sábado, 20 de março de 2010

LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 20

22 DE ABRIL


Em abril de 1945, a situação tornou-se crítica. Basta dizer que, enquanto os grupos americanos faziam 48 saídas diárias com 45 pilotos, o nosso realizava 40 saídas com 23 pilotos, total a que estávamos reduzidos, incluindo naquele número o comandante e o oficial de operações, que normalmente, não deve ser computados.


Abril, mês crítico e decisivo para a causa aliada, sofrendo sérias e dolorosas perdas, mas foram como chuvas de abril que brotaram flores em maio.


O dia 22 de abril é comemorado na Força Aérea Brasileira por ter sido o dia em que o grupo de caça brasileiro, no auge de sua atividade, cobriu-se de glórias e obteve, o máximo de resultados, os seus ataques, nesse dia, na região de San Benedetto, foram um fator decisivo de cabeça de ponte aliada na mesma direção.


O relatório oficial do mês de abril do 350º Regimento de Caça, enviado a Washington naquela ocasião, diz o seguinte: Durante o período de 6 a 9 de abril de 1945 o Grupo de Caça Brasileiro voou 5 por cento das saídas executadas pelo XXII Comando Aéreo Tático e no entanto, dos resultados obtidos por este comando, foram oficialmente atribuídos aos brasileiros: 15 por cento dos veículos destruídos, 28 por cento das pontes destruídas, 36 por cento dos depósitos de combustíveis destruídos e 85 por cento dos depósitos de munições destruídos.


Nos dias 21, 22,23 e 24 de abril de 1945 os ataques da aviação aliada foram em número jamais vistos no teatro de operações do Mediterrâneo. Tinha-se que evitar, a todo custo, que o inimigo atravessasse o rio Pó em ordem e em condições de oferecer resistência ao norte do rio.


No conjunto grandioso da ofensiva aérea maciça desencadeada, o Grupo de caça Brasileiro desempenhou com bravura e brilhantismo a sua pequena parcela.


O que foi sua atuação no dia 22 de abril de 1945, pode ser avaliado melhor pelo texto da proposta de citação, enviada pelo comandante do 350º Regimento de Caça.


APO 650


17 de maio de 1945


Assunto: Recomendação para citação.


Ao, General Comandante do XXII Comando Aéreo Tático, APO.650. Proponho-vos seja o 1 Grupo de Caça Brasileiro citado pelos relevantes feitos realizados no conflito armado contra o inimigo, no dia 22 de abril de 1945, de acordo com a circular nº 333 do departamento de guerra, datado de 22 de dezembro de 1943 e pela circular nº 89, no teatro de operações da áfrica, datado do dia 10 de julho de 1944.


Seus notórios serviços em batalha, no dia acima mencionado, são provados na presente proposta de citação, mas vos peço a atenção para o espírito que o pessoal tem constantemente demonstrado.


Esses grupo entrou no serviço de combate na época em que a oposição antiaérea aos Caças Bombardeios estava em seu auge.


Suas perdas têm sido constantes e pesadas e tem sido poucas as substituições. Como seu número cada vez mais diminuído, cada piloto voava mais, expondo-se com freqüência.


Em muitas ocasiões, como comandante do regimento, retive esses pilotos, quando eles queriam continuar a voar, por que acreditava que já havia transposto o limite de suas possibilidades.


A perícia e a coragem demosntradas nada deixam a desejar. Chamo-vos a atenção para a esplêndida exibição do seu trabalho contra todas as formas de interdição e coordenação de alvos.


Em minha opinião, seus ataques na região de San Benedetto, no dia 22 de abril de 1945, ajudaram a preparar o caminho para a cabeça de ponte estabelecida pelos aliados, no dia seguinte, na mesma região. Cada ataque foi bem planejado e bem executado. A fim de completar isso, o 1º grupo de caça brasileiro, em seus feitos, excedeu os de todos os outros grupos e sofreu sérias perdas.


A superioridade do pessoal de vôo e de terra é igualmente demonstrada no completo sucesso aéreo.


Acredito estar refletindo o sentimento de todos os que conheceram o trabalho do 1º grupo de caça brasileiro, ao recomendar que eles recebam a Citação da Unidade. Tal citação, é não só altamente meritória, mas tornar-se-ia carinhosa à lembrança dos brasileiros, na comemoração dos esforços que foram desenvolvidos neste Teatro.


Ariel W. Nielsen


Coronel de Aviação – Comandante.


Os componentes do 1º grupo de caça brasileiro são citados pelos relevantes serviços prestados, em ação contra o inimigo, no teatro de operações do Mediterrâneo, no dia 22 de abril de 1945.


Pelos heróicos serviços, envoltos na mais alta bravura e habilidade, no reconhecimento armado e ataques da caça bombardeios e, pela soberba demonstração de tática coordenada com o 5º exercito, o que contribuiu diretamente para que os aliados cruzassem o rio Pó. Em exemplar harmonia com os objetivos da campanha do vale do Pó, os brasileiros destruíram vasta quantidade de veículos e material inimigo, evitando, desta maneira, a escapada do inimigo para as fortes defesas já preparadas na retaguarda.


Pela localização de uma garagem, pesadamente defendida e habilmente camuflada, nas proximidades de Mantova, Itália, na qual. 3 ataques destruíram, no mínimo, 45 veículos e, indubitavelmente, imobilizaram muito mais. Pelo arrasamento de pontões inimigo no rio do Pó, ajudaram a frustrar sua retirada, deixando muitos alemães sem meios de escapar. Pela vigilante cobertura aérea nas redes de estrada e posições de batalha organizadas, destruíram muitos outros veículos, incluindo peças de campanha blindadas e arrasaram várias posições de trincheiras.


Nas perdas que sofreram nessa ocasião, como também em muitos ataques anteriores, tiveram seu número de pilotos reduzidos à metade, em relação aos grupos da força aérea do exército dos Estados Unidos que operavam na área, porém voaram um número igual de surtidas, operando incansavelmente e além do normal previsto.


A manutenção de seus aviões foi altamente eficiente, a despeito das avarias sofridas pela antiaérea, do uso e do desgaste de intensivos esforços.


Contornaram as sérias dificuldades atmosféricas com excelentes planos de navegação. Pelo mais hábil emprego da câmara fotografou o resultado de seus ataques e forneceram relatórios fotográficos de uma histórica campanha. No final do dia, durante o qual 11 missões e 44 surtidas foram efetuadas, destruíram 97 transportes a motor e avariaram 17, destruíram um parque de viaturas, imobilizaram 35 veículos de tração animal, avariaram uma ponte rodoviária e uma ponte de barcas, destruíram 14 edifícios, ocupados pelo inimigo e avariaram 3 outros e atacaram 4 posições militares.


A brilhante capacidade, incansável devoção ao dever e heroísmo demonstrados pelos oficiais e praças do 1º grupo de caça brasileiro, durante essas operações e em muitas outras ocasiões, tornaram seus serviços distinguidos e têm refletido grande crédito para eles e para as Forças Armadas das Nações Aliadas.


Infelizmente a citação acima não chegou a ser oficializada, porque as citações só eram concedidas, em nome do Presidente norte americano, a unidades norte americanas de tamanho superior ao Grupo de Caça Brasileir, de Regimento para cima.


Somente duas unidades não pertencentes ao Exército dos Estados Unidos que lutaram na 2ª Grande Guerra Mundial mereceram a Prsidential Unit Citation. Um Esquadrão da Força Aérea Britânica (RAF) Real Air Force e o 1º Grupo de Aviação de Caça Brasileiro.


Coube ao então Major da Reserva John W. Buyers, ex-oficial de ligação entre o 1º grupo de caça brasileiro e a força aérea dos Estados Unidos na Itália, o trabalho de desencalhar a proposta dos arquivos e reavivá-la obtendo sua concretização.


John Buyers, pessoa prestativa, norte americano de quem os brasileiros guardam gratas recordações, tomou parte nas operações do nosso grupo de caça, vindo juntar o seu nome ao desses bravos, a quem sempre prestamos nossas homenagens.


Ele se interessou muito pelo assunto e começou a trabalhar pela aprovação da referida citação. Levando a vantagem de ser americano, e sua facilidade de penetração nas embaixadas dos Estados Unidos, preparou toda documentação necessária para a apresentação do pedido.


Foi à Embaixada Americana em Brasília, entrou em contato com os adidos aeronáuticos americanos que demonstraram grande entusiasmo. Buyers ficou na expectativa por alguns meses e finalmente foi informado de que o Presidente Ronald Reagan havia assinado a aprovação com o seguinte comentário: Desejaria muito poder pessoalmente entregar essa citação ao 1º Grupo de Caça Brasileiro, mas infelizmente, se eu fosse a pessoa, causaria tanto transtorno que enviarei meu representante.


Quarenta e um anos depois do término da 2ª Grande Guerra Mundial os integrantes do 1º Grupo de Aviação de Caça que serviram na Itália, do pracinha menos graduado ao Comandante da Unidade, receberam a Prsidential Unit Citation dos Estados Unidos da America. Isto é, receberam a passadeira azul Blue Ribbon correspondente à medalha. A medalha propriamente dita foi colocada na Bandeira do Grupo.


A entrega da comenda deu-se no dia 22 de abril de 1986, dia da Aviação de Caça da FAB, em solenidade na Base Aérea de Santa Cruz, Rio de Janeiro, com a presença do Presidente da República José Sarney, e o secretário da Força Aérea Americana, Sr. Edward Aldridg Jr.


Pronunciamento do Exmo. Sr. Secretário da USAF – Edward Aldridg Jr.


Seu discurso foi traduzido para o português, palavra por palavra pelo locutor, Cid Moreira da Televisão.


Bom dia, Sr. Presidente, senhoras e senhores,


É com grande honra para mim poder, em nome do Presidente dos Estados Unidos da America, pagar uma antiga dívida de gratidão aos notáveis homens que integraram o 1º Grupo de Caça da FAB.


Neste mesmo dia, há 41 anos, este nobre grupo de homens do ar conquistou, dramaticamente, nos céus da Itália, uma série de sucessos e vitórias que cobriram esta nação de glória.


A eficiência que eles demonstraram sobre a região de San Benedetto foi decisiva para que os aliados estabelecessem uma cabeça de ponte, sobre o estrategicamente importante rio Pó.


Estes jovens corajosos tornaram-se os primeiros brasileiros a deixar sua terra natal para lutarem pela causa da democracia. Nossos convívios mais íntimos começaram em janeiro de 1944.


O esquadrão fora treinado no Pannamá em Nova Yorque, e rapidamente demonstrava disposição e prontidão para o combate.


Seu batismo de fogo ocorreu na Itália, em outubro de 1944, numa época em que a artilharia antiaérea contra os P 47 era mais intensa. Em um mês eles estavam operando como veteranos. O calor dos combates aéreos trouxe vitórias mas também pesadas e contínuas baixas em um momento em que eram raros os recompletamentos de pilotos. O então Comandante do 350º Grupo de Caça exortou a bravura de seus comandados quando assim escreveu na primavera de 1945.


Com o número de pilotos diminuía, cada um deles passou a voar mais, expondo-se com maior freqüência. Em várias ocasiões, como Comandante do 350º Grupo de Caça, eu fui obrigado a mantê-los no chão quando insistiam em continuar voando, por que eu acreditava que eles já haviam ultrapassado os limites de sua resistência física.


A Condecoração Presidente Unit Citation só é concedida por atos de extremo heroísmo contra o inimigo armado. O notável desempenho destes brasileiros, como os senhores poderão comprovar, excedem em muito este critério.


Em abril de 1945, as forças aliadas lançaram uma grande ofensiva para dominar a resistência nazista na Itália. Em apoio a esta operação de seus pilotos voaram mais do que o dobro das missões voadas nos meses anteriores. Além de uma oposição aérea contínua, eles encontraram uma antiaérea mortífera. Proveniente de mais de 22 locais diferentes.


As condições meteorológicas tanto na Base quanto na área dos alvos eram tão ruins que obrigavam, mesmo ao mais ousado piloto, a pousar em campos de emergência. Seus homens do ar voaram e lutaram até que se esgotassem o combustível e a munição. O último avião pousou na escuridão da noite. O valor que eles demonstraram nos céus da Itália jamais será esquecido.


Nós lutamos ombro a ombro para destruir o nazismo na campanha da Europa, da mesma maneira com que nos unimos hoje para apoiar os objetivos democráticos neste hemisfério. Estou contente com o excelente relacionamento de trabalho que as nossas Forças Aéreas têm mantido. Os intercâmbios anuais entre as tripulações de C 130 e F 5, e mais recentemente entre as equipagens de busca e salvamento, são exemplos de um trabalho mútuo, contínuo e produtivo. Nossa cooperação mútua nestas áreas é um tributo à bravura, ao espírito de aventura e ao amor à liberdade, demonstramos de maneira tão marcante pelos homens do 1º Grupo de Aviação de Caça há 41 anos. O espírito de cooperação que possuíram será sempre um modelo a ser seguido por todos aqueles que vierem a conhecer a história. Eles colocaram o amor à Pátria e o amor à liberdade acima de seus próprios interesses.


Como disse o seu antigo Comandante uma vez: Eram um punhado de homens com recompletamento limitado, freqüentemente exaustos, mas decididos a alcançar, com heroísmo, seus objetivos.


350º FIGHTER GROUP


Resumo de suas atividades na campanha do Mediterrâneo


Em outubro de 1944, já na Itália, o 350º FG recebeu o seu quarto Esquadrão, o 1º Grupo de Caça Brasileiro.


O 350th Fighter Group iniciou operações em defesa da Costa Norte da África, poucos dias depois que seus contingentes de apoio terrestre e apoio aéreo se juntaram na cidade de Oudja, no dia 03 de janeiro de 1943, no Marrocos Francês. Na realidade, seu contingente terrestre já havia chegado ao Norte da África nos primeiros dias de novembro de 1942. Vindos da America do Norte, junto com o Comboio da Operação Torch para a invasão do Norte da África.


Poucos dias mais, iniciaram suas primeiras missões defensivas, patrulhas, assim também como suas missões ofensivas, ataques a posições alemães nos céus da Tunísia. Eram um total de três Esquadrões de Caça denominados 345thFS, 346thFS e o 347thFS.


De início seis esquadrões voaram suas missões utilizando aviões do tipo P 39, mais tarde, quando chegaram à Itália, voavam aviões tipo P 47. Nós meses de junho a setembro de 1943, cada Esquadrão recebeu 2 aviões tipo P 38 para interceptarem e destruírem aviões da Luftwaffe que efetuavam vôos de reconhecimentos em grandes altitudes, afim de fotografarem a Frota Invasora Aliada que se reunia para a invasão da Sicília.


Durante toda a campanha do Mediterrâneo, voaram mais de 37.000 missões de Guerra, sendo que 16.600 foram do tipo defensivo e mais de 20.000 missões ofensivas, tendo o 1º Grupo de caça brasileiro efetuou um adicional de 2.546 missões ofensivas. As maiorias das missões defensivas foram feitas, utilizando os P 39 Aerocobras e os P 38 Lightinig, enquanto que a maioria das missões ofensivas foram executadas utilizando-se o P 47, enquanto que 700 missões defensivas foram executadas com os P 47, especialmente na proteção do Comboio da Invasão ao sul da França.


O 350FG perdeu 95 pilotos mortos em combate ou por acidentes, sendo que desses totais, 5 foram do 1º grupo de caça. Outros 25 pilotos foram abatidos em missões ofensivas, porém, os pilotos evadiram captura em territórios inimigos, ou saltaram de para quedas ou tiveram pousos forçados em territórios aliados, dos quais 5 foram pilotos brasileiros. Ao menos 16 pilotos receberam ferimentos em combates, mas conseguiram retornar a sua base ou em outra base aliada. Três desses foram pilotos do 1º grupo de caça brasileiro, 13 pilotos foram internados em territórios neutros, mas foi permitido saírem incógnitos e com roupas civis, rumando para Gibraltar.


Aproximadamente33% dos pilotos americanos que serviram no 350FG caíram em uma dessas categorias acima referidas. Para os brasileiros, cerca de 44% de seus pilotos formaram nessas categorias acima referidas. Não obstante, uns 700 pilotos do 350FG conseguiram retornar a sua base de origem ou alguma outra base aliada, com avarias em seus aviões, provocados pelo Flak inimigo.


Em contra partida da balança, os pilotos do 350FG despejaram 7.000 toneladas de bombas e dispararam m ais de 30 milhões de cartucho tipo 50mm na destruição de instalações ou posições inimigas

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