sábado, 28 de agosto de 2010

MANSTEIN ENTRA EM CENA

MANSTEIN ENTRA EM CENA



A fim de libertar o exército cativo, Hitler apela para seu mago militar, o estrategista que disputa com ele a glória do plano de Sedan , o artilheiro que esmagara Sebastopol, o idealizador das manobras que impediram o levantamento do cerco de Leningrado; Marechal de Campo Erich Von Manstein.


A tardinha do dia 21, em Vitebsk, Manstein recebe a ordem para assumir o comando do grupo de exércitos do Don. O despacho que determina sua missão revela a que distância da realidade se encontra o Alto Comando, e também a decadência a que chegara o pensamento militar alemão. Manstein deve sustar a ofensiva inimiga e restaurar as antigas posições exatamente da mesma maneira.


Manstein não se apressa. A correr o risco de um vôo entre as tormentas da neve, prefere viajar em seu trem de comando, só chegando no dia 24 a Starobelsk, Q.G. do grupo B, que deve desmembrar a fim de formar o seu. Ali ele avalia a gravidade da situação, o peso de seu encargo e a pobreza de meios de que dispõe para levá-lo a cabo.


Havia sido colocado sob as ordens de Manstein o 6º exército (encerrado em Stalingrado e preparado ao solo por ordem de Hitler), o 4º exercito blindado (reduzido à 16ª divisão motorizada), o 3º exercito romeno (que só apresentava intacta a ala esquerda) e o 4º exercito romeno (ainda mais mutilado do que o 3º). Dispõe ainda dos restos do 4º corpo blindado e do destacamento Hollidt, formado por um amálgama de tropas alemães, e romenas. E, finalmente, encontram-se a caminho do Cáucaso, e o 6º, a chegar da França, vai reconstituir ao sul de Stalingrado o 4º exercito blindado, encarregado de tirar Paulus do cerco. Uma outra a 17ª juntar-se-á posteriormente a elas.


Concentradas e repousadas, essas forças seriam insuficientes para a dupla tarefa de deter a ofensiva soviética s salvar o 6º exercito. Encontram-se, porém, fatigadas, incompletas e dispersas. Os reforços provenientes do Cáucaso e da França demoram-se em ferrovias desconjuntadas, com os homens a padecer o inferno do frio em vagões abertos aos quatros ventos. As outras unidades estão disseminadas por um campo de batalha de 800 km, que vão do Don, no qual Hollidt apóia sua ala esquerda, até a estepe calmuque, onde a 16ª divisão motorizada dá prosseguimento, no descampado. À missão de ligar o Cáucaso ao Volga. É um milagre que os russos parem no Tchir, diante de uma salada de exércitos formada por fugitivos detidos na debandada , membros da Luftwaffe, soldados do exercito de Paulus em licença, etc em vez de correrem até Rostov, onde barrariam as linhas de saída do grupo de exércitos A. Mas a metódica estratégia russa não quer passar o carro adiante dos bois, não avalia bem a deterioração do formidável adversário do ano precedente. O comando soviético poderia impor a Manstein uma batalha deses perada por Rostov. Deixa-lhe o vagar de fazer uma suprema tentativa por Stalingrado.


Esta tentativa suprema, declara o Marechal Eremenko, teria logrado bom êxito caso houvesse sido conduzido com audácia.


Até o dia 24 de setembro diz ele, só tínhamos forças de menor importância no setor de Kotelnikovo. O 51º exercito encontrava-se muito enfraquecido, e o 4º corpo de cavalaria representava uma densidade de menos de um pelotão por quilometro. Desde de 4 de dezembro, a 6ª divisão Panzer, completíssima e inteiramente repousada, uma vez que chegava da França, poderia ter aberto caminho até os sitiados. Uma vez mais, os adeptos de Hitler foram vítimas da rotina. Manstein nos deu dez dias de presente.


Manstein preparara de início uma engenhosa manobra. No ferrolho do Don, Hollidt deveria atacar para retomar Kalatch. O 48º corpo blindado, reconstituído com 2ª divisão Panzer, desembocaria da cabeça de ponte que conservara diante de Nijni-Tchirkaia, a fim de apoiar o ataque principal, levado a cabo pelo 47º corpo blindado, procedente da região de Kotelnikovo. O grupamento Hollidt, porém estava inteiramente absorvido pela defesa de Tchir e, ao invés de participar da ofensiva, o 48º corpo blindado é expulso da cabeça de ponte. Em lugar de uma pressão concêntrica, a tentativa para romper o cerco reduz-se a um solitário esforço do 57º corpo. Fixado para 2 de dezembro, o ataque é adiado para 8, depois para 12, devido a desesperante lentidão dos transportes.


Existe, além do mais, um conflito entre as concepções de Manstein e Hitler. O rompimento do cerco de Stalingrado é considerado pelos dois homens com objetivos inteiramente diversos.


O marechal quer recuperar o 6º exército para reintegrá-lo nas forças móveis da frente oriental. Vê sue escoamento pela brecha aberta, para reconstituí-lo na região de Rostov. Vê igualmente o grupo de exércitos A a retirar-se do Cáucaso até o Don. Tendo o conjunto de manobras reconstituído pela diminuição do teatro de operações, Manstein acredita ser possível dobrar a ofensiva soviética e talvez infligir ao exécito vermelho a tão esperada derrota decisiva. Aspira a dirigir o quadro da batalha e, quando demonstra a necessidade de um comandante-chefe na frente oriental, não há dúvida possível sobre a identidade do titular que tem em vista.


Ninguém contesta que Manstein seja o mais apto, talvez mesmo o único homem para desempenhar essa tarefa. A hora militar de Hitler já passou. Se é bem verdade que ele tivera no início da guerra, admiráveis inspirações. se é indiscutível que salvara as forças armadas durante o inverno de 1941-1942: se é fato verídico que o plano de sua campanha de verão representara a última oportunidade de evitar a derrota total da Alemanha, é igualmente verdadeiro que o Fuhrer constitui agora um imenso perigo para suas tropas, configurando-se em seu mais cruel inimigo. Apagou-se em seu cérebro todo e qualquer raciocínio estratégico, permanecendo apenas a vontade cega e feroz de manter tudo o que conquistara. Romper o bloqueio de Stalingrado não significa para ele a recuperação de um exército, para depois retomar a iniciativa das operações, mas unicamente a possibilidade de manter o pé fincado no Volga.


A marcha sobre Stalingrado tem uma brilhante estréia. Das duas divisões blindadas do 47º corpo, a 23ª, procedente do Cáucaso, está reduzida a cerca de quarenta tanques, porém a 6ª, procedente da França, encontra-se completa. O primeiro choque leva-a à passagem do monte Akssai, que franqueia no dia 13. À direita, não obstante sua fraqueza, a 23ª progride ao longo da ferrovia, na qual lograra acumular 3.000 toneladas de víveres e combustível para os sitiados. No dia 19, Mischkova é atingida. São cobertos 130 doa 180 km que separam do 6º exército o 4º exército blindado, e os libertadores vêem do céu as luzes dos projetores dos que defendem Stalingrado.


Manstein, entretanto não alimenta ilusões. Sabe que os acontecimentos a precipitar-se diante de Rostov só lhe deixam um limitado espaço de tempo para agir. A única possibilidade de salvação para o 6º exército consiste em ajudar-se a si mesmo, dirigindo-se com rapidez ao encontro de Hoth. Manstein ordena-lhe que o faça, multiplica as conversações radiofônicas com Paulus e, preocupado com as reticências deste, envia ao bolsão um oficial do estado-maior, o major Eismann que retorna confirmando o singular estado de espírito em que se encontravam o comandante do 6º exército e seu chefe de estado-maior. A tese destes era a de que não fora a troco de nada que se encontravam cercados, e, logo tinham direito de esperar pela libertação. Estimavam que a mobilidade da centena de tanques que lhe restava limitava-se a trinta quilômetros, aproximadamente, e dessa forma, sofreria pane, condenando-se à mais completa destruição caso atacasse antes que Hoth atingisse ao menos aquela distância. Eismann retruca vivamente que o risco que recusam correr nada é perto do de morrer de fome ou apodrecer na prisão. Paulus e Schmidt são inabaláveis, e quando Eismann invoca a autoridade do marechal Von Manstein, eles invocam outra ainda mais alta, a do Fuhrer.


E é realmente Adolf Hitler quem proíbe a saída da guarnição de Stalingrado. A Zeitzler, que a requer noite e dia, ele responde que considera o 6º exército praticamente fora de perigo, e que longe de admitir o abandono de Stalingrado, tem em mira a expansão de suas forças pelo Volga. Certo dia, acreditando tê-lo convencido, Zeitzler apresenta-lhe a ordem de abrir passagem, a fim de que a assine. Hitler assina, e depois e depois acrescenta de seu punho a seguinte condição que invalida tudo: " sob a expressa reserva de que o exército alemão continuará a manter a linha do Volga." Quanto ao mais, a situação é bem nítida. Uma nova catástrofe atinge as forças do Eixo e sela o destino do exército sitiado em Stalingrado.


Após a derrota romena. A frente situada a oeste do Don estabilizara-se aos poucos. Ela seguira o curso do rio até Veschekaia, dobrara em direção ao sul, alcançara novamente o Tchir, no qual se fundira até seu confluente, e reencontrara o Don ao norte de Potemkinkaia. Inteiramente enregelados, os cursos de água não apresentam o menor valor como obstáculo. As posições defensivas não inexistentes e, à progressão dos tanques a estepe opõe sua superfície coberta de neve. O termômetro baixa a -30º ou -35º C, para grande surpresa dos italianos, a quem seus aliados haviam garantido que o frio, no sul da Rússia, não ultrapassava jamais os 5 ou 6º C. Insuficientemente agasalhados, mal alimentados, os homens deperecem. Algunsas vezes, o sol faz magias na neve, mas o tempo normal é o de um nevoeiro gelado, que só desaparece para descobrir um céu plúmbeo.


Na direção leste-oeste, a frente é sustentada pelos restos do 3º exército romeno, o destacamento do exército Hollidt, o 8º exército italiano e o 2º exército húngaro. Ninguém ignora que o elo mais frágil dessa longa corrente é o italiano. Hitler se inquieta por causa dele, ao ver o relatório de 12 de dezembro, porém não existe nenhuma força alemã disponível para "cintar" as divisões do General Gariboldi. Estendendo-se por 270 km de frente, quatro corpos do exército italiano, o 29º, o 35º, o 2º e o alpino, esperam um embate cuja preparação é lida pelos estados-maiores como uma carta aberta.


O encontro ocorre no dia 16 de dezembro. O 1º exército soviético da Guarda cruza o Don em meio do nevoeiro e abate-se sobre o centro da frente italiana. A estepe é novamente invadida por massas em debandada. Uma testemunha, o general alemão Fretter-Pico, descreve o efeito surrealista produzido pelos bandos de soldados italianos, "tendo por única arma um violão", e andando rumo ao oeste a cantar, malgrado o rigor do frio. Hitler telegrafa a Mussolini, pedindo-lhe que lance um apelo a seus soldados, para que interrompam a fuga. O Duce, irritado, não responde.


Durante o dia 16, os russos avançaram 25 km. Nos dias seguintes a ofensiva se estende. A direita russa, o 6º exército marcha sobre Vorochilovgrado e Stalino. A esquerda, o 3º exército da guarda e o 5º exército blindado prolongam o ataque na frente do Tchir. Obrigado a voltar-se, o grupo Hollidt combate em difíceis condições. As passagens do Donetz inferior, Kamensk, Schatinsk e Forchstadt, são ameaçadas. Rostov está em perigo. Tem-se em vista uma Stalingrado ampliada, uma Stalingrado de 1.000.000 de homens.

A situação do 4º exército blindado é particularmente arriscada. Enquanto a frente alemã se desmorona e o avanço russo ameaça Rostov, ele se agarra à passagem da Mischkova esperando que o exército de Paulus se decida a sair de Stalingrado. O caráter sagrado de sua tenta o moral, mas Hoth não cessa de advertir que asua presença ali pende de um fio, e que sua retirada vier a seu encontro. Na antevéspera do Natal, um apelo do grupo de exércitos precipita esta retirada: Manstein, o informar Hoth da situação a oeste do Don, pede-lhe a cessão de uma de suas divisões blindadas, para tentar restabelecer o combate na região de Morosovkaia. Hoth, consiste do perigo, designa a mais forte, a 6ª. Esta se põe a caminho em direção a Potiomkinskaia, entre uma nevasca, levando a última oportunidade de salvação dos sitiados de Stalingrado.

Um comentário:

  1. Os alemães presos no cerco na área de Stalingrado se retiraram para os subúrbios da cidade. A perda de dois aeroportos, em janeiro, pôs um fim à ponte aérea e a evacuação de feridos. A partir daí não houve mais pousos da Luftwaffe em Stalingrado, que, entretanto, continuou a jogar sobre a parte da cidade ocupada por suas tropas, comida e munição até a rendição final. De qualquer maneira, mesmo com poucos meios, eles continuaram resistir, em parte por não querer cair prisioneiros nas mãos dos soviéticos, acreditando que seriam executados sumariamente. Em particular, os hiwis (voluntários soviéticos anticomunistas lutando ao lado dos alemães) não tinham a menor ilusão sobre seu destino se fossem capturados.
    Apenas 5 mil dos 91 mil prisioneiros de guerra alemães em Stalingrado sobreviveram ao cativeiro e retornaram para casa depois da guerra. Após a rendição, eles foram mandados para campos de trabalho por toda a União Soviética, doentes, sem cuidados médicos e com fome, e a grande maioria deles morreu de maus tratos, má nutrição e trabalhos forçados. Dos 91 mil alemães feitos prisioneiros em Stalingrado, 27 mil morreram em questão de semanas e apenas 5 mil voltaram à Alemanha, muitos deles apenas dez anos após o fim da Segunda Guerra Mundial; os demais morreram nos campos de concentração ou de trabalho soviéticos; 50 mil hiwis, voluntários soviéticos que se juntaram as tropas alemães, forma mortos ou aprisionados pelo Exército Vermelho.
    Dados de arquivos mostram que os soviéticos sofreram cerca de 1.130.000 baixas, sendo 480 mil mortos e prisioneiros e 650 mil feridos em toda área de Stalingrado. Na cidade, 750 mil foram mortos ou feridos. Além disso, 40 mil civis soviéticos foram mortos em Stalingrado e seus subúrbios numa única semana de bombardeio aéreo, enquanto o 6º Exército e o IV Exército Panzer se aproximavam da cidade em julho de 1942; o total de civis mortos nas áreas fora da cidade é desconhecido. No total, a batalha resultou num total de 1,7 a 2 milhões de baixas de ambos os lados.

    Além de ser um ponto de virada na guerra, Stalingrado também revelou a extrema disciplina e determinação tanto dos soldados da Wehrmacht quanto os do Exército Vermelho. No princípio, os soviéticos defenderam a cidade de todas as maneiras contra uma força arrasadora alemã. Suas perdas eram tão grandes que a expectativa de vida de um novo soldado em combate na frente era de um dia. O sacrifício destes homens por Stalingrado foi imortalizado por um soldado do general Aleksandr Rodimtsev, um dos comandantes locais, que escreveu na parede da estação ferroviária da cidade – que mudou de mãos quinze vezes durante a batalha – a frase: – os homens da guarda de Rodimtsev aqui lutaram e morreram pela mãe-pátria.
    Por outro lado, os alemães mostraram admirável disciplina após terem sido cercados, na primeira vez em que lutaram sob condições adversas desta escala na guerra. Durante as últimas semanas do cerco, muitos soldados morreram de fome e frio mas ainda assim a disciplina foi mantida até o fim, quando a resistência não tinha mais sentido. Mesmo o comandante do 6º Exército, Paulus, obedeceu às ordens de Hitler de não tentar romper o cerco, contra todos os conselhos dos generais do alto-comando da Werhmacht, incluindo Von Manstein, que ainda tentou levar suas tropas até as proximidades de Stalingrado debaixo de luta, mas foi obrigado a recuar e deixá-los entregues à própria sorte, sem comida, munição e agasalhos. Quando finalmente se rendeu, o primeiro marechal alemão a se render em combate na história da Alemanha declarou: '– Não tenho intenção de me suicidar por aquele cabo da Baviera.'



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