domingo, 20 de fevereiro de 2011

AS TRÊS BATALHAS DE LEYTE - PARTE 01

AS TRÊS BATALHAS DE LEYTE - PARTE 01


O norte americano continua àsperamente na controvérsia estratégica. Vencedores das ilhas marianas, os oficiais de marinha sustentam cada vez mais energia que podem visar diretamente o coração do Japão. MacArthur mantém, com toda a sua eloqüência, a opinião de que a estrada para Tóquio passa pelas Filipinas, e somente por elas.

Em julho, o general é convocado por George Marshall a Honolulu. Tem a surpresa de encontrar aí o Presidente Roosevelt, desejoso de formar uma opinião pessoal sobre a disputa estratégica do Pacífico. O Almirante King ficou retido em Washington, mas o Almirante Nimitz sustenta a tese da Marinha; concentrar todas as forças sobre seu comando e desembarcar em Formosa. A ilha é parte integrante do Império nipônico desde 1895. Sua ocupação cortará o Japão de todas as suas conquistas, incluindo a Birmânia, a Malásia e as Filipinas, neutralizando mais de um milhão de homens. Tóquio estará a três horas dos B-29, e todas as chances de obrigar o Japão a declarar-se vencido pelo bloqueio e o bombardeio estará reunido ao máximo.

Militarmente, a tese de Nimitz é convincente. Mas os argumentos de MacArthur vão além da estratégica, apelam para considerações políticas, psicológicas, passionais. Os filipinos têm uma promessa dos Estados Unidos: serem libertados. Esperam na fidelidade da confiança mantendo uma intensa guerra de guerrilhas contra o ocupante. Os Estados Unidos não podem deixar 17 milhões de amigos "secar no galho", até a capitulação ainda longínqua do Japão, sem provocar uma decepção nacional que repercutirá durante anos nos negócios do Pacífico. Senhor de Moratai, MacArthur está quase saltando para Mindanau, de Mindanau a Leyte, de Leyte a Luçon. A Marinha deve colocar-se a serviço do Southwest Pacific para facilitar esse grande giro.

A entrevista de Honolulu nada resolve. A discussão prossegue no comitê dos chefes de estado maior. A controvérsia evolui para uma solução de compromisso. Considera-se que Nimitz tomará a base insular de Yap, enquanto MacArthur se apoderará de Mindanau e Leyte. De acordo com as circunstâncias desta última conquista, descidir-se-á ou terminar a libertação das Filipinas, tomando Luçon, ou lançar-se diretamente sobre Formosa em março de 1945.

Enquanto isso, a rotina da guerra continua. O Almirante Halsey conduz, no Pacífico, uma esquadra gigantesca, a TF 38, com 17 porta-aviões, 6 couraçados, 13 cruzadores, 58 contratorpedeiros. As bases japonesas são bombardeadas uma após outra, os aviões destruídos às centenas, no ar ou em terra. A resistência é fraquíssima, principalmente a 9 de setembro, quando a TF 38 bombardeia Mindanau, e a 12 quando à vista de Samar, ataca as ilhas do mar de Visaya. No dia 13, Halsey chega a uma conclusão e faz uma proposta: a coluna vertebral do inimigo está quebrada, por que não apressar-se, por que perder tempo em Yap e Mindanau, por que não atacar diretamente Leyte, centro e chave do arquipélago filipino.

Este argumento parece ter sido trazida por um vento enfeitiçado. Transmitida por Nimitz, vai diretamente até a conferência de Quebec. King, Marshall e Arnold interrompem um jantar de gala para examiná-la. Novamente minutos mais tarde, a concordância parte para o Pacífico Sul, o General MacArthur e o Almirante Nimitz, são convidados a abandonar as operações intermediárias, exceto a ocupação das ilhas Palau, para executar, no prazo mais breve possível, um desembarque em Leyte. O 24º Corpo, já embarcado para Yap, é transferido para Southwest Pacific Area, e une-se ao 10º Corpo para constituir, sob o comando do General Walker Kruger, o 6º Exército. Mudam-se os planos, modificam-se as disposições logísticas, a controvércia Exército-Marinha é enterrada na improvisação e na ação.

A 20 de outubro, começa a batalha terrestre de Leyte. Com 150 Lm de comprimento e trinta de largura, a ilha foi comparada por um autor norte-americano, a um molar desfalcado, e por outro, à Vitória de Samotrácia. Estende-se entre Mindanau e Samar, separada da primeira pelo largo estreito de Surigua, e da segunda, por algumas centenas de metros do tortuoso estreito de San Juanito. Três quartos de sua superfície são montanhas ou pântanos. A parte útil se encontra no norte em dois vales, vale de Leyte e vale de Ormoc, separados por uma cadeia de montanhas, cujo cimos, cobertos de jângal, ultrapassam 1.200 metros de altura. Desde a invasão da África do Norte, dois anos antes, a técnica norte-americana de desembarque fez prodigiosos progressos. O de leyte, com 700 navios e 175.000 homens, desenrola-se como uma peça de teatro, rodada por numerosas representações. O Corpo – 1ª Divisão de cavalaria, 24ª Divisão de Infantaria, desembarca na baía de San Pedro, no fundo do golfo de Leyte, nas proximidades da pequena capital da Tacloban. O 24º Corpo – 96ª e 7ª D.I. , desembarca uns vinte quilômetros ao sul, perto da cidadezinha e aeródromo de Dulag. Conhecendo o poder arrasador do fogo norte-americano sobre as praias, os japoneses não fortificaram o litoral, organizando a defesa em profundidade. Tacloban e seu aeroporto, Palo e Dulag, são tomados desde o segundo dia. MacArthur desceu à terra, na tarde do primeiro dia. Patinhou majestosamente na água até aos joelhos e, na própria praia, enviou pelo rádio uma mensagem, cheia de um fervor quase místico, à nação filipina. Dois dias depois, instalou solenemente em Tacloban o sucessor de Manuel Quezon, Sérgio Osmena. Tinha já recusado o alto-comissário que Washington lhe quis impingir para a administração do arquipélago. A legalidade é restaurada, as instituições recomeçam a funcionar neste primeiro retalho de território libertado.

Mas a batalha terrestre de Leyte passa a segundo plano. A sorte da ilha não se joga aí, mas no mar. Uma complexa e patética batalha naval está em curso.

A 18 de outubro, o Almirante Toyoda deu ordens para executar o Plano Sho-I. A esquadra de porta-aviões, cujo papel é atrair sobre si a fôrça de combate norte-americana, não tem mais de 110 aparelhos, tripulados por pilotos na maioria incapazes de mergulhar. Os couraçados restaurados Ise e Hyuga não tem nenhum avião e, como lhes tiraram sua principal artilharia, estão praticamente impotentes, mas decide-se levá-los, ao menos para reforçar a impressão que a esquadra sacrificada, a esquadra-isca, deve dar. Eu esperava – dirá o Almirante Ozawa, a destruição total da minha frota, pois a única coisa que importava era que Kurita pudesse cumprir sua missão. Parte ostensivamente, a 20 de outubro, com o Ise, o Hyuga, o Zuikaku, o Zuiho, o Chiyoda, 3 cruzadores, 8 contratorpedeiros, numerosos navios de carga e petroleiros, também para fazer número.

Por outro lado, Kurita deixou Lingga Roads e dirigiu-se para Brunei, na costa norte de Bornéu. A 22, deixa Brunei. Sua armada se fraciona em duas partes. A menos importante, sob o comando do Almirante Nishimura, compõe-se dos couraçados Fuso e Yamashiro, do cruzador pesado Mogami e de 4 contratorpedeiros. Deverá ser engrossada pelos 7 navios do Almirante Shima e encaminhar-se para o estreitode Surigua, para cortornar Leyte pelo sul. A fôrça principal sob o comando de Kurita, compreende os couraçados Yamato, Mushashi, Nogato, Kongo e Haruma, 11 cruzadores e 15 contratorpedeiros. Deve atravessar o estreito de São Bernardino, entre Luçon e Samar, contornar esta última ilha e irromper no golfo de Leyte ao mesmo tempo que Hishimura. Espera-se que, neste momento o Almirante Halsey já tenha sido burlado pela frota de Ozawa. Prevê-se um massacre das velhas embarcações norte americanas diante de Leyte, o isolamento das tropas desmbarcadas, o revés da invasão das Filipinas.

Começa o dia 23 de outubro. Agitado por um tufão durante os dias precedentes, o Pacífico retoma lentamente a sua serenidade. Um dos quatro grupamentos de pota aviões do Almirante Halsey, o TG 38.1, se reabastece em Ulithi. Os outros três cruzam ao largo de Samar. Encarregada da execução e da proteção imediata do desembarque, a outra frota americana, a 7ª, do Almirante Thomas C. Kinkaid, enche o golfo de Leyte com um conglomerado de navios de todos os tamanhos, de todas as denominações e especializações. São acompanhados pelos seis velhos couraçados Mississipi, Maryland, West Viginia, Tenessee, Pennslyvania e California. Os norte americanos não esperam uma batalha naval. Não suspeitam que há três forças japonesas convergindo em sua direção.

À aurora, a esquadra que vem de Brunei entra no canal que espera a longa ilha de Palauán de um baixo conhecido como Dangerous Ground (Zona perigosa). Navega em duas alas; a da direita é conduzida pelo cruzador Atago, que arvora a bandeira do Almirante Kurita. Alguns minutos depois das 6 horas, vários torpedos atingem o navio, imundam as caldeiras, arracam as hélices e o leme. O Cruzador seguinte, o Takao, é também torpedeado e às 6h 40 m, o Maya, terceira embarcação da ala direita. O Atago afunda, o Maya explode, o Takao se arrasta com dificuldade em direção a Cingapura. Atacado pelo Dace e o Daster, a marinha imperial é novamente vítima de sua imperícia na luta ati submarina. Kurita Transfere sua bandeira para o Yamato e prossegue seu caminho enfraquecido e localizado.

Também a esquadra do Almirante Nishimura foi localizada, durante o dia, por patrulhas norte americanas. A única das três forças japonesas de que os americanos ignoram a presença no mar é a que procura ser vista, para desviar o castigo sobre si. Ozawa navega sem incidentes durante todo o dia e, durante a noite, desvia-se para sudoeste, a fim de aproximar-se de Luçon.

O dia 24 é ardente. Os norte americanos tentam esmagar as esquadras de Kurita e Nishimura antes que elas atinjam os estreitos. Os japoneses usam sua aviação que tem base nas ilhas. Marcam o primeiro ponto. No princípio da manhã, o TG 38.3 do Contra Almirante Frederick C. Sherman, sofre o ataque resoluto de 150 aviões. O último da última vaga joga um torpedo sobre o Princeton. Um fantástico cogumelo de fumaça brota do porta aviões. A luta para salvá-lo durará até a noite. Será necessário decidir acabar com ele.

Mas os japoneses pagam. A esquadra de Kurita é atacada às 10 h 26 m, 10 h 45 m, 12 h 45 m, 13 h 50 m e 15 h 50 m. Sua potente D.C.A. não substitui os caças que lhe faltam. Os navios são crivados de projéteis. Vários, como o Yamato, sofrem sérias avarias. Outro gigante, o Mushashi, atingido doze vezes, queima durante todo o dia e afunda ao por do sol. Kurita pensa em retroceder. Tóquio lhe reitera que deve cumprir sua missão custe o que custar, e até o fim.

Durante esses duros embates, Ozawa prossegue seu caminho, desanimado de ser descoberto. Lançõu todos os seus aviões, na esperança de que eles encontrariam os alvos. A maioria pousou em Luçon, sem ter visto um só navio, e somente 23 puderam voltar aos portas aviões.

Somente a tardinha os aviões de reconhecimento norte americanos sobrevoa a frota japonesa. Ozawa sabe que foi descoberto. Suas tripulações sabem que estão condenadas. O Almirante Halsey compreende, com um suor de angústia, que se deixou surpreender. Enquanto permanecia hipnotizado no mar de Visaya, enquanto enviava suas esquadrilhas para cercar as duas esquadras de couraçados e cruzadores que navegavam em direção a Surigau e San Bernardino, a principal força inimiga avançava para atacá-lo pelas costas. È tempo de eliminar esta ameaça. Já que o inimigo pede a batalha, é preciso dar-lha com o maior vigor.