desesperadamente. O móvel da batalha é o terreno de Pitomnik, pelo qual se escoa a maior parte do tráfego aéreo. Os russos apoderam-se da área no dia 16. Agora o abastecimento s[o é possível pelo terreno ruim de Gumrak, tomado logo depois, e a seguir por meio de pára-quedas. Quatro quinto do bolsão foram perdidos. Os alemães são repelidos até o Volga, enclausurados em sua fatal conquista, as ruínas de Stalingrado. A 24 de janeiro, Paulus se comunica com Hitler. Não tem sentido, diz ele, o prolongamento da resistência. 18.000 feridos jazem sem assistência nos portões. O tifo alastra-se com virulência, esgotaram-se os víveres e munições. O comandante do exército solicita em conseqüência disso, autorização para capitular, e o comandante do grupo de exércitos, Manstein, apóia seu pedido em uma conversação telefônica de três quartos de hora com Hitler. Este permanece intratável. Proíbo qualquer capitulação. O exército deve resistir até a última bala. Seu heroísmo é uma inesquecível contribuição para o salvamento do ocidente.


No dia 25, os ataques russos recomeçam. No dia 26, o 62º exército reúne-se ao 21º, na colina Mamai. O 6º exército alemão é cortado em dois. Ao norte, o que sobra do 51º corpo entrincheira-se na fábrica de tratores. Ao sul, os despojos de quatro outros corpos amontoam-se no setor central da cidade, e Paulus instala seu último quartel general no subsolo da Univermag da Praça Vermelha. Com pressa para liquidar o inimigo, os russos bombardeiam furiosamente as ruínas de Stalingrado. Nenhum canhão responde , mas quando a infantaria tenta avançar entre os destroços, os últimos cartuchos barram-lhe o caminho.


No dia 30, Hitler nomeia Paulus General Feldmarschall. Nunca diz ele a Keitel, um marechal alemão se rendeu. O Fuhrer só espera um gesto do oficial que acaba de elevar à mais alta dignidade militar; o suicídio. Ignora que Paulus interditara precisamente essa porta de saída aos oficiais, ao dizer que deveriam compartilhar até o fim da sorte de seus soldados.


No dia 31, a luta se encontra praticamente terminada. Uma das últimas emissões radiofônicas do 6º exército descreve desta maneira a situação. Os soldados vagabundeiam, poucos ainda combatem, o comando não é mais exercido. Um momento após às 5h 45 min, os russos estão diante do bunker, vamos destruir o posto. Depois, por três vezes reped[tidas, o sinal C.L., significando: Esta estação encerra suas irradiações. Os russos alcançam efetivamente a univermag, cujo porão abriga o mais recente marechal, o primeiro marechal da derrota criado por Hitler. Ninguém atira. Um parlamentar soviético adianta-se e exige capitulação. É conduzido ao bunker, de onde sai um Paulus esquelético, quase indiferente. Sim capitula. Nada tem a acrescentar ao " Heil Hitler !" que proferira ainda na véspera. O modelo dos oficiais do Estado Maior parte em silêncio para o cativeiro.


Conhecemos, pelo texto estenográfico, as imprecações de Hitler. Há que matar-se com a última bala.... Desprezo um soldado que se rende, como Giraud... vinte mil pessoas se suicidam por ano na Alemanha e é absurdo que um general não seja capaz de fazer o mesmo que uma mulher ultrajada. Não farei mais marechais, o heroísmo de dezenas de milhares de soldados é manchado pela covardia de um só.. Verão que antes de oito dias os russos farão Paulus e Seydlitz falarem no rádio. Eles incitarão os homens do bolsão, incitarão toda a Wehrmacht a render-se.


Paulus nem teve tempo para incitar os homens do bolsão a render-se: os últimos deles capitularam a 2 de fevereiro.


Adolf Hitler se enganava igualmente em relação à data em que Paulus convidaria o exército e o povo alemão a depor as armas. O Nationalkomitee Freies Deutschland ( Comitê Nacional da Alemanha Livre) só foi fundado em 13 de julho de 1944, sob a presidência do Conde Bismarck-Enkel e do General Von Seydlitz. O Plebeu Paulus demorou-se mais do que esses nomes históricos a aderir à resistência alemã no exterior. Só deu esse passo depois de julho de 1944, quando soube do suplício a que foram submetidos alguns dos soldados por quem experimentava o maior respeito, como Witzleben e Hoeppner.


Paulus diz um de seus biógrafos, que tinha muita dificuldade em tomar decisões, e raramente distinguia o falso do verdadeiro. Os maiores talentos militares não teriam salvado o exército alemão da derrota em 1942, as deficiências pessoais de Paulus contribuíram para dar-lhe um caráter esmagador.

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