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domingo, 12 de setembro de 2010

LINHA MAGINOT

A LINHA MAGINOT

Uma enchente do rio carrega algumas manchas: os estados maiores procuram uma linha reta para fazê-las afundar pelas casamatas da margem, sem que os projéteis atinjam a margem alemã. Soldados alemães trabalham a todo risco, sob painéis, prometendo que não atirarão em primeiro lugar. Um Fieseler-Storch faz sua ronda, com um Ruído de motocicleta enrouquecido, alto-falantes gritam que os ingleses se baterão até o último francês. Ninguém tenta dispersar os trabalhadores, abater o avião ou fazer calar essa voz destrutiva do moral. Esquisita guerra! Exércitos contendo centenas de milhares de homens terminam assim sua prestação de contas cotidiana.

O front, se é que se pode empregar essa palavra pomposa, caiu em letargia. No dia 12 de setembro, a ofensiva em favor da Polônia foi detida, porque já não mais havia Polônia. A 30 de setembro, decidiu-se a retirada das forças para território francês. Em 16 de outubro, porque Hitler ordenara libertar o território alemão, as retaguardas, foram dispensadas. Para ficarem à altura, os franceses evacuaram, espontaneamente, o saliente de Forbach, onde se encontram suas mais produtivas minas de hulha. O primeiro dogma de sua religião militar estritamente defensiva era não se bater em duas frentes. Conseqüentemente, tudo está subordinado à defesa da Linha Maginot, principal posição de resistência, onde a guerra será ganha, contendo o assalto inimigo.

À opinião francesa, a Linha Maginot inspira uma confiança religiosa. Mas o menos importante oficial de estado maior, em gozo de um mínimo de independência de espírito, conhece os defeitos desse imenso covil de raposa. É, realmente, uma linha, isto é, uma posição sem profundeza, sobre a qual só pode travar combate frontal. Os fortes se defendem mal e seus construtores ignoram a existência da aviação. Não tomaram em consideração o bombardeio de mergulho, que tanto pode vencer os couraçados terrestres quanto os couraçados do mar, nem o desembarque de tropas aerotransportadas sobre as superestruturas. Os obstáculos antitanque, constituídos por pedaços de trilhos, são fracos demais. Os parapeitos da artilharia são vulneráveis, os campos de tiro podem ser obstruídos por uma preparação de artilharia, enfim, o poder de fogo das obras é íntimo em relação à sua enormidade e a seu custo. A linha Maginot é um magnífico abrigo, mas um medíocre instrumento de combate. Diga-se que é impenetrável e absurda. A prova disso será feita depois de 10 de maio de 1940. Nesse dia, os alemães se apoderarão, em quatro horas, por meio de um assalto aéreo, do forte belga de Eben-Emael. Os oficiais do Estado Maior francês, reportando-se às suas notas de campanha, para apreciar o acontecimento, lerão a definição seguinte. O forte couraçado de Eben-Emael, pilastra norte da defesa de Liège, é comparável às obras mais poderosas de nosas fortificações do Nordeste.

O fato de que a Linha Maginot se detém em Montmédy escapou menos aos cérebros militares franceses do que a invenção do avião. Foram elaborados projetos para prolongá-la até o mar e reforçá-la numa segunda linha, disputando o acesso da Bacia Parisiense. Foi necessário renunciar a isso, não somente por motivos financeiros, mas principalmente porque o acabamento e a duplicação da Linha Maginot absorveram o Exército francês. As fortificações têm por objetivo economizar os efeitos e é um costume tão antigo como a guerra mantê-las por tropas de valor secundário. A Linha Maginot contrariamente exige para suas guarnições tropas numerosas e especializadas. Em Sain-Cry as listas de promoções não saem mais "na Legião", saem "dans Le béton". De Basiléia a Sedam, 21 divisões de elite se acumulam em subterrâneos. Imóveis e inutilizáveis fora de sua concha. Triplicar a extensão da Linha Maginot teria estendido essa paralisia a dois terços das grandes unidades.

Mas ainda não é tudo. Feita para defender, a Linha Maginot tem necessidade de ser defendida. A cada uma das divisões de fortaleza é preciso sobrepor uma ou duas divisões ditas de intervalo. A destreza insuficiente, a fraca mobilidade do Exército francês são ainda reduzidas por essa pesada servidão e, no entanto, o dogma da Linha Maginot é imposto como uma disciplina intelectual a toda a hierarquia militar. Aconteceu a um general moderar o entusiasmo do Duque de Windsor, de volta de uma visita à Linha Maginot; informado disso, pelo Duque, por ocasião de um almoço, em Vincennes, Gamelin pousou o guardanapo e foi ao telefone exonerar o herético do comando. Em média, a Linha Maginot se encontra a uma dúzia de quilômetros aquém da fronteira. Cada divisão de intervalo prolonga, para frente. Seu grupo de reconhecimento e um ou dois batalhões. Frágil cobertura que se subdivide em uma linha de concentração e uma cadeia de destacamento de segurança. Por fim, só esses grupos estão em contato, algumas vezes em completa quietude, outras em condições bastante severas. Dois ou três setores, como o de Apach, na vizinhança da fronteira luxemburguesa, ou a regiuão atormentada ao sul de Forbach, fazem exceção à trégua tática que os exércitos francês e alemão se permitiram. Os alemães fazem rápidas incursões de viavém, com cobertura do fogo de metralhadoras e de morteiros e, freqüentemente, tomam de assalto os postos. Os franceses limitam-se a armar emboscadas, nas quais se deixa prender, de quando em quando, um inimigo desafortunado. Com tal jogo, enquanto os franceses fazem 100 prisioneiros, os alemães fazem 3.000. O Comando explica que não deseja deixar-se arrastar na engrenagem de uma luta nos postos avançados. Só se combate em uma posição. O impressionantemente é o deserto que se estende entre os destacamentos de cobertura e a Linha. Toda a população foi evacuada, embora os alemães tenham deixado seus civis nas vizinhanças da fronteira. Nas aldeias, vergonhosamente pilhadas, falência da disciplina, mal se encontra um pequeno elemento da engenharia encarregada de fazer o jogo das destruições. Da mesma maneira que as aldeias, as cidades foram evacuadas, inclusive Estrasburgo, transformada em cidade do silêncio e severamente protegida por barragens de gendarmes, de tal maneira se teme que ela seja saqueada. Contidos no Sudoeste da França, os alsacianos e os lorenos acumulam um velho rancor contra os franceses que não podem admitir que franceses falem alemão.

E a chuva cai. E as perguntas se multiplicam. Essa guerra se, guerra não será um mal entendido? No dia 6 de outubro, em um discurso ao Reichtag, Hitler fizera propostas de paz, a França e a Inglaterra as repeliram, mas a trégua total nos combates dão a impressão de que conversações secretas estão em curso.

De resto, consolidara-se nos espíritos a idéia de que a Linha Maginot e a Linha Siegfried eram inexpugnáveis e de que o exército que se arriscasse a tomar a ofensiva seria destruído. Assim, o conflito só pode revestir-se das formas de uma luta ideológica e econômica. Seria pela propaganda e pelo bloqueio que Hitler iria ser posto de joelhos.

Nascida a dúvida e do tédio, uma imensa pregiça apoderou-se do exército francês. As sondagens feitas pelo controle postal pintam homens dóceis mas inertes e convencidos de que serão desmobilizados antes de haverem combatido. Os acantonamentos são em geral deficientes, mas a alimentação, regulamentar ou suplementar é superabundante. O exército francês come e bebe. Os oficiais, que regulamento alemão põe no regime do Goulashkamon, da cozinha rolante, vivem no luxo alimentar. Os quartéis generais são os últimos a de ter autoridade para censurá-los. Disputam-se os chefes dos grandes restaurantes parisienses e enviam seus carros de ligação a buscar trutas nos Vosges ou rodovalho em Boulogne. Uma das mais importantes cozinhas do G.Q.G. arrastará sua adega pelas estradas da derrota e a esvaziará, depois do armistício, em Montauban.

Adesculpa desse sibaritismo sob as armas era que o sangue não corria. Mal recuperada da hemorragia 1914-1918, a nação ficava reconhecida, por isso, ao comando. Essa segunda guerra de posição não repete as matanças absurdas, as lutas de gigantes por pedaços de terra, as ofensivas para o comunicado, da guerra precedente. Mas o exército francês deveria empregar a trégua que lhe concediam para se reforçar e se endurecer. Mas foi o contrário que aconteceu, o exército francês perdia a têmpera e amolecia.

No entanto, teve para instruí-lo uma lição gratuita. A Wehrmacht deu-lhe, na Polônia, uma exibição de seus processos de combate. Lição preciosa. Lição perdida.

Depois de outubro, o Deuxième Bureau empreendeu, espontaneamente, um estudo crítico da campanha da Polônia. Prisioneiro do conformismo militar francês, atento para não se chocar, muito diretamente com as idéias dos grandes chefes, não se elevou à simplicidade e à força das conclusões formuladas no outro campo, através de estudos análogos: falência completa da defesa militar linear, preponderância da rapidez sobre a ação do fogo, etc. Não obstante, enumerou com exatidão todas as características da nova guerra à maneira alemã. Monstrou que a vitória na Polônia havia sido trabalho quase exclusivo das divisões blindadas, cooperando com a aviação. Fez ressaltar que não havia apenas um, mas na realidade, dois exércitos alemães, um de infantaria-artilharia e um de tanque-aviação, cada qual operando com velocidade própria e independentemente do outro. Entretanto em pormenores, o Deuxième Bureau demonstrou a manobra das duas Panzerdivisionen: a 3ª forçando o ferrolho de Mlawa, mudando de rumo para varrer as margens da Narew, antes de descer para tomar Varsóvia pela retaguarda; a 5ª, desembocando da Eslováquia, varrendo a Galícia, indo apoderar-se de Lvov, a 300 km de sua base de partida, depois girando 120º para se abater, ela também sobre Varsóvia. Os efeitos do bombardeio de mergulho, sobre o moral da tropa, a utilização dos pára-quedistas, a paralisia dos movimentos militares causada pelas multidões de refugiados que enchiam as estradas, nada de essencial falta a esse importante documento. A lentidão de escoamento dessa papelada militar fará com que ele chegue, a certos estados maiores, durante a batalha de maio, a tempo de que possam confirmar seu fundamento. Só terá essa utilidade.

O Comando francês recusa-se a dar importância a esse ensinamentos da campanha da Polônia, Kriegspiel, na realidade. Os oficiais que empreenderam seus estudos estão discretamente desencorajados. O Trosième Bureau, autoridade decisiva, declara que não se poderia tomar o que se passara na Polônia como base de instrução do exército francês durante o inverno. As condições são por demais diferentes. Na Polônia, a Alemanha enfrenta um exército primitivo, mediocremente equipado, constrangido a guarnecer irentes desproporcionadas, em terreno desprovido de qualquer organização defensiva. Na frança, está enfrentando um exército moderno, comandado por um discíplo de Joffre, soberbamente equipado, instalado num campo de batalha bem dividido e bem isolado, apoiado no sistema de fortificação mais poderoso jamais construído, a Linha Maginot.

A maior prova de que na existe de comum entre as duas situações é que Hitler não ataca. Ele se atirara sobre a Polônia. Diante da França, espera.

A CHUVA PÕE HITLER EM XEQUE

A primeira ordem de ataque contra o exército comandado, equipado, fortificado, maginotado, fora assinada a 27 de outubro, pelo Fuhrer. A ofenciva deveria iniciar-se a 12 de novembro, um quarto de hora antes de nascer o sol.

A decisão de derrotar a França ainda em 1939 havia sido tomada antes mesmo do término da guerra na Polônia. Quando Hitler a anunciou aos principais chefes da Wehrmacht, a 27 de setembro, Varsóvia ainda resistia. Os generais recusaram tomar a sério uma intenção que lhes parecia desproporcionais aos meios de que dispunham. Foram necessárias muitas conferências na nova Chancelaria, a instrução nº 6 sobre a condução da guerra e, finalmente, a ordem de 27 de outubro, para convencê-los de que o Fuhrer cogitava mesmo de se atirar sobre a França, transportando para o Oeste os métodos de combate que no Leste haviam sido tão brilhantemente bem sucedidos.

Regressando da Polônia, pelas vias férreas ou rodovias, os exércitos alemães se encontravam no Reno. Brauchistch, conscienciosamente, visitou os quartéis generais. A unanimidade reinava neles, a ofensiva desejada pelo Fuhrer era uma impossibilidade e a ordem de ataque, para 12 de novembro, uma loucuras. Brauchitsch considerou que era seu dever de comandante chefe opor-se a eles.

O dia 5 de novembro era uma data importante. Devia-se decidir, ao meio dia, se a ordem de ataque seria ou não mantida. Brauchitsch apresentou-se, pela manhã à nova Chancelaria e pediu para ser recebido, a sós pelo Fuhrer. Hitler acedeu de má vontade. Brauchitsch começou pela leitura de um memorando em que reunira as considerações militares que desaconselhavam um ofensiva a oeste. O exército francês era forte demais. O exército alemão ainda não havia adquirido bastante resistência. Faltava-lhe artilharia pesada, faltavam-lhe as munições necessárias para atacar as fortificações francesas. Alcançada sobre um adversário fraco a vitória da Polônia não devia iludir ninguém. Devia ser utilizada a vantagem política que ela dava à Alemanha, para ser negociada, em boas condições, a paz geral.

Hitler no início escutara em silêncio enfadonho. A explosão veio quando o coronel general aludiu aos defeitos morais que a campanha da Polônia fizera aparecer no novo exército alemão, nascido do nazismo.

A infantaria, disse Brauchitsch não demonstrou o mesmo espírito ofensivo que teve na guerra precedente. Mesmo em certas divisões da ativa, atos de indisciplina foram assinalados.

Brauchitsch nada mais leu. Reapareceu, na ante sala, tão desfeito, tão trêmulo, que seu oficial ordenança pensou que ele ia desmaiar. Hitler precipitara-se sobre ele e arrancara-lhe o papel das mãos. Rasgara o documento e calcara aos pés os pedaços. Depois, chamara Keitel, Lakeitel, Keitel, o lacaio e, através da porta acolchoada, ouviram-no rugir contra a estupidez e a covardia dos generais.

Quando Keitel saiu, o ponteiro do relógio atingia a vertical do meio dia. O coronel de estado maior Warlimont esperava à porta do Fuhrer. Advertiu que o momento fixado para a confirmação da ofensiva já fora ultrapassado. No calor da indignação, Hitler e seu general doméstico haviam esquecido disso.

Keitel voltou à furna do leão. Dali saiu alguns momentos mais tarde, dizendo que a ordem para 27 de outubro fora confirmada. Quando Warlimont telefonou essa ordem ao estado maior de Brauchitsch, o oficial que recebeu a mensagem manifestou surpresa. Mas, disse ele o coronel general, foi expor ao Fuhrer por que a ofensiva é impossível. O coronel general respondeu Warlimont não conseguiu convencer o Fuhrer.

Brauchitch pediu demissão. Hitler respondeu-lhe perguntando se os soldados rasos, nas trincheiras, pedem demissão. Brauchitsch teve que permanecer no posto, para preparar planos que desaprovava.

O plano da ofensiva de 12 de novembro fora preparado pelo estado maior do exército (O.K.H.), a 19 de outubro. O exército alemão deveria penetrar nos três países cuja neutralidade, um mês antes, Hitler prometera respeitar: Holanda,Bélgica e Luxemburgo. O centro da gravidade, o schwerpunkt, era a região de Liège. A ala a marchar, formada pelos grupos de Von Bock (grupo B), devia conquistar as costas do mar do Norte, a fim de proporcionar à Marinha e à força Aérea uma base de operações aeronavais contra a Inglaterra. Um terceiro grupo ( grupo C), comandado por Von Leeb, manteria a frente pacífica, de Luxemburgo à Suíça.

Hitler estava parcialmente satisfeito. Eles calçaram as botas de Schlieffen dissera a seus dois palacianos, Keitel e Jodl. Havia-lhes explicado que o efeito de surpresa produzido, em 1914, pela extensão da ala direita alemã não podia repetir-se. Desta vez, o Comando francês esperava o ataque pela Bélgica. A fina-flor de suas forças estava disposta das Ardenas ao mar do Norte e seria a uma batalha frontal que uma reedição do plano Schlieffen se arriscaria a chegar.

Entretanto, Hitler deixou passar o plano da O.K.H. Embora dotado de verdadeira intuição estratégica, não tinha, disse o general francês Koeltz, a formação superior de estado maior que lhe permitisse expressar plana e imediatamente a idéia de manobra, nascente em seu pensamento.Na realidade, não era somente Hitler chefe de guerra, era Hitler, como general, que engendrava suas idéias em estado de nebulosa e depois as precisava numa alternância de meditações solitárias e de conversações descosidas. A intuição da penetração de Sedan lhe veio muito cedo, mas ficou por muito tempo em gestação, sob forma fluida, em torno de hipóteses instáveis.

O ultraje a Brauchitsch foi seguido, a 23 de novembro, por violenta repressão aos comandantes de exército, reunidos na Chancelaria. Conta Halder, Hitler ladrou contra os generais, não posso expressar-me de outra maneira.

Mesmo assim, alguns mantiveram sua oposição, e um deles, Leeb, chegou até a propor uma greve do Alto-Comando, para matar o projeto de ofensiva. Mas o hábito de obediência e o fatal juramento de fidelidade prestado ao Fuhrer acorrentaram a imensa maioria desses soldados.

É o céu que se encarrega de adiar a ofensiva a oeste. Hitler exige bom tempo para que o rendimento da força aérea e dos blindados seja digna do que foi durante o luminoso verão Polônes. Ora, o outono de 1939 é execrável. Novembro traz chuvas torrenciais. Os rios enchem e as inundações estendem, pelas planícies, grandes obstáculos aos tanques. As previsões meteorológicas anunciam enormes nuvens, vindas do Atlântico, prometendo novos dilúvios para os dias seguintes.

No dia 7, Hitler transfere para o dia 9 a decisão relativa ao ataque. E, novamente, para 13, depois para 16, depois para 20. Uma suspeita apodera-se do Fuhrer, exige que os boletins bi cotidianos sejam fixados pela Luftwaffe, uma vez que os generais de terra lhe parecem capazes de subornar os meteorologistas. Mas os homens barômetro da aviação não são menos pessimistas do que os da terra. Os adiamentos da ofensiva se sucedem, 27, e 29 de novembro, depois 4, 6 e 12 de dezembro.

Estranha guerra. A chuva cai, torrencialmente. Em seus péssimos acontonamentos, da Alsácia e das Ardenas, os homens se encharcam, sob a tempestade que não tem fim. A palha para os colchões apodrece nas granjas. Atingidos por misteriosa doença ou vitima da negligência dos seus condutores, os cavalos da artilharia morrem aos milhares. A intempérie é boa razão para que se cancelem os exercícios e para que sejam suspensos os trabalhos de organização do terreno. Os homens se unem nos botequins das aldeias e se entediam, entendiam, entendiam...

sábado, 17 de julho de 2010

HITLER ESCAPA DE DOIS ATENTADOS

HITLER ESCAPA DE DOIS ATENTADOS

Um acontecimento importantíssimo deixou de dar-se. Hitler não morreu. Deveria ter morrido no dia 13 de março. Uma singular providência estendeu a mão sobre ele.

Nomeio de estremas dificuldades e perigos terríveis, prosseguia a conspiração contra o Fuhrer. Os chefes civis e militares, Gordeler, Witzleben, Beck, reatam-lhe os fios incessantemente emaranhados e rompidos. Eles haviam vencido seus escrúpulos e reconhecido plenamente que o assassínio do tirano seria o único meio de salvação do povo da Alemanha. Nos círculos militares e especialmente nos estados maiores, o cruel sacrifício do 6º exército em Stalingrado acirrara os ódios. Não faltam Brutus entre os jovens oficiais, pertencentes, em geral, à mais alta aristocracia. Mas o assassínio de Hitler é operação difícil. Ele usa colete a prova de bala, o fundo de seu quepe é blindado, tudo o que come é provado por seu médico, todos os seus movimentos são mantidos em segredo, e as ocasiões para abordá-lo, entre seus pretorianos, são raras.

O Major General Henning Von Tresckow, de uma ilustre família militar brandeburguesa, é o primeiro oficial do Estado Maior do Grupo de Exército Mitte. Ele tentara induzir ao Putch seu primo, o Marechal Von Bock, e depois da substituição de Bock por Von Kluge, fizera o mesmo com este. O plano consistia em liquidar Hitler por ocasião de uma de suas visitas a Smolensk. Q.G. do grupo. O Barão Von Boselager, comandante do regimento de guarda, assume a responsabilidade do caso e diz estar seguro de seus subordinados. Mas Kluge responde que a situação militar não é bastante grave para autorizar ação tão radical.

O País e o exército não a compreenderiam. Tresckow e seu ajudante de ordens, o Tenente Fabian Von Schlabrendorff, decide agir sozinhos. Utilizando plástico e detonadores ingleses fornecidos por um cúmplice, fabricam duas bombas, a que dão forma de garrafas. A 13 de março, Hitler chega a Smolensk, cercado por uma corte de S.S., cujo desusado aparato parece indicar que ele nutre suspeitas especiais no momento. Quando regressa algumas horas depois, seu avião leva as duas bombas, devidamente acionadas. Schlabrendorff confiara o embrulho contendo a máquina infernal a um coronel da comitiva, pedindo-lhe que entregasse ao General Helmuth Stieff as duas garrafas de conhaque que lhe enviava o General Von Tresckow.

Passam-se uma, duas horas. A palavra combinada para previnir que o atentado decorria como previsto fora transmitida à central de Berlim. Tresckow e o grupo de Smolensk esperam que o rádio de um dos caças de escolta avise que o avião do Fuhrer explodira no ar. Recebem de Minsk a mensagem de que o Fuhrer chegara sem acidentes.

Os conspiradores salvam a situação. O estouro do Putsch é cancelado a tempo. Schlabrendorff telefona ao coronel a quem fizera executor inconsciente e sacrificado do golpe, para que não entregue o pacote, e no dia seguinte, com uma ordem de missão de Tresckow, vai recuperá-la em Rastemburgo. Ao abri-lo, verifica que nas duas bombas, o percussor fora realmente liberado pelo ácido, que corroera o fio de metal, mas que as cápsulas não haviam reagido ao choque.

Alguns dias mais tarde, outra tentativa para pulverizar Hitler, por ocasião de uma exposição em benefício dos soldados da frente, no Zeughaus de Berlim, falha por sua vez. Os conspiradores têm que aguardar nova ocasião.

ISOROKO YAMAMOTO

COMO MORREU O ALMIRANTE YAMAMOTO


Protegidos por um grupo de zeros, os dois bombardeiros japonês preparavam-se para pousar no aeródromo de Kaihili, na ponta meridional da ilha de Bougainville.


Os caças norte-americanos surgiram rente à água. O Capitão Thomas G. Lanphier abateu um dos bombardeiros. O Tenente Rex T. Barber abateu outro. Os dois aparelhos caíram e incendiaram-se na floresta. O Grande Almirante Isoroku Yamamoto estava morto.


Ele não sucumbira após um encontro fortuito. Os norte-americanos decifravam sempre os códigos japoneses. No começo de abril de 1943 o chefe de seu G-2 trouxe ao almirante Halsey o plano de uma viagem de inspeção do comandante chefe japonês do Pacífico Sul. Partindo de Rabaul, Yamamoto devia visitar as bases aeronavais da região do Buin. Seu avião deveria sobrevoar Kaihili a 18 de abril, às 9h 35m. Os norte-americanos planejaram chegar ao encontro ao mesmo tempo que ele.


Um escrúpulo fê-los hesitar. Era boa tática utilizar uma vantagem clandestina para desfazer-se de um grande chefe inimigo? Era uma emboscada permitida pelas leis da guerra, ou uma armadilha?


Halsey consultor Nimitz. Nimitz perguntou a seus especialistas se eles achavam que o desaparecimento de Yamamoto enfraquecia o Japão. Os especialistas responderam afirmativamente. O grande Almirante havia mostrado hostil a uma guerra contra os Estados Unidos, mas não havendo podido impedi-la, fazia-se com talento e energia. Era o autor do plano de ataque contra Pearl Harbor e nem a derrota de Midway nem o abandono de Guadalcanal o havia qualificado como um desses capitães que um inimigo inteligente tem interesse em conservar. Esses testemunho de suas qualidades foi a sentença de morte do Almirante Yamamoto.



O empreendimento não era fácil. Os 16 P-38 do 339º Fighter Squadron que decolaram de Guadalcanal, sob o comando do major Mitchell, deviam percorrer 500 km antes de se encontrar, com uma precisão cronométrica acima de Bougainville. Deviam costear as ilhas da Nova Geórgia sobre as quais zumbia o enxame inimigo. Os P-38 escapam da detecção raspando as ondas, e estavam em um minuto sobre Kaihili. Todos voltaram, exceto um. O feito foi guardado em segredo até o fim da guerra, primeiro, para não revelar aos japoneses que seus códigos estavam descobertos, depois porque Lanphier tinha um irmão prisioneiro no Japão e temia-se contra ele a mais atroz vingança.

sábado, 19 de junho de 2010

A OPINIÃO DE GOERING

A OPINIÃO DE GOERING SOBRE A GUERRA


Eles queriam deter Hitler, no dia seguinte em 1939, no momento em que voltasse do Congresso Nacional Socialista, de Nurembergue.


As ordens já estavam assinadas, quando o rádio anunciou que Chamberlain obtivera uma audiência do Fuhrer e estava voando para Berchtesgaden, A Base material de nossa conspiração estava destruída, explicaria Halder, uma vez que Hitlernão mais voltaria a Berlim. A base moral não o estava menos: podíamos deter um insensato que atirava a Alemanha a uma guerra previamente perdida. Não podíamos deter um chanceler que negociava com o Primeiro Ministro da Grã-Bretanha a volta pacífica dos alemães para o Reich.


Depois de Munique, nenhuma nova ocasião se apresentou, mas a conjuração não estava morta. Um dos conjurados, Witzleben, comandava um exército na frente ocidental, outro, Canaris, dirigia a espionagem alemã. O próprio Halder não era outro senão o chefe do Exército, Vom Brauchitsh. Assim, essa guerra mundial começava na rebelião latente de uma parte do Alto Comando alemão contra o chefe do exército e do estado alemães. Disso resultaria estranhas revelações.


Os chefes que não conspiravam perderam o entusiasmo. Claro que nenhum deles admitia o corredor, o estatuto de Dantzig, o traçado arbitrário das fronteiras orientais, a sujeição de um milhão de alemães ao jugo polonês. Mas achavam que o exército alemão não estava suficientemente refeito para enfrentar um novo conflito europeu. Salvo os hitleristas Busch e Reichenau, todos assinaram, antes de Munique, um memorando redigido pelo general Beck, para prevenir o Fuhrer contra os perigos que sua política aventureira fazia correr a Alemanha. O Pacto germano soviético os serenara um pouco, libertando-os da obsessão de uma guerra, em uma Rússia cuja rudeza e imensidade quase todos conheciam. Estão inquietos. A guerra comaçava antes que estivessem prontos.


O moral da nação, como o dos generais, estava muito longe da exaltação. Naquele mês de agosto de 1939, nada se assemelhava à torrente de entusiasmo, à corrida para sacrifício de julho de 1914. Hitler sabia disso. No ano anterior, antes de Munique, fizera uma experiência que não ousava renovar, naquele ano. O desfile em Berlim, de uma divisão blindada. Havia esperado uma tempestade de patriotismo. Apenas provocou um espetáculo de consternação. Durante três horas, os carros blindados rolaram através das ruas da capital, em meio a silencioso estupor, como se fora um exército inimigo numa cidade conquistada com Hitler, à sacada da Chancelaria, esperando em vão o rumor belicoso que provocava, à passagem de seus monstros de aço. Findo o desfile, ele voltou para seu gabinete e atirou-se a uma poltrona, injuriando o povo alemão da mesma maneira que, vencido e agonizante, o injuriaria seis anos mais tarde, no mesmo local, depois de tê-lo crucificado e desonrado.


Do Báltico aos Cárpatos, as tropas marcham. O plano de operações, retocado e ampliado segundo as diretivas de Hitler, agarrou a Polônia em uma tenaz. O ramo de esquerda é o grupo de exércitos Nord, comandado pelo general Von Bock. O ramo de direita é o grupo de exércitos Sud, comandado pelo general Von Rundstedt. O primeiro grupo se compõe de dois exércitos, o 3º Kuchler, surgindo da Prússia Oriental e o 4º Kluge desembocando da Pomerânia ao todo 21 divisões, entre as quais 9 da ativa, com apenas duas blindadas. O segundo grupo é integrado por três exércitos, o 14º List, reunido nos Cárpatos, o 10º Reichenau, concentrado na alta Silésia, e o 18º Blaskowitz, lançado da região de Breslau ao todo com 36 divisões, entre elas 28 da ativa, das quais quatro blindadas. Enquanto o grupo Nord apagará o Corredor, forçará a linha Narew, tomará Varsóvia pela retaguarda, o grupo Sud destruirá o grosso das tropas polonesas, a oeste do Vístula. Leva-se tão longe o desprezo ao adversário, que só se deixa entre os dois grupos de exércitos para defender Berlim da elite das tropas polonesas, uma cadeia de guardas alfandegários.


Às 4h45m, o cruzador couraçado Scheswig-Holstein, chegado na véspera a Dantizig, abre fogo sobre o território polonês da Westerplatte. As formações aéreas voam. E, dentro da bruma, os tanques de Guderian, de Hoepner e de Von Kleist transpõem a fronteira e caem sobre os poloneses adormecidos.


O dia 2 de setembro é um bom dia para Hitler. As notícias militares são excelentes. O comando polonês foi completamente surpreendido. Via o início das hostilidades segundo o procedente de 1914: quinze dias para concentração de tropas, sem outras operações além de escaramuças à fronteira. Essa guerra, que arranca em quarta velocidade, toma-o de surpresa. Os soldados batem-se, mas os tanques blindados alemães rompem a frágil posição de resistência e investem furiosamente, desorganizando a retaguarda, destruindo as ligações, paralisando o exercício do comando. A Luftwaffe derruba a aviação inimiga, neutraliza os quartéis generais, bombardeia em mergulho os núcleos de resistência, provoca o engarrafamento das retaguardas inimigas, jogando às estradas uma multidão de civis desvairados.


Ao norte do dispositivo, as tropas alemães desembocam da Prússia Oriental e atacam a posição de Mlawa, que cobre Varsóvia. No corredor, o 3º e o 4º exército fazem junção. No centro, o 10º exército, ponta de lança do grupo Rundstedt, atinge a Warta, numa marcha progressiva de 80 Km em 36 horas. No extremo sul, as tropas alpinas de List forçaram a garganta do Jablunka, teatro de lutas intermináveis, na guerra anterior, e chega às portas de Cracóvia. Era impossível esperar um início de ofensiva mais vivo e mais brilhante.


E a Inglaterra ? E a França ? Esperaram 21 h e 30 min para notificar ao governo do Reich que o prolongamento da ação militar alemã os forçaria a cumprir seus compromissos com a Polônia. A Wilhelmstrasse olha com superioridade essa providência tardia. É um ultimato? Pergunta Ribbentrop. Não é uma advertência respondem os embaixadores.


Graves desacordados existem entre Paris e Londres. Em Paris, o Ministro das Relações Exteriores, Georges Bonnet, agarra-se desesperadamente à proposta italiana de uma conferência a quatro. Em Londres, suspeita-se que a França se está furtando a esse entendimento. O Embaixador da Polônia, Conde Radzinki, chega como um louco, ao Foreign Office, gritando que, o seu colega de Paris, Bonnet declarara que a Polônia não faria massacrar as mulheres e as crianças da França. Esses poloneses apreciavam tanto mais o egoísmo segrado quando o haviam exercido, em 1938, às custas dos tchecos. Mas os deputados ingleses vão a seu encontro na impaciência e na indignação. Vaiam uma fraca declaração de Chamberlaim, resumida nisto: Nós protestamos. Esperemos, agora, a resposta do Sr. Hitler. Dizem, nos bastidores de Westminster, que a moleza do gabinete provém da defecção francesa, mas que a Inglaterra marchará sozinha e Chamberlain será derrubado e substituído por Churchill.


Enquanto isso em Berlim, Hitler passa a noite com alguns íntimos, na sala de música da nova Chancelaria, lendo, com voz radiante, os boletins de vitória que lhes chegam da frente polonesa. Na França, a mobilização geral fora decretada na véspera, à noite, o que significava, segundo os cálculos do serviço alemão de contra espionagem, que pelo menos 80 divisões se concentravam do mar do norte as Suíça. Ora, a Alemaha só deixara, a oeste, 11 divisões ativas, e várias semanas serão necessárias para que as 35 divisões, de terceira e quarta vaga, que devem reforça-las, atinjam uma segura coesão. Nas cidades fronteiras, como Freiburg-am-Brisgau, o boato de que os franceses transpunham o Reno levantara uma onda de pânico. Mas o Fuhrer permanece imperturbável. Registra que a Câmara francesa, votando 85 bilhões de créditos suplementares, nunca pronuncia a palavra Guerra. Mas uma vez a intuição hitlerista se revela exata: a França e a Inglaterra não passam à ação.


Mas Hitler se engana. Se a vontade francesa está oscilante, a resolução inglesa é firme. Ao Conde Ciano que lhe telefonava febrilmente do Palácio Chigi, Lorde Halifax responde que nenhuma conferência pode ser cogitada sem que, previamente, a Alemanha retire suas tropas do território polonês. Mussolini manda responder que não pode transmitir tal exigência ao Fuhrer. Rompe-se o último fio da paz.


Às 4 horas da manhã de 3 de setembro, o embaixador Nevile Hendeson recebe, de Londres, ordem de pedir audiência a Ribbentrop, para as 9 horas. Wilhelmstrasse finge dormir, como se estivesse em plena paz. Henderson tem que despertar uma porção de subalternos, para ouvir a resposta de que sua Excelência Ribbentrop não estaria visível, pela manhã, mas que o conselheiro de embaixada Paul Schmidt, intérprete de Hitler, estava habilitado a receber qualquer comunicação do Govêrno de Sua Majestade. Foi nas mãos desse funcionário de segunda categoria que a Grã-Bretanha teve que entregar seu ultimato: se às 11 horas dentro de duas horas! Não recebesse garantias categóricas quanto à imediata retirada das tropas alemãs, existiria estado de guerra entre ela e o Reich alemão.


A França segue de reboque. Recusa apresentar seu ultimado simultaneamente com o ultimato britânico, insiste em que o prazo só expire a 4 de setembro, evita ainda empregar a palavra guerra. O Governo francês escreve Georges Bonnet, ficaria na obrigação de cumprir os compromissos que a França contraiu com a Polônia e que o Governo alemão conhece. Três horas depois de o Embaixador Henderson ter enviado o ultimato, o Embaixador Coulondre remete à Wilhelmstrasse essa eufêmica declaração de guerra. A Inglaterra, Schimdt a tinha imediatamente levado ao gabinete do Fuhrer. Hitler estava sentado à mesa de trabalho. Ribbentrop, de pé, perto de uma janela. Schmidt traduziu, lentamente o ultimato. Hitler parecia petrificado. Permaneceu imóvel por um interminável momento. Depois, lançou a seu Ministro das Relações Exteriores um olhar furioso de homem enganado. E Agora ? disse com inflexão inexprimível. Schmidt apressou-se a sair.


Na ante-sala, havia reunido uma pequena multidão de ajudantes de campo e altos dignitários do partido. Schmidt os pôs a par do ultimato britânico. Caiu outro silêncio, que a voz de Goering rompeu: Se perdemos esta guerra, que Deus tenha piedade de nós!