domingo, 23 de maio de 2010

LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 25



Aspirante Aviador Raimundo da Costa Canário – O seu avião foi atingido na manhã do dia 15 de fevereiro de 1945, quando voava integrando um esquadrilha rumo ao território inimigo, na zona de Bolonha. Inquieto, procurou olhar ao redor. Nada percebera a não ser ligeiro estremecimento e as explosões das grandes antiaéreas em torno de sua esquadrilha.

Mas, logo a seguir, percebeu que seu Thunderbolt pegava fogo. O calor já se fazia insuportável dentro da nacele a após comunicar aos seus companheiros o que sucedia, decidiu fazer a única coisa indicada para a circunstância: saltar de pára quedas.

Não sabia se voava sob território inimigo ou amigo, mas não tinha outra alternativa. Saltou e desceu lentamente para a terra. Ao chegar ao solo, desembaraçou-se do pára quedas e quando se preparava para tomar rumo viu, ainda muito longe, um grupo de soldados que corria em sua direção.

Envergavam farda verde. E a farda verde era a cor do uniforme alemão e também do brasileiro. Não gostou da atitude dos soldados que gesticulavam muito e tratou de correr em direção oposta.

Quando mais o tenente canário corria, corriam também seus perseguidores. Ouvia gritos, mas não podia perceber o significado e a distância entre ele e os soldados de uniforme verde oliva diminuía cada vez mais. Canário sentia-se perdido, irremediavelmente. Armou sua pistola calibre 45 e procurou um lugar onde pudesse, pelo menos vender caro a vida.

Súbito ouve um palavrão. Alguém o ofendera gravemente. Antônio, pára e olha para trás. Escuta mais alguns palavrões e dos mais pesados, em bom e gostoso português. Esboçava um sorriso, depois de um suspiro de alívio. Os perseguidores eram soldados brasileiros do 6º Regimento de Infantaria.

Nunca uma ofensa foi tão bem recebida pelo tenente Canário. Canário caiu na terra de ninguém, mas próximo às linhas brasileiras ocupadas pelo 6º Regimento. Os pracinhas acompanharam a descida do pára quedas e correram para auxiliar o tenente. A semelhança da cor dos uniformes é o que gerou toda a confusão.

Os pracinhas gritavam para que ele parasse, pois estava correndo em direção as linhas inimigas alemãs e dentro em pouco atingiria as primeiras posições da infantaria inimiga. Canário realizou 51 missões ofensivas.

Capitão Aviador Theobaldo Antônio Kopp – Teve seu avião atingido pelas baterias antiaéreas inimigas, no dia 7 de março de 1945, saltou de pára quedas sobre o território inimigo, caindo perto de Reggio. Os partigiani da região de Suzara regozijavam-se com a refrega que o inimigo vinha sofrendo, havia uma semana desde que certos aviões escuros com calda verde e amarela haviam descoberto e feito explodir quase todos os seus pequenos depósitos.

Quando um piloto foi obrigado a saltar, no caso Capitão Kopp, os partigiani acorreram solícitos e levaram-no para um local seguro, oferecendo-lhe abrigo até a chegada dos aliados.

Quando tanques americanos, rugindo pelas estradas, ultrapassaram a região, decidiram os partigiani que era oportuno caminhar com o Capitão ao encontro das autoridades aliadas.

Em caminho encontraram um grupo de soldados alemães retardatários. Foi só tempo de mergulharam numa vala para não receberam as rajadas lançadas pelo inimigo. Os tiros começaram a passar certeiros, matando o chefe do grupo e encurralando-os todos em evidente inferioridade. Todos menos um, que conseguira escapulir de início para buscar reforços. Não tardou muito a voltar com novo contingente, que inverteu a situação e liquidou a escaramuça. Horas mais tarde, pelo fuzilamento sumário dos remanescentes germânicos.

No último dia de fuga Kopp roeu assim momentos amargos, que quase lhe levaram a sorte por água abaixo. Quase... Realizou 58 missões ofensivas.

1º Tenente Aviador Othon Corrêa Netto – Abatido no dia 26 de março de 1945. Liderando a esquadrilha através de mau tempo conduziu-a corretamente até à ponte de Casarça, onde efetuaram bombardeio picado, com intensa reação antiaérea.

Corrêa Netto voltou então, para atacar a foguetes as posições de artilharia, ocasião que fora atingido, usou o pára quedas a uns 1500 metros de altura, quando o avião começou a incendiar-se.

Havia esperanças que se foragisse, porque constava existirem partigiani na área. Esteve realmente por um triz, mas terminou prisioneiro. Tocando o solo, escondera-se com o pára quedas em meio ao capim alto, percebendo soldados por todo canto, a esquadrinhar cada palmo do terreno.

Civis, que passavam, olharam-no cheios de simpatias, como quem pede desculpas por não poder ajudar, e seguiam adiante taciturnos. Aconteceu o inevitável, foi feito prisioneiro, seguiu o caminho já antes percorrido por Motta Paes e Assis, através do passo de Brenner.

A mesma visão de ruínas e ódios, o mesmo tratamento cada vez pior os longos e estafantes interrogatórios.

Regressou ao grupo a 15 de maior de 1945, depois de ter sifo libertado pelas tropas aliadas. Foi abatido na sua 58ª missão ofensiva.

2º Tenente Aviador Armando de Souza Coelho - Abatido no dia 19 de abril de 1945, quando regressavam de uma missão de bombardeio a um quartel general de uma divisão inimiga que opunha resistência ao avanço do Oitavo Exército.

O tenente Armando teve seu avião atingido no sistema de lubrificação e continuou voando já sem óleo, no desesperado esforço para alcançar território aliado na altura de Revenna, ocasião que usou pára quedas, com sucesso, cinco milhas ao norte daquela cidade, dentro das linhas amigas.

Vale salientar que o tenente Armando terminou a guerra ileso, apesar de ter sido o piloto mais atingido pela antiaérea. Realizou 62 missões ofensivas.

2º Tenente Aviador Marcos Eduardo Coelho de Magalhães – Abatido pela artilharia antiaérea a 22 de abril de 1945. Saltou de pára quedas, mas quando se aproximava do solo começou a sentir que estava servindo de alvo aos fascistas que abaixo se aglomeravam. Começou a fazer evasivas com o pára quedas e não pode evitar sua queda sobre o telhado de uma casa e a conseqüente fratura dos tornozelos.

Aprisionados dele se aproximou um oficial italiano que ameaçava com uma arma. Naquele momento, um cabo alemão interferiu em favor do piloto brasileiro, não permitindo que o italiano continuasse com as ameaças. Fez transportar o tenente Coelho, embarcando com ele no caminhão e levando-o para um hospital nas proximidades de Reggio.

Aí, o brasileiro foi tratado como verdadeiro hóspede de honra, coisa que certamente o intrigava, até o dia em que, sendo procurado pelo diretor do hospital, passou a compreender a razão de ser daquilo tudo.. Explicara-lhe o médico alemão que, devendo abandonar o hospital, imediatamente, seria forçado a deixar ali os feridos acompanhados de dois serventes, pois não tinha meios para retirá-los.

Passados alguns dias chegaram os partigiani, tendo o tenente Coelho tomado a si, o encargo de evitar que os enfermos alemães fossem maltratados pelos italianos.

O médico nazista tivera razão ao ser tão cauteloso e nosso piloto, mesmo ferido, teve oportunidade de salvar muitas vidas. Foi abatido na sua 85º missão ofensiva.

2º Tenente Aviador Renato Goulart Pereira - Teve seu avião atingido a nordeste de Treviso, no dia 30 de abril de 1945, pouco além das linhas aliadas, que já alcançavam a região.

Tentou alcaçá-las seu guia de esquadrilha, voava mais baixo, observava bem o que ocorria, os cofres de munição atingidos pela face inferior se incendiavam, em risco talvez de decepar a asa.

Mas, nossos exércitos estavam tão perto que valia a pena insistir, conseguiu restabelecer a calma no Goulart, assegurando-lhe ir tudo em ordem. Logo depois, porém ultrapassando de vez o inimigo ajuntou entre aliviado e cínico. Bom agora é saltar, porque o seu avião está pegando fogo. Não foi preciso segundo aviso. O Tenente Goulart saltou de pára quedas a oeste de Lago camacchio, sendo recolhido pelas tropas inglesas. Realizou 93 missões ofensivas.






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