sábado, 20 de março de 2010

LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 20

22 DE ABRIL


Em abril de 1945, a situação tornou-se crítica. Basta dizer que, enquanto os grupos americanos faziam 48 saídas diárias com 45 pilotos, o nosso realizava 40 saídas com 23 pilotos, total a que estávamos reduzidos, incluindo naquele número o comandante e o oficial de operações, que normalmente, não deve ser computados.


Abril, mês crítico e decisivo para a causa aliada, sofrendo sérias e dolorosas perdas, mas foram como chuvas de abril que brotaram flores em maio.


O dia 22 de abril é comemorado na Força Aérea Brasileira por ter sido o dia em que o grupo de caça brasileiro, no auge de sua atividade, cobriu-se de glórias e obteve, o máximo de resultados, os seus ataques, nesse dia, na região de San Benedetto, foram um fator decisivo de cabeça de ponte aliada na mesma direção.


O relatório oficial do mês de abril do 350º Regimento de Caça, enviado a Washington naquela ocasião, diz o seguinte: Durante o período de 6 a 9 de abril de 1945 o Grupo de Caça Brasileiro voou 5 por cento das saídas executadas pelo XXII Comando Aéreo Tático e no entanto, dos resultados obtidos por este comando, foram oficialmente atribuídos aos brasileiros: 15 por cento dos veículos destruídos, 28 por cento das pontes destruídas, 36 por cento dos depósitos de combustíveis destruídos e 85 por cento dos depósitos de munições destruídos.


Nos dias 21, 22,23 e 24 de abril de 1945 os ataques da aviação aliada foram em número jamais vistos no teatro de operações do Mediterrâneo. Tinha-se que evitar, a todo custo, que o inimigo atravessasse o rio Pó em ordem e em condições de oferecer resistência ao norte do rio.


No conjunto grandioso da ofensiva aérea maciça desencadeada, o Grupo de caça Brasileiro desempenhou com bravura e brilhantismo a sua pequena parcela.


O que foi sua atuação no dia 22 de abril de 1945, pode ser avaliado melhor pelo texto da proposta de citação, enviada pelo comandante do 350º Regimento de Caça.


APO 650


17 de maio de 1945


Assunto: Recomendação para citação.


Ao, General Comandante do XXII Comando Aéreo Tático, APO.650. Proponho-vos seja o 1 Grupo de Caça Brasileiro citado pelos relevantes feitos realizados no conflito armado contra o inimigo, no dia 22 de abril de 1945, de acordo com a circular nº 333 do departamento de guerra, datado de 22 de dezembro de 1943 e pela circular nº 89, no teatro de operações da áfrica, datado do dia 10 de julho de 1944.


Seus notórios serviços em batalha, no dia acima mencionado, são provados na presente proposta de citação, mas vos peço a atenção para o espírito que o pessoal tem constantemente demonstrado.


Esses grupo entrou no serviço de combate na época em que a oposição antiaérea aos Caças Bombardeios estava em seu auge.


Suas perdas têm sido constantes e pesadas e tem sido poucas as substituições. Como seu número cada vez mais diminuído, cada piloto voava mais, expondo-se com freqüência.


Em muitas ocasiões, como comandante do regimento, retive esses pilotos, quando eles queriam continuar a voar, por que acreditava que já havia transposto o limite de suas possibilidades.


A perícia e a coragem demosntradas nada deixam a desejar. Chamo-vos a atenção para a esplêndida exibição do seu trabalho contra todas as formas de interdição e coordenação de alvos.


Em minha opinião, seus ataques na região de San Benedetto, no dia 22 de abril de 1945, ajudaram a preparar o caminho para a cabeça de ponte estabelecida pelos aliados, no dia seguinte, na mesma região. Cada ataque foi bem planejado e bem executado. A fim de completar isso, o 1º grupo de caça brasileiro, em seus feitos, excedeu os de todos os outros grupos e sofreu sérias perdas.


A superioridade do pessoal de vôo e de terra é igualmente demonstrada no completo sucesso aéreo.


Acredito estar refletindo o sentimento de todos os que conheceram o trabalho do 1º grupo de caça brasileiro, ao recomendar que eles recebam a Citação da Unidade. Tal citação, é não só altamente meritória, mas tornar-se-ia carinhosa à lembrança dos brasileiros, na comemoração dos esforços que foram desenvolvidos neste Teatro.


Ariel W. Nielsen


Coronel de Aviação – Comandante.


Os componentes do 1º grupo de caça brasileiro são citados pelos relevantes serviços prestados, em ação contra o inimigo, no teatro de operações do Mediterrâneo, no dia 22 de abril de 1945.


Pelos heróicos serviços, envoltos na mais alta bravura e habilidade, no reconhecimento armado e ataques da caça bombardeios e, pela soberba demonstração de tática coordenada com o 5º exercito, o que contribuiu diretamente para que os aliados cruzassem o rio Pó. Em exemplar harmonia com os objetivos da campanha do vale do Pó, os brasileiros destruíram vasta quantidade de veículos e material inimigo, evitando, desta maneira, a escapada do inimigo para as fortes defesas já preparadas na retaguarda.


Pela localização de uma garagem, pesadamente defendida e habilmente camuflada, nas proximidades de Mantova, Itália, na qual. 3 ataques destruíram, no mínimo, 45 veículos e, indubitavelmente, imobilizaram muito mais. Pelo arrasamento de pontões inimigo no rio do Pó, ajudaram a frustrar sua retirada, deixando muitos alemães sem meios de escapar. Pela vigilante cobertura aérea nas redes de estrada e posições de batalha organizadas, destruíram muitos outros veículos, incluindo peças de campanha blindadas e arrasaram várias posições de trincheiras.


Nas perdas que sofreram nessa ocasião, como também em muitos ataques anteriores, tiveram seu número de pilotos reduzidos à metade, em relação aos grupos da força aérea do exército dos Estados Unidos que operavam na área, porém voaram um número igual de surtidas, operando incansavelmente e além do normal previsto.


A manutenção de seus aviões foi altamente eficiente, a despeito das avarias sofridas pela antiaérea, do uso e do desgaste de intensivos esforços.


Contornaram as sérias dificuldades atmosféricas com excelentes planos de navegação. Pelo mais hábil emprego da câmara fotografou o resultado de seus ataques e forneceram relatórios fotográficos de uma histórica campanha. No final do dia, durante o qual 11 missões e 44 surtidas foram efetuadas, destruíram 97 transportes a motor e avariaram 17, destruíram um parque de viaturas, imobilizaram 35 veículos de tração animal, avariaram uma ponte rodoviária e uma ponte de barcas, destruíram 14 edifícios, ocupados pelo inimigo e avariaram 3 outros e atacaram 4 posições militares.


A brilhante capacidade, incansável devoção ao dever e heroísmo demonstrados pelos oficiais e praças do 1º grupo de caça brasileiro, durante essas operações e em muitas outras ocasiões, tornaram seus serviços distinguidos e têm refletido grande crédito para eles e para as Forças Armadas das Nações Aliadas.


Infelizmente a citação acima não chegou a ser oficializada, porque as citações só eram concedidas, em nome do Presidente norte americano, a unidades norte americanas de tamanho superior ao Grupo de Caça Brasileir, de Regimento para cima.


Somente duas unidades não pertencentes ao Exército dos Estados Unidos que lutaram na 2ª Grande Guerra Mundial mereceram a Prsidential Unit Citation. Um Esquadrão da Força Aérea Britânica (RAF) Real Air Force e o 1º Grupo de Aviação de Caça Brasileiro.


Coube ao então Major da Reserva John W. Buyers, ex-oficial de ligação entre o 1º grupo de caça brasileiro e a força aérea dos Estados Unidos na Itália, o trabalho de desencalhar a proposta dos arquivos e reavivá-la obtendo sua concretização.


John Buyers, pessoa prestativa, norte americano de quem os brasileiros guardam gratas recordações, tomou parte nas operações do nosso grupo de caça, vindo juntar o seu nome ao desses bravos, a quem sempre prestamos nossas homenagens.


Ele se interessou muito pelo assunto e começou a trabalhar pela aprovação da referida citação. Levando a vantagem de ser americano, e sua facilidade de penetração nas embaixadas dos Estados Unidos, preparou toda documentação necessária para a apresentação do pedido.


Foi à Embaixada Americana em Brasília, entrou em contato com os adidos aeronáuticos americanos que demonstraram grande entusiasmo. Buyers ficou na expectativa por alguns meses e finalmente foi informado de que o Presidente Ronald Reagan havia assinado a aprovação com o seguinte comentário: Desejaria muito poder pessoalmente entregar essa citação ao 1º Grupo de Caça Brasileiro, mas infelizmente, se eu fosse a pessoa, causaria tanto transtorno que enviarei meu representante.


Quarenta e um anos depois do término da 2ª Grande Guerra Mundial os integrantes do 1º Grupo de Aviação de Caça que serviram na Itália, do pracinha menos graduado ao Comandante da Unidade, receberam a Prsidential Unit Citation dos Estados Unidos da America. Isto é, receberam a passadeira azul Blue Ribbon correspondente à medalha. A medalha propriamente dita foi colocada na Bandeira do Grupo.


A entrega da comenda deu-se no dia 22 de abril de 1986, dia da Aviação de Caça da FAB, em solenidade na Base Aérea de Santa Cruz, Rio de Janeiro, com a presença do Presidente da República José Sarney, e o secretário da Força Aérea Americana, Sr. Edward Aldridg Jr.


Pronunciamento do Exmo. Sr. Secretário da USAF – Edward Aldridg Jr.


Seu discurso foi traduzido para o português, palavra por palavra pelo locutor, Cid Moreira da Televisão.


Bom dia, Sr. Presidente, senhoras e senhores,


É com grande honra para mim poder, em nome do Presidente dos Estados Unidos da America, pagar uma antiga dívida de gratidão aos notáveis homens que integraram o 1º Grupo de Caça da FAB.


Neste mesmo dia, há 41 anos, este nobre grupo de homens do ar conquistou, dramaticamente, nos céus da Itália, uma série de sucessos e vitórias que cobriram esta nação de glória.


A eficiência que eles demonstraram sobre a região de San Benedetto foi decisiva para que os aliados estabelecessem uma cabeça de ponte, sobre o estrategicamente importante rio Pó.


Estes jovens corajosos tornaram-se os primeiros brasileiros a deixar sua terra natal para lutarem pela causa da democracia. Nossos convívios mais íntimos começaram em janeiro de 1944.


O esquadrão fora treinado no Pannamá em Nova Yorque, e rapidamente demonstrava disposição e prontidão para o combate.


Seu batismo de fogo ocorreu na Itália, em outubro de 1944, numa época em que a artilharia antiaérea contra os P 47 era mais intensa. Em um mês eles estavam operando como veteranos. O calor dos combates aéreos trouxe vitórias mas também pesadas e contínuas baixas em um momento em que eram raros os recompletamentos de pilotos. O então Comandante do 350º Grupo de Caça exortou a bravura de seus comandados quando assim escreveu na primavera de 1945.


Com o número de pilotos diminuía, cada um deles passou a voar mais, expondo-se com maior freqüência. Em várias ocasiões, como Comandante do 350º Grupo de Caça, eu fui obrigado a mantê-los no chão quando insistiam em continuar voando, por que eu acreditava que eles já haviam ultrapassado os limites de sua resistência física.


A Condecoração Presidente Unit Citation só é concedida por atos de extremo heroísmo contra o inimigo armado. O notável desempenho destes brasileiros, como os senhores poderão comprovar, excedem em muito este critério.


Em abril de 1945, as forças aliadas lançaram uma grande ofensiva para dominar a resistência nazista na Itália. Em apoio a esta operação de seus pilotos voaram mais do que o dobro das missões voadas nos meses anteriores. Além de uma oposição aérea contínua, eles encontraram uma antiaérea mortífera. Proveniente de mais de 22 locais diferentes.


As condições meteorológicas tanto na Base quanto na área dos alvos eram tão ruins que obrigavam, mesmo ao mais ousado piloto, a pousar em campos de emergência. Seus homens do ar voaram e lutaram até que se esgotassem o combustível e a munição. O último avião pousou na escuridão da noite. O valor que eles demonstraram nos céus da Itália jamais será esquecido.


Nós lutamos ombro a ombro para destruir o nazismo na campanha da Europa, da mesma maneira com que nos unimos hoje para apoiar os objetivos democráticos neste hemisfério. Estou contente com o excelente relacionamento de trabalho que as nossas Forças Aéreas têm mantido. Os intercâmbios anuais entre as tripulações de C 130 e F 5, e mais recentemente entre as equipagens de busca e salvamento, são exemplos de um trabalho mútuo, contínuo e produtivo. Nossa cooperação mútua nestas áreas é um tributo à bravura, ao espírito de aventura e ao amor à liberdade, demonstramos de maneira tão marcante pelos homens do 1º Grupo de Aviação de Caça há 41 anos. O espírito de cooperação que possuíram será sempre um modelo a ser seguido por todos aqueles que vierem a conhecer a história. Eles colocaram o amor à Pátria e o amor à liberdade acima de seus próprios interesses.


Como disse o seu antigo Comandante uma vez: Eram um punhado de homens com recompletamento limitado, freqüentemente exaustos, mas decididos a alcançar, com heroísmo, seus objetivos.


350º FIGHTER GROUP


Resumo de suas atividades na campanha do Mediterrâneo


Em outubro de 1944, já na Itália, o 350º FG recebeu o seu quarto Esquadrão, o 1º Grupo de Caça Brasileiro.


O 350th Fighter Group iniciou operações em defesa da Costa Norte da África, poucos dias depois que seus contingentes de apoio terrestre e apoio aéreo se juntaram na cidade de Oudja, no dia 03 de janeiro de 1943, no Marrocos Francês. Na realidade, seu contingente terrestre já havia chegado ao Norte da África nos primeiros dias de novembro de 1942. Vindos da America do Norte, junto com o Comboio da Operação Torch para a invasão do Norte da África.


Poucos dias mais, iniciaram suas primeiras missões defensivas, patrulhas, assim também como suas missões ofensivas, ataques a posições alemães nos céus da Tunísia. Eram um total de três Esquadrões de Caça denominados 345thFS, 346thFS e o 347thFS.


De início seis esquadrões voaram suas missões utilizando aviões do tipo P 39, mais tarde, quando chegaram à Itália, voavam aviões tipo P 47. Nós meses de junho a setembro de 1943, cada Esquadrão recebeu 2 aviões tipo P 38 para interceptarem e destruírem aviões da Luftwaffe que efetuavam vôos de reconhecimentos em grandes altitudes, afim de fotografarem a Frota Invasora Aliada que se reunia para a invasão da Sicília.


Durante toda a campanha do Mediterrâneo, voaram mais de 37.000 missões de Guerra, sendo que 16.600 foram do tipo defensivo e mais de 20.000 missões ofensivas, tendo o 1º Grupo de caça brasileiro efetuou um adicional de 2.546 missões ofensivas. As maiorias das missões defensivas foram feitas, utilizando os P 39 Aerocobras e os P 38 Lightinig, enquanto que a maioria das missões ofensivas foram executadas utilizando-se o P 47, enquanto que 700 missões defensivas foram executadas com os P 47, especialmente na proteção do Comboio da Invasão ao sul da França.


O 350FG perdeu 95 pilotos mortos em combate ou por acidentes, sendo que desses totais, 5 foram do 1º grupo de caça. Outros 25 pilotos foram abatidos em missões ofensivas, porém, os pilotos evadiram captura em territórios inimigos, ou saltaram de para quedas ou tiveram pousos forçados em territórios aliados, dos quais 5 foram pilotos brasileiros. Ao menos 16 pilotos receberam ferimentos em combates, mas conseguiram retornar a sua base ou em outra base aliada. Três desses foram pilotos do 1º grupo de caça brasileiro, 13 pilotos foram internados em territórios neutros, mas foi permitido saírem incógnitos e com roupas civis, rumando para Gibraltar.


Aproximadamente33% dos pilotos americanos que serviram no 350FG caíram em uma dessas categorias acima referidas. Para os brasileiros, cerca de 44% de seus pilotos formaram nessas categorias acima referidas. Não obstante, uns 700 pilotos do 350FG conseguiram retornar a sua base de origem ou alguma outra base aliada, com avarias em seus aviões, provocados pelo Flak inimigo.


Em contra partida da balança, os pilotos do 350FG despejaram 7.000 toneladas de bombas e dispararam m ais de 30 milhões de cartucho tipo 50mm na destruição de instalações ou posições inimigas

domingo, 14 de março de 2010

LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 19


PISA – ITÁLIA

Em fins de novembro de 1944, uma ordem das operações oriundas do comando Aéreo Tático esclarecia o seguinte: O Norte da Itália fica dividido em cinco zonas de ações, cada uma das quais será atribuídas a um determinado Regimento de Caça bombardeiros. Em conseqüência, atribui-se ao, 350º Regimento de caça ao qual pertencia ao 1º grupo de caça brasileiro, uma zona delimitada pela linha de segurança ao Sul, e por outra perpendicular a esta, passando pelo Lago de Garda. Dentro deste quadro geral o 1º grupo de caça continuou a saldar os seus compromissos até o dia 2 de dezembro de 1944, com a estabilização da frente de combate, deslocou-se acompanhando o 350º Regimento de caça, para a cidade de Pisa, situada a poucos quilômetros da linha de contato.

O deslocamento para a cidade de Pisa efetuou-se sem nenhum prejuízo das operações. O pessoal de terra deslocou-se antecipadamente com a finalidade de receber os aviões, preparar o estacionamento dos mesmos, e as barracas de suprimentos e manutenção.

Á sudeste de Pisa ficava o aeródromo que servia de base aos brasileiros e americanos. Nada mais que uma antiga pista de concreto, aumentava com o prolongamento de chapas de aço. Um prédio central servia de sede aos departamentos de operações, informações e ao deposito de para quedas. De resto, eram estruturas metálicas de hangares destruídos. Os aviões ficavam guardados na vizinhança, assim como as barracas de lona em que funcionavam as seções de manutenção de aviões, armamentos, comunicações, almoxarifados técnicos.

Os pilotos ficaram hospedados no Alberge Nettuno à margem do rio Arno. O edifício do hotel, esburacado, sujo e bastante danificado pelas bombas, que também destruíram todas as pontes da cidade, mesmo assim, deu abrigo à oficialidade do 1º grupo de caça.

Na margem oposta do Rio Arno, outro prédio servia de quartel aos graduados e soldados dos bombardeios, bastante danificada. Pisa ex-colônia grega e cidade etrusca, foi província romana. É a sede de uma das mais antigas universidades da Itália. É um centro industrial e comercial. Pisa é a cidade onde se encontra a famosa torre inclinada, a qual foi construída entre os anos de 1.174 até 1.350.

Toda de mármore, estilo romântico, o motivo de sua inclinação até hoje é desconhecido.

Os brasileiros chegaram a Pisa começaram a pagar o clássico tributo à famosa Torre. Sim, ela continua de pé e classicamente inclinada, embora fosse anedota corrente que o espírito sistematizador e dedicado dos americanos resolvesse colocá-la na vertical.

Relata o então Tenente Coronel Luiz Felipe Perdigão, no seu livro " Missão de Guerra": Evvive La Torre di Pisa, que pende, que pende...


Cantarolávamos alegres, marcando compasso com facas a bater nos copos, e pouco a pouco, a música invadia o coração, ressoando num eco infindo para encher a monotonia dos vôos longos e o vazio das noites solitárias.

Em Pisa a nossa sorte mudou. Deixamos as nossas barracas de lonas e chão batido para nos abrigar melhor, num prédio de alvenaria. Os pilotos começaram a operar já com bastante desembaraço, não obstante a perda de mais três oficiais registrados logo a seguir. Já familiarizados com a realidade da guerra, embora com a técnica e a experiência de pouco tempo, mas com a coragem e a perícia de um povo cuja vocação para a arte de voar era incontestável, isso inspirou o respeito e a admiração de quantos participou ao lado daqueles intrépidos guerreiros do ar.

Embora como foi relatado antes, a força aérea alemã estivesse varrida dos céus da Itália quando o 1º grupo de caça chegou ao Teatro de Operações, o caminho não estava de todo livre para suas façanhas. Existia ainda para obstar-lhes as investidas e reprimir os excessos de entusiasmo uma artilharia antiaérea numerosa e eficiente que, segundo, alguns, acabaram se constituindo num numeroso inimigo tão perigoso e temido quanto qualquer força aérea.

Não havia região ou ponto estratégico em poder dos alemães que não estivessem convenientemente protegidos com maior ou menor intensidade, segundo sua importância por canhões de 20, 40 e 88 milímetros.

as estatísticas demonstravam que nos primeiros meses de 1945, os aviões do 1º grupo de caça brasileiro, realizaram 1.728 surtidas. Isto representava uma glória para o pessoal de terra, de alto padrão de eficiência, pois na realidade é uma disponibilidade bem alta. Dentre os muitos alvos atribuídos ao 1º grupo de caça, nessa fase, merece especial destaque as ferrovias do Passo de Brenner e suas variantes, defendidas segundo relatório, por 408 canhões antiaéreos de grosso calibre e 415 outros de calibres diversos.

Convém aqui destacar dos efeitos mais importantes de nosso grupo. O que mais impressionou foi, sem dúvida, o realizado em princípio de fevereiro de 1945. Voltava uma esquadrilha brasileira do cumprimento de sua missão, quando assinalou, em certa região, grande concentração de caminhões. Imediatamente atacou o objetivo inopinado gastando toda a munição de suas metralhadoras. Não satisfeitos com isso, regressaram à base, reabasteceram-se de gasolina, munição, bombas de demolição e incendiárias e retornaram ao local, continuando o ataque durante longo tempo e ocasionando ao inimigo a perda de mais de 80 caminhões e ainda a destruição completa dos edifícios que estavam nas imediações.

Em fins de abril, outra esquadrilha brasileira, ao executar um reconhecimento armado, encontrou várias composições de estrada de ferro em três linhas adjacentes, partiu ao ataque, tendo como resultado tremenda explosão, pois os trens transportavam munições, as chamas se elevaram a 300 metros de altura e a fumaça a mais de 2.000 metros, as três linhas de estrada de ferro foram cortadas, mais de 70 vagões foram destruídos e muitos outros lançados fora dos trilhos.

O resultado deste ataque foi importante para as operações de nossas tropas terrestres.

Mas não só sob este prisma que queremos assinalar a ação dos nossos pilotos. Desejamos mostrar o alto grau de discernimento de que os mesmos eram dotados e para isso vamos registrar o fato ocorrido no dia 19 de abril de 1945. Este, para mim, se reveste de alto valor humano. O comandante de uma esquadrilha de nossos grupo, em regresso de missão, assinalou uma concentração de tanques numa linha muito avançada no vale do Pó e bem além da linha de segurança estabelecida. Havia, no entanto, a possibilidade remota daquelas viaturas pertencentes às tropas amigas. A notícia foi imediatamente remetida ao escalão competente e a resposta do General Thomas C. Darcy, Comandante do XXII Comando Aéreo Tático, não se fez esperar.

Solicito-vos transmitir aos pilotos do 1º grupo de caça a minha admiração pela esplêndida demonstração de senso tático e oportuno julgamento ao assinalar a presença de tanques amigos na vizinhança de Casalechio.

Essa comunicação forneceu a primeira indicação da chagada do 5º Exército no vale do Pó, e foi de inestimável valor militar para todos os interessados. O fato de não terem sido atacados estes tanques amigos, os quais se encontravam na ocasião muito além da linha de segurança, salvou a vida de inúmeros soldados aliados e constitui um tributo à perfeita doutrina do Grupo de caça brasileiro, no que diz respeito à estreita cooperação entre as forças de terra e ar.

Finalizando esta exposição sobre a atuação do 1º grupo de caça desejamos, ainda, acrescentar a operação realizada no dia 15 de abril de 1945, a qual mostra, distintamente, a cooperação do grupo às tropas terrestres de primeiro escalão. Dois dias antes, isto é, no dia 13 de abril, faleceu o Aspirante Aviador da Reserva Convocado, Frederico Gustavo dos Santos, na explosão de um depósito de munições alemão, que ele próprio metralhara, nas proximidades de Udine.

O inimigo se apresentava em Monte Solo em posições fortificadas que impediam o avanço de nossas tropas do 2º Corpo de Exército. Oito aviões brasileiros atacaram as posições com bombas incendiárias de gasolina gelatinosa e foguetes, toda a crista de Monte Solo ficou em chamas, enquanto ataques em vôo razante varriam à metralhadora, o pessoal entrincheirado. Por esta ação, o regimento de caça recebeu o seguinte elogio extensivo ao nosso Grupo.

"Desejo expressar minha apreciação e congratulações, juntamente com os da 6ª divisão Motorizada Sul Africana, pela excelente cooperação levada a efeito por sua unidade nos ataques a Monte Solo na tarde de 15 de abril de 1945".

E, para que passe à História, convém ainda, assinalar que em todas estas missões do inimigo, que eram numerosíssimas no vale do Pó. Nos quatro primeiros meses de operações, o Grupo de Caça Brasileiro fez 1.728 saídas e foi 103 vezes atingido pelo fogo da artilharia antiaérea, o que dá em média um avião atingido por 17 saídas.

domingo, 7 de março de 2010

BATALHA DE MIDWAY

MILAGRE EM MIDWAY

A impressão de invisibilidade resulta do consentimento do adversário e exercer sobre um efeito paralisante. Aos vencedores nada parece impossível; aos vencidos todas as suas tentativas parecem fadadas ao fracasso.

A primeira nuvem tolda o brilhante sol nipônico no dia 18 de abril. O sangue de Pearl Harbor clamava por vingança. A audácia de um submarino japonês, emergido diante de Los Angeles e canhoneando a costa californiana, pela primeira vez na sua história permanecia impune. Roosevelt perguntou ao Almirante King se era possível exercer represálias bombardeando Tóquio. Nada mais difícil. Nenhum avião naval se prestava a esta missão. Resolveu-se o problema que sistia na decolagem de bombardeiros terrestres de um porta aviões, mas o problema que consistia em recolhe-los ficou insolúvel. Era preciso, por conseqüência, que o reide terminasse em um território amigo. Na Rússia, era impossível, em virtude de sua neutralidade prudente em relação ao Japão. Quem sabe a China? Mas a conservação do segredo proibia comunicar a Chiang Kai-chek por que lhe pediam que acolhesse bombardeiros americanos. Cheio de desconfiança, ele acabou designando cinco áreas, umas perigosas próximas às zonas japonesas, outras perigosamente longe, no interior da China. Características e condições de aproximação desconhecidas. A operação por Roosevelt consiste em fazer levantar vôo, de uma pista de convés demasiadamente estreita, bimotores carregados de 10.400 Kg, em percorrer 800 km sobre mar inimigo, em atacar, sem cobertura dos caças, uma cidade poderosamente defendida e, depois, em percorrer ainda 1.100 km, para finalmente aterrar no desconhecido.

Apesar de tudo, os preparativos começam. Voluntários são requisitados, nos três grupos de bombardeio, para uma missão excepcionalmente perigosa. Apresentam-se 200, são selecionados 80. Constituirão as tripulações dos b-25 que foi possível amontoar sobre o mais moderno dos porta aviões. O Hornet. O treinamento dos aviadores e a preparação dos aparelhos começam na Flórida e prosseguem na Califórnia. O material bélico é retirado, a fim de dar lugar à instalações de reservatórios suplementares, mas são montadas metralhadoras de madeira, para intimidar os caças inimigos.

No dia 1 de abril, o Hornet transpõe Golden Gate com sua carga de homens e de máquinas. Um porta aviões de escolta, o Enterprice, que partira das ilhas havaianas, reúne-se a ele, no dia 13 de abril, com quatro cruzadores, 8 contratorpedeiros e dois Tankers. O almirante que comanda a expedição é William F. Halsey. O aviador que conduzirá os bombardeiros é o Tenente coronel James H. Doolitle, californiano de nascimento, diplomado pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, engenheiro e piloto de ataque.

No dia 18, às duas horas da manhã, os radares da esquadra captam a aproximação de dois navios. Pela manhã, e não sem um excesso de munições, o cruzador Nasville, afunda um desses importunos, o patrulheiro Karita Maru. A Task Force sabe, que esta descoberta. Encontra-se ainda a 800 milhas das costas japonesas, da qual contava aproximar-se durante o dia, para lançar seus aviões ao PR do sol. Halsey propõe renunciar ao ataque, mas Doolittle recusa. Aceita o risco da distância suplementar e a mudança de um bombardeio planejado para a noite em um ataque diurno.

O primeiro avião é de Doolittle, decola às 7h 25 min, sobre o mar turbulento que cobre de nevoeiro a pista de vôo. O décimo sexto atinge os ares uma hora depois.

Esta combinado que os treze primeiros bombardearão Tóquio e Iocoama, enquanto os três últimos se dividirão entre Osaca, Cobe, Nagóia. São cartões de visita dos Estados Unidos depositam no Japão.

Doolittle e seus doze comandados apresentam-se sobre Tóquio ao meio dia em ponto. Um exercício aéreo acaba de terminar. Os aviões norte americanos são tomados por japoneses. Apenas um aparelho é atingido por uma D.C.A., tardia. O bombardeio se faz em vôo rasante. Os objetivos visados formam uma linha impressionante de arsenais, de casernas, de docas, de refinarias, de siderúrgicas, etc. mas foi sempre impossível estabelecer a natureza e a extensão dos prejuízos causados. Um providencial vento de popa ajuda os atacantes a afastarem-se, compensa, em certa medida, a distância suplementar que tiveram de percorrer, O fim da incursão não é menos difícil nem menos perigoso. Apenas um aparelho aterra em um aeródromo, em Vladivostok. A tripulação é internada. Dos outros quinze aparelhos, onze tem sua tripulação salva pelos para quedas e quatro fazem um crash landing. Somente três aviadores morrem neste brutal retorno à terra, mas as tripulações dos tenentes Hallmark e Farrow, capturadas pelos japoneses, são condenados à morte por uma corte marcial. Os dois comandantes de bordo são executados e também o sargento bombardeador, que confessou, sob tortura, ter visado voluntariamente uma escola.

O reide em si foi custoso, pelos resultados insignificantes, mas gerador de um efeito moral considerável.

A decisão do Estado Maior imperial foi ditada pela combinação do espírito defensivo e da agressividade a todo o transe que caracteriza a estratégia japonesa. Tendo realizado as conquistas essenciais, o Japão pensa protegê-las ao largar o cinturão de segurança que as cerca. Ao sul, novo cinturão deve incluir a Nova Guiné, as ilhas Salomão, as Novas Hébridas, a Nova Caledônia e as ilhas Fidji. No centro, deve englobar Midway. Ao norte deve morder o arco das Aleútas. É unicamente para o lado da América, direção do perigo, que se estende o novo boulevard líquido. Do lado oposto, lado de uma Inglaterra fraca e abalada, todo o perigo desapareceu. A linha de segurança, em conseqüência, não é deslocada. Continua fixa ao largo das ilhas de Sonda, do Sião e da Birmânia. A brilhante saída do Almirante Naguno é uma demonstração sem amanhã.

De volta ao Pacífico, a força ofensiva se desmembra. Naguno volta ao Japão com seus couraçados e três porta aviões. Conduzindo o Zuikaku e o Shokaku, e o contra almirante Tadaichi Hara segue o roteiro a sudoeste, para novos combates.

O senso cênico de MacArthur é perigoso. Qualquer outro general, havendo abandonado suas tropas como foi obrigado a fazê-lo, chegaria à Austrália debaixo de um complexo. Fêz uma entrada de herói.

Na zona do Pacífico, a responsabilidade pertence aos Estados Unidos. Estes estabelecem duas vastas subdivisões, área do oceano Pacífico e a área do Pacífico Sudoeste. Na primeira, as imensidões marinhas, na segunda as grandes ilhas, a Austrália, a Nova Guiné, as Filipinas, a Indonésia. No comando da primeira, Nimitz e no comando da segunda MacArthur.

Na Austrália reina um pessimismo negro. Os australianos calculam que lhes faltam no mínimo 25 divisões para defender sua ilha continente. MacArthur não aceita este dado absurdo. A defesa da Austrália só é possível vinda do exterior. A primeira tarefa de macArthur é organizar um exército. Não é simples. As fulgurantes vitórias nipônicas e a passagem dos ex-isolacionistas à tese Pacific first não abalaram o princípio que dava a Hitler a vantagem na derrota.

Rabaul, onde os japoneses se instalaram desde de janeiro, está apenas a 500 milhas marítimas. A ocupação de Port Moresby dar-lhes-ia uma base de operação avançadas, prepararia o isolamento, sustaria a invasão da Austrália. MacArthur e Nimitz estão de acordo, vendo nela o próximo objetivo inimigo.

Cerca de 15 de abril, as incertezas se dissipam. Grandes preparativos japoneses estão-se desenvolvendo, forças consideráveis se reúne em Rabaul e na base temporária de truk, arquipélago das Carolinas. O admirável mar de coral está designado para ser a liça. Estende-se entre as ilhas Salomão, a Nova Guiné e a Austrália. Sua Grande Barreira é uma das maravilhas do mundo. A mínima ilhota é cercada de formações coralíferas, cuja contemplação do alto, é uma volúpia para os olhos. É num mar mais azul, mais luminoso e mais doce do que o Mediterrâneo que vaitravar-se a primeira batalha pelo domínio do Pacífico.


Para esta batalha, os Estados Unidos dispõem de dois portas aviões, o Yortown e o Lexington. O primeiro encontra-se nas águas australianas desde fevereiro e o segundo, antepassados de todos os flat tops americanos, acorre de Pearl Harbor. A junção tem lugar no dia 1 de maio a 200 milhas da Nova Caledônia. O almirante do Yorktown, Fletcher, toma o comando por direito de antiguidade. Dispõe de 150 aviões, 11 contratorpedeiros e 8 cruzadores, entre os quais os australianos Australia e Hobart. Sua intenção é interceptar as forças de invasão, quando, vindas de Rabaul, contornar a ponte da Nova Guiné, para entrar no golfo da Papuásia.

Mas o plano japonês é mais complicado do que pensam os nortes americanos. Simultaneamente com Port Moresby, o almirante Shigayoshi Inuye decidiu ocupar Tulagi, pequena ilha vizinha de Guadacabal. A força de ataque, composta dos grandes porta aviões Zuikaku e o Shukaku, faz um gancho para oeste, contorna as ilhas Salomão, em vez de entrar diretamente no mar de coral. No dia 7 de maio, seus aviões caem sobre o grande petroleiro da U.S. Navy Neosho e sobre sua escolta, o contratorpedeiro Sims, onde os dois afundam. Na tarde do mesmo dia, a sorte muda de campo, os bombardeiros e torpedeiros do Lexington encontram o pequeno porta aviões Shoho, guardião vigilante do comboio de desmbarque, e em cinco minutos fazem dele um terrível buquê de chamas que se abisma em um lençol de petróleo incendiado. No dia seguinte depois de se buscarem por muito tempo, os grandes porta aviões se encontram. Apenas o Zuikaku sai indene do choque. O Yorktown é atingido por uma bomba de 360 kg, que penetra no convés, matando 66 homens e desencadeando um grave incêndio. O Shokaku, torpedeado e bombardeado, tem 108 mortos, queimando furiosamente se arrasta para fora do ringue. O Lexington recebe dois torpedo e várias bombas. Os danos são poucos, as avarias não parecem fatais, mas no momento em que o oficial anuncia que a situação está resolvida, uma série de explosões devasta e abrasa o navio. O salvamento é um sucesso. Nem um homem se afoga e deixando o navio em último lugar, o comandante Sherman leva seu cão nos braços. Um contratorpedeiro dá o golpe de misericórdia. Acabou a primeira batalha naval, na qual nem um só tiro de canhão foi dado sobre um navio de superfície.

Taticamente a vantagem é dos japoneses. Mas o comboio, levando as tropas destinadas a Port Moresby, deu meia volta. O Almirante Inuye não julga possível recomeçar a tentativa. O Estado Maior imperial abstém-se de forçá-lo. Novas considerações entraram em jogo. Yamamoto compreende que tem necessidade de uma vitória mais decisiva que a de ter posto fora de forma os velhos couraçados de Pearl Harbor. Concentra suas forças para alcançá-las. As operações excêntricas, como a conquista da Papuásia, são suspensas. O plano de MIdway está maduro.

Enquanto isso, o canhão calou-se nas Filipinas. No dia 3 de abril, sexta feira da paixão, os japoneses atacaram, na medida de um contra dez, o setor este de Bataan. Fraca a defesa. Um tremor da terra juntou-se aos tiros da artilharia e da aviação para estabelecer pânico nas ilhas filipino norte americanas. O comandante local, General Edward King, enviou por um oficial, aos japoneses, a capitulação de Bataan, sem previnir Wainwrigth, o qual, por sua vez, cometeu o erro de emparedar-se em Corregidor num momento de crise aguda. Diz King, que vou a conselho de guerra ao voltar aos Estados Unidos, mas a vida de meus 78.000 homens tem mais importância do que a minha. Mas de 10.000 dos 78.000 homens que King procurou salvar, entre os quais 2.500 norter americanos morrerão aliás, em uma marcha da morte que, quatro anos mais tarde, conduzirá ao patíbulo o General Homma, conquistador das Filipinas.


No dia 26 de maio, começa a execução do plano de Midway. A mais formidável armada da história naval deixa os portos japoneses para vir propor desafio à frota americana.

O grande Almirante Yamamoto conduz pessoalmente as operações. Arvorou seu pavilhão no colosso dos mares, o couraçado Yamato, cujas 63.000 ton. E os canhões de 18 pol. Não têm equivalente em nenhum lugar. Está no entanto, apreensivo e as dores de estômago de que se queixa provêm do seu moral. A reserva que manifestara, no meio da erupção de alegria nacional provocada pelo ataque de Pearl Harbor, era muito bem fundada.

Nada saiu trucado, neste golpe de audácia e de felicidade. O episódio do mar de coral provocou que os Estados Unidos não estão riscados dos mares e que a Marinha gigante que eles constroem promete uma reviravolta no equilíbrio das forças. É preciso agir preventivamente, abrir caminho sobre as vagas, impedir, destruindo as primeiras, que as esquadras de hoje e as de amanhã possam somar-se.

Como todos os planos japoneses, o de Yamamoto é complexo. O deslocamento da armada nipônica visa a dois objetivos convergentes para um fim comum. O primeiro objetivo é a ocupação das ilhas Aleútas, Attu, Kiska e Adak. O segundo objetivo é a conquista do atol Midway. O fim comum é atrair a frota americana ao combate para aniquilá-la.

Para as Aleútas dirige-se a 5ª Frota, do almirante Boshiro Hosogaya. Consta dos porta aviões ligeiros Ryujo e Junyo, mais de 5 cruzadores e 2 comboios de desembarque. As ilhas visadas são altas terras estéreis sepultadas num nevoeiro gelado, desprovidas de todo valor econômico ou estratégico, e a razão pela qual Yamamoto quer anexá-la às conquistas japonesas continua obscura. Supôs-se que ele preparava a invasão no continente americano, mas a ponta das Aleútas está a 3.000 km do Alaska, o que constitui um caminho de invasão totalmente impraticável. Na realidade, a estratégia japonesa se prede em meandros. Mostra-se inapta a esta concentração de esforços que constitui a essência da arte militar. A campanha das Aleútas é apenas um esmorecimento do esquema principal, a conquista de Midway.

Midway é semelhante a Wake. É um atol solitário. A única diferença em relação a Wake é 1.000 milhas marítimas, em lugar de 2.000, o separam das ilhas do Havaí. Uma força aeronaval baseada em Midway pode neutralizar Pearl Harbor e manter um território americano sob séria ameaça de invasão.

Construíram armazéns, hangares, casernas, um hospital, uma central elétrica, uma unidade de destilação de água do mar. Vindo em inspeção, o grande chefe o almirante do Pacífico, Chester W. Nimitz, encontrou a costa calçada de minas, bordada de lança-chamas, eriçada de arames farpados que se prolongam sob as vagas. Felicitou o comandante da ilha, o capitão de fragata Ciryl T. Simard e, regressando a Pearl Harbor, enviou-lhe esta informação: Vocês serão atacados no dia 4 de junho.

Nimitz, simplesmente descobriu o sistema de código japonês, os americanos continuava a decifrar as mensagens inimigas. A última dúvida era a significação de um certo grupo A.F. que designa o objetivo dos imensos preparativos em andamento. O comandante Rochefort recorreu a um estratagema. Ordenou que fosse enviada a Midway uma mensagem clara, dizendo que o aparelho de destilação de água do mar estava avariado. No dia seguinte, o boletim de informações japonês assinalou que A.F. estava sem água doce. Os japoneses são menos espertos do que se imagina.


Para a esquadra nipônica, a marcha sobre Midway parece a reedição do roteiro para Pearl Harbor. De novo a travessia é rude, ventos violentos, rajadas de chuva, vagalhões jogando-se a bordo dos cruzadores e dos contratorpedeiros. No dia 2 de junho, entra-se numa camada feita de nuvens baixas, de nevoeiro e cerração. A visibilidade tornou-se tão má que se luta para encontrar os tanker, depois o funcionamento das caldeiras deve ser interrompido, devido aos riscos de colisão. A coordenação sofre com isto. O plano de informações falha. A frota submarina do Almirante Komatsu fora encarregada de estender uma cortina de observação. Dois hidroaviões de reconhecimento deviam ser reabastecido, por um submarino, no banco de coral de French Frigate Shoals, entre Midway e Oahu, a operação falha, porque Frechh frigate Shoals está vigiado por navios de guerra inimigos.

Mas as forças que tem sob o seu comando (Yamamoto) são de um tal poderio que nada parece ser capaz de pô-lo em perigo.

A frente, Naguno conduz sua ilustre força de ataque. Tendo-se avariado o Shokaku, tendo-se tornado o Zuikaku momentaneamente inútil, a batalha do mar de Coral a reduziu a 4 porta aviões, o Akagi, Kaga, Hiryu e Soryu. Lança ainda ao ar 250 aparelhos, pilotados pelas melhores tripulações do mundo, superiores numéricamente e tecnicamente a todas as formações norte americanas correspondentes. Os couraçados Haruma e Kirishima, dois grandes cruzadores e 12 contratorpedeiros constituem as forças de apoio de Naguno.

Comandada pelo Almirante Kondo, a frota encarregada da conquista de Midway se aproxima do atol por um roteiro diferente. Subdivide-se num grupo de cobertura, um grupo de apoio direto, um grupo de desembarque, um grupo de transporte de hidroaviões e um grupo de caça minas. Os couraçados Kongo e Heie, 9 cruzadores, 20 contratorpedeiros e numerosas unida auxiliares lhe asseguram um poderio de fogo que a neutralização dos defensores pelas esquadrilhas de Naguno oferece as maiores oportunidades de tornar supérfluo.

Na retaguarda avança a majestosa grande frota. Os modernos couraçados Nagato e Mutsu, formam, com o colossal Yamato, a primeira esquadra de linha. Os couraçados Ise, Hyuga, Fuso e Yamashiro formam a segunda. Três cruzadores leves, duas divisões de contratorpedeiros, o porta aviões Hosho, irmão do Shoho, vítima do mar de caral, e o Shiyoda e o Nishin, navios transporte de hidroaviões, completam essa guarda imperial do mar.

Independentemente dos navios destacados para as Aleútas, a frota japonesa dispõe, no total de mais de 200 navios, entre os quais 11 couraçados, 5 porta aviões, 22 cruzadores e 65 contratorpedeiros. Segundo os serviços de informações, as forças americanas do Pacífico são muito inferiores, no máximo 2 couraçados , 3 porta aviões, 9 cruzadores, uma trintena de contratorpedeiros. Muitos desses navios, entre os quais pelo menos 1 porta aviões, não estarão em condições de participar de uma ação em Midway.

No dia 3 de junho, o tempo piora ainda mais. A esquadra dos porta aviões penetra num verdadeiro edredão. Suas 26 unidades, navegando a intervalo de 600 metros, perdem-se de vista. É preciso reduzir a velocidade, para evitar colisões. Em contrate, no convés do Akagi, nave capitania, pesa um silêncio ansioso.

Dois grupos aí se formaram. A bombordo, perscrutando o nevoeiro, o capitão de mar e guerra Aoki, que comanda o porta aviões, e seus oficiais de plantão. A estibordo, o Almirante Naguno, cercado de seu estadomaior, com exceção do cérebro pensante, ,Minoru Genda, que um acesso de febre imobiliza num leito de enfermaria. Aproxima-se o instante decisivo. Amanhã, antes da aurora, Midway estará ao alcance do canhoneiro. Naguno tem duas missões, que, sem serem contraditórias, exigem uma escolha. Uma consiste em esmagar o atol, a fim de permitir o desembarque. A outra consiste em por a pique a frota norte americana. Se esta encontra-se nas proximidades, então a segunda missão terá prioridade e exige que os japoneses não se arrisquem, a não ser prudentemente. Se a frota norte americana, ao contrário, estiver longe, toda a carga de força representada pelos 4 porta aviões, pode e deve ser lançada contra Midway.

Naguno consulta o chefe do seu serviço de informações, o capitão tenente Furakawa. Nenhuma novidade, exceto que se está ultrapassando a zona do mau tempo e que o céu está límpido sobre Midway. Naguno consulta o chefe do seu estado maior, o Almirante Kusaka, nada chegou da parte do Almirante Yamamoto, cujo Yamato, munido dos mais poderosos radares, está a 600 milhas a oeste.

O chefe das operações, capitão de mar e guerra Oishi assume em primeiro lugar a responsabilidade de dar opinião. Nossas ordens prescrevem neutralizar Midway, para efetuar o desembarque, depois do amanhã, 5 de junho. Deveremos manter-nos estritamente dentro delas, caso não nos chegue nenhuma informação sobre o inimigo antes do momento de atacar. Mas pergunta Naguno, onde está o inimigo?

Naguno aquiesce. Como se o céu não esperasse senão tal decisão, o nevoeiro se dissipa. A noite traz as estrelas pela primeira vez, desde o princípio da travessia.

As 2h 45 min da manhã, os alto falantes tiram os aviadores de seus beliches. O convés dos porta aviões se inunda de luz. Ressoa o barulho dos motores a esquentar. As 4 h 30 min, Naguno dá a ordem: Atacar! Fanais verdes se acendem. Caças à frente, a primeira vaga jorra no céu ainda negro. Dentro de 15 minutos, 108 aparelhos estão no ar, giram um momento, como num vôo de grous, e aproam a Midway, distante de 385 km. Já os ascensores ronronam para erguer a segunda vaga, torpedeiros e bombardeiros de mergulho, que ficarão de reserva, sobre os conveses de vão, prontos para qualquer eventualidade, até o momento em que a volta dos aparelhos, lançados contra Midway, os obrigue a baixar novamente aos seus hangares.

Ao mesmo tempo em que os atacantes também alçaram vôo 7 hidroaviões de reconhecimento, partindo dos couraçados Haruma e Shikuma, do cruzador Tone e dos porta aviões Kaga e Akagi. Cada um deve estender-se num ângulo de 563 km e explorar um segmento de circulo de 20 graus. Não se julgou necessário aplicar o princípio da dupla patrulha como se faz cada vez que a informação se reveste de interesse especial. Como diz o comandante Oishi, a frota inimiga não pode estar ao lado. Seria bom demais.

Por outro lado, o hidroavião do cruzador Tone tem dificuldades com seu motor. Os mecânicos o desmontam, no momento em que os outros aparelhos desaparecem no horizonte.

Para o estado maior norte americano, Midway é um porta aviões inafundável. Tem 121 aparelhos que pertencem à marinha, aos marines e a força aérea.

O grosso é constituído dos 32 hidroaviões PBY, entre os quais 5 Catalinas anfíbios, robustos e regulares, mas lentos e pesados. O grupo de caça é constituído por 20 Buffalos, perfeitamente antiquados, designados pelo apelido animador de "Ésquifes Voadores", e 7 Windcats, sensivelmente melhores. A mesma disparidade encontra-se nos bombardeiros de mergulho, 16 Dauntless mais ou menos aproveitáveis.e 11 velhos Vincatores. Para falar realmente em aviação em aviação moderna, é preciso chegar a um pequeno grupo de 6 Avengers, torpedeiros da marinha e principalmente à participação da Air Force: 4 B-26 Marauders e 19 B-17 Flying Fortresses, os primogênitos dos grandes bombardeiros quadrimotores.

São 5 h 25 min de uma bela manhã clara. Brisa delicada, força 3, visibilidade de 25 a 30 milhas. Midway esta alerta, desde 3 horas da madrugada, as tripulações ao lado de seus aparelhos e muitos homens olhando seu último nascer do sol. Desde a véspera, 3 de junho, do alto de um catalina, o suboficial Jawell Reid percebeu um comboio japonês, que alguns B-17 atacaram sem resultado. As primeiras notícias dos PBT que decolaram da laguna, antes da aurora, confirmam a importância da operação inimiga. O mar está coberto de navios e nuvens de aviões dirigem-se para Midway. O posto de radar da ilha confirma às 3 h 52 min. Os PBY e alguns enfermos recebem ordem de manter-se a distância. Os bombardeiros recebem ordem de atacar os navios inimigos. Os caças defendem Midway, cumprindo suas ordens.

Os 36 Kates, bombardeiros de vôo horizontal, e os 35 Vals, bombardeiros de mergulho, são escoltados por 36 Zeros que sobrepujam os Buffalos e mesmo os Wildcats, mais ou menos como a águia sobrepujam o falcão. O major Parks ordena que suas esquadrilhas se elevem a 5.180 m, na esperança de lançar-se sobre os bombardeiros, mas os Zeros tem tal superioridade, em rapidez e manejo, que alcançam os caças norte amaricanos e fazem uma devastação.

As duas ilhotas aparecem em chamas. Um reservatório queima em fantástica coluna de fumaça. O hospital está destruído, várias construções estão destelhadas, crateras destripam o solo, mas as pedras efetivas são mínimas. O oficial que o comanda, o capitão tenente Joishi Tomonaga, tem tanta consciência que, regressando com 10 aparelhos a menos, faz-se preceder de uma mensagem: Necessário segundo ataque.Três palavras que vão desempenhar no destino do Pacífico um papel importante.

Nesse momento, 7 h 10 min, nova fase começa. Os bombardeiros norte americanos aproximam-se dos navios nipônicos. Os PBy guiaram-nos aos porta aviões,alvos altamente prioritários, mas poderosamente defendidos. A tática é atacar em grosso, todos ao mesmo tempo, para dispensar os caças inimigos. Infelizmente os ataques são sucessivos, em vez de simultâneos e para a proteção de seus navios, Naguno guardou uma parte de seus temíveis Zeros.

O primeiro grupo é o dos Avengers, aviões torpedeiros. Voam ao nível da água, mas os Zeros destroem 5 antes que possam alcançar a distância para o lançamento. O sexto, com seu metralhador morto de asas perfuradas acaba por se espatifar nos arrecifes de Midway.

Em seguida vêm os 4 Marauders da Força Aérea, igualmente equipados como topedeiros. Diante deles a D.C.A. está compacta como uma parede e ouve-se o último grito de um piloto no seu microfone. Dois dos Marauders voam em estilhaços. Dois escapam. Os mecânicos contarão em um deles mais de 500 impactos.

As 7 h 55 min, meia hora depois do golpe sofrido pelos aviões torpedeiros, os Dauntless tentam sua sorte. Em 16 pilotos, 13 são inexperientes, em conseqüência, o major Lofton B. Henderson substitui o bombardeio de mergulho por um glide bombing, que, efetuando-se sob menor ângulo, requer menos destreza. A violência do fogo e a brutal intervenção dos Zeros, que mergulham em sua própria D.C.A., deslocam o ataque. Nenhuma bomba encontra seu objetivo e a Midway, de cada dois Dauntless, não voltará senão um.


Mas, muito alto no céu, uma perigosa formação acaba de aparecer. As 15 Flying Fortrtesses do tenente coronel Sweeney tem a palavra. Os Zeros sobem até aqueles colossos, experimentam a intensidade do fogo que parte deles, verificam a eficácia de seu ataque e guardam distância. Sweeney tem toda a tranqüilidade de espírito necessária para lançar seu tapete de bombas sobre os porta aviões, imprudentemente agrupados. Gêiseres jorram domar, recaem sobre os navios, fazendo com que os aviadores lá em cima acreditem que amputaram a frota inimiga. Mas, em plena batalha, o pequeno Almirante Naguno anota no caderninho barato que traz consigo: Não atingido.


São 8 h 25 min. Os navios japoneses não têm um arranhão. A aviação de Midway está destruída, com exceção dos B-17. Naguno empenhou apenas um terço de suas forças e o aniquilamento dos caças inimigos permite-lhes agora todas as audácias. Fora seus navios, forças esmagadoras convergem no seu banco de coral. O Almirante Kondo, com sua frota de desembarque, o Almirante Yamamoto, com suas fortalezas do mar. Amanhã o Japão vai vibrar com a nova vitória. O Posto avançado nas ilhas Havaí estará em suas mãos. A Califórnia tremerá. As comunicações inimigas, no Pacífico, serão secionadas. O dia apenas começa. 4 de junho de 1942. Um belo dia.

Tendo conseguido enfim por a funcionar seu motor rebelde, o hidroavião do cruzador Tone decolou às 5 h 05 min com quarenta minutos de atraso. Ninguém julgou necessário substituí-lo por outro aparelho. É esta razão pela qual a primeira mensagem do observador não chega ao Akagi senão as 7 h 28 min, depois de todas as outras que assinalavam o vazio completo do oceano em seu setor. O hidroavião do Tone, ao contrário, anuncia estar percebendo uma concentração de navios. Uma dezena.

Há exatamente 13 minutos, o Almirante ordenou que regressassem aos seus hangares os 93 bombardeiros que mantinha em reserva para esta oportunidade. Os relatos negativos de seus observadores acabaram por convencê-lo de que o mar está livre de inimigos. Naguno poderá mandar subir de novo os aparelhos ao convés, para joga-los sobre os navios assinalados? Não logo. Deu ordem para substituir os torpedos por bombas, para um segundo reide sobre Midway, conforme sugestão do tenente Tomonaga. Trabalha-se embaixo e a execução da contra ordem exige tempo. É preciso guardar os conveses livres, para que os grupos do primeiro ataque esperado de um momento para outro, possam pousar.

Quase uma hora se escoa. Os que voltam de Midway se fazem esperar. Naguno não está muito inquieto e, quando o observador do Tone volta a emitir comunicação às 8 h 09 min, ele se sente inteiramente seguro. O inimigo compõe-se de 5 cruzadores e 5 contratorpedeiros. Por conseguinte, nada de alarmante. É uma flotilha, não uma frota. Ver-se-á do que se trata, depois de neutralizar Midway.

O telegrafo óptico fala do Hiryu. O comunicado parte do contra almirante Yamon Yamaguchi, comandante da 2ª divisão dos porta aviões. Nele é visto o sucessor de Yamamoto e sua alta reputação permite-lhe dar conselhos a seu superior. Recomendo ataque imediato aos nivios inimigos. Yamaguchi oferece-se para ocupar-se disso. Ainda não mandou descer aos hangares seus bombardeiros. Mantidos em reserva. Enfileirados nos conveses do Hiryu e do Soryu, 42 Vals esperam apenas um sinal.

Naguno consulta Genda que saiu do leito febril, para estar presente às decisões do combate. Genda olha o céu. Os aviões regressando do bombardeio de Midway, começam a aparecer, alguns sem gasolina, outros lançando fumaça pelas perfurações recebidas. Os caças, que repeliram os ataques contra os porta aviões, pedem para descer, por se terem esgotado a gasolina e a munição. Minha Opinião diz Genda, é de que devemos recuperar e reabastecer nossos aparelhos, em primeiro lugar. Atacaremos em seguida com toda as nossas forças.

Alguns segundos mais tarde, trazem ao almirante uma nova mensagem do hidroavião do Tone: Ao que parece o inimigo está acompanhado por um porta aviões. Naguno morde os lábios. Se soubesse, não seria contra Midway que teria atirado sua flecha. Não será com a metade de seus aparelhos regressando de reide, e a outra metade sob os conveses, que abordará essa nova peripécia.

Mas o almirante Naguno ainda não sabe de tudo. Não é apenas um porta aviões americano que está diante dele, são três: o Enterprice, o Hornet e o Yorktown. Há 15 dias atrás, estavam no Pacífico sul. Hornet e o Enterprice chegaram tarde demais para participar da batalha do mar de coral. O yorktown receba seu grave ferimento. Nimitz chamara a Pearl Harbor os dois válidos e o ferido, com vontade bem definida de opor-se à conquista de Midway e entrar em combate.

Quatro de junho encontra os navios norte americanos em rota para oeste a 25 nós. No porta aviões o desjejum é servido à 1 h 30 min. A longa espera que se segue enerva os aviadores, que clamam pelo momento de levantar vôo. Fora de alcance da vista e do ouvido a batalha de Midway começa pelo bombardeio do atol. Nas operations rooms, sucedem-se informações emitidas pelos infatigáveis catalinas. Deve-se admitir que os japoneses por sua vez estão a par da presença das Task Forces, pois se ouve a intervalos um insólido barulho de motor que não se consegue localizar. Do Yorktown, Fletcher lançou uma cortina de 11 observadores, o que o apressa, Spruance para o ataque, mas Spruance, oficial da marinha clássica, preferiria chegar mais perto do inimigo. Este ainda está a mais de 200 milhas de distância, com o roteiro e a velocidade atual reduzir-se-ia esta distância à metade, retardando até 9 horas o ataque.

Por felicidade, Spruance conservou o estado maior de Halsey, e principalmente seu chefe, um grande atrevido de olho de águia, o capitão de mar e guerra Miles Browning. Este combate o ponto de vista do almirante. Os aviões são feitos para os riscos. O essencial é surpreender o inimigo no momento em que está vulnerável o que acontecerá incessantemente, em virtude da obrigação em que se acha de recolher os aparelhos que voltam do bombardeio de Midway.

Existe a oportunidade fugaz de apanhar os flag tops japoneses, com seus conveses cobertos de aviões não disponíveis. Mas é preciso atacar sem demora. Spruance arrisca para aproveitar a oportunidade. Às 6 h 56 min, o Enterprice e o Hornet mudam o roteiro. Vêm de S.S.E. para colocar-se contra o vento. Às 7 h 02 min, os primeiros aviões decolam. Às 8 h 06 min, a decolagem está acabada. Em esquadrilhas, como pequenos grupos de pontos dissolvendo-se no horizonte marinho, 119 aparelhos desaparecem rumo a sudoeste. Estão assim divididos: 10 caças Wilcats, 14 torpedeiros Devastador e 35 bombardeiros de mergulho Dauntless, do Enterprice, 10, 15 e 35 do Hornet.

Os homens que acabaram de alçar vôo são jovens norte americanos. Não tem a emotividade poética de seus adversários de olhas amendoados. Subiram no cockpit mascando chicletes e proferindo algumas sólidas obscenidades. Preferem voltar, a encontrar morte de heróis. Um momento mais tarde, às 8 h 38 min, o Yorktown comaça, por sua vez, a soltar a carga, 10 caças, 12 torpedeiros, 17 bombardeiros voam ao assalto dos porta aviões japoneses.É preciso encontra-los. O Pacífico é grande. Os navios andam depressa, os aviões ainda não tem radar. Conduzindo o grupo de bombardeiros de mergulho do Hornet, o comandante só vê um deserto líquido no lugar onde julgava encontra o inimigo.Para combater a esquadra americana, Naguno mudou de rota e afastou de Midway, encaminhando para o norte. A esquadrilh ruma em direção oblíqua, para o sul. Seus 35 bombardeiros veticais e os 10 caças que acompanharam por engano, ou seja, um quarto da força americana, estão perdidos para a batalha. Os 10 caças estão simplesmente perdidos.

Os três grupos de torpedeiros se orientam para noroeste. O ardente Waldron é o primeiro a descobrir o inimigo. O 2º tenente George H. Gay, que ataca atrá dele, ouve seus gritos. " Atenção a esses caças Bum ". O 2º tenente Gay também ouve o grito de seu próprio metralhador, bem como o barulho de um obus explodindo a seu lado, depois o barulho de seu aparelho, batendo contra a água. Lançou seu torpedo, saltou sobre o porta aviões que atacava e milagrosamente, flutua numa água que o agitar das hélices torna furiosa. Um barco pneumático dança a seu lado, mas Gay se abstém de enchê-lo, a fin de não chamar a atenção dos Zeros. Cobre a cabeça com seu salva vidas de borracha e finge-se de morto, como se faz na marinha, enquanto os japoneses desfilam à sua volta, com uma rapidez de raio. Um Catalina o recolherá no dia seguinte. O que o 2º tenente Gay ainda não sabe é que ele é o único sobrevivente dos 30 homens que se atiraram sobre o Kaga e o Akagi. Tendo sido os protagonistas do torpedeamento aéreo, os japoneses o temem mais do que a qualquer outra forma de combate naval. É por isso que sua D.C.A. se encontra contra os adversários que voam ao nível da água. A esquadrilha de Waldron atraiu sobre si mais de 50 Zeros, que não lhe deram uma única oportunidade.

E o massacre dos aviões torpedeiros continua. Conduzida pelo comandante Lindsey a esquadrilha do Enterprice ataca o Kaga, em volta do qual, dirá um sobrevivente, os Zeros são tão numerosos quanto môscas ao redor de uma lata de lixo. Dos 14 ,10 são abatidos. A esquadrilha do Yorktown, cujo comandante é Massey, ataca o Soryu, de 13 aviões, 12 são destruídos. Ao todo, somente 7 torpedos são lançados e nenhum atinge o alvo. Dos 41 torpedeiros empenhados na ação, apenas 5 escapam aos caças japoneses e retornam aos porta aviões.

São 10 h e 20 min. Os navios japoneses sempre sem um único arranhão. A vitória se anuncia resplendente. Pelo número de aparelhos que atacaram, Naguno sabe agora que tem diante de si, não um , mas pelo menos dois porta aviões dos Estados Unidos.

A situação dos americanos é trágica. Consumiram suas forças em três ataques infrutíferos e vão conhecer agora a resposta do adversário contra o qual falharam.

A bordo do Soryu e do Hiryu, bombardeiros e torpedeiros estão prontos, há muito tempo e já estariam sobre o inimigo se Naguno não quisesse que todos os ataques fossem simultâneos. A bordo do Akagi e do Kaga, as operações que tem por objetivo encher os reservatórios e carregar os projéteis não foram interrompidas durante o massacre dos Devastotors. Um depois do outro, os aparelhos são içados do hangar ao convés superior. Os motores se aquecem. As tripulações estão a bordo. Às 10 h 20 min, Naguno ordena a partida logo que tudo estiver pronto e às 10 h 24 min, a ordem de execução soa nos alto falantes do Akagi. Um Zero abre caminho, acelera a marcha e decola, ao mesmo tempo, um grito terrível ecoa... Bombardeiros!

Ninguém os viu chegar. Saem do sol, como aves rapina saciadas, os Zeros não recuperaram a altitude, depois da carnificina que acabaram de praticar. Nada consegue deter os Dauntless, dardejantes como flechas. Um terrível choque abala o Akagi, da chaminé à quilha. Homens são projetados em todos os sentidos. Um buraco escancarado, uma caverna, cavou-se ao lado do ascensor central. As placas de aço do convés erguem-se verticalmente, como escamas. Os aviões enfileirados, quase se tocando, incendeiam-se mutuamente. A gasolina queima em chamas pálidas. As munições explodem. Outras explosões, surdas e poderosas, abalam as quilhas. Homens correm, gritam, como o capital de fragata Mitsuo Gushida, quando, refazendo-se por um instante, verifica que espessas colunas de fumo se elevam também do Soryu e do Kaga. Assim, os três porta aviões foram atingidos ao mesmo tempo. Cinco minutos bastaram para transformar num desastre uma vitória que os japoneses julgavam assegurada.

O comandante do bombardeiros de mergulho do Enterprice McClusky, não encontrou o inimigo no lugar previsto. Orienta-se para N.N.E., voa 50 milhas sobre o oceano vazio e já encara a necessidade da volta, quando percebe, embaixo dele, o fio de prata de um sulco de navio. Um contratorpedeiro dirige-se com toda a velocidade para noroeste. O comandante supõe que o barco se junta ao corpo da batalha. Segue e surge na sua frente os três grandes porta aviões. Ordena à sua esquadrilha que se divida entre dois mais próximos, que são o Akagi e o Kaga. Alguns minutos mais tarde as bombas estripam as orgulhosas unidades.

Os golpes de sorte chegam aos pares. No momento em que McClusky via um sulco, Maxwell comandante da mesma categoria no Yorktown, via fumaça. A fumaça o conduz ao campo de batalha e o primeiro navio que descobre é um enorme porta aviões por acaso o Soryu.

No Akagi, o almirante Naguno é presa de estupor. Seu chefe de estado maior o pressiona para que transfira seu pavilhão para o cruzador Nagara. O capitão tenente Nishibayashi, toma-o pela mão e fala-lhe que todos os corredores estão em chamas. A única maneira de escapar é descer por uma corda até atingir o convés das âncoras.

São 10 h 46 min, os três porta aviões foram atingidos há 25 min. Todos estão perdidos. O Kaga e o Soryu desaparecerão à tarde, quase ao mesmo tempo. O Akagi flutua a noite inteira, e não receberá o golpe de misericórdia a não ser ao raiar da aurora, conforme ordem de Yamamoto.

Ainda resta um porta aviões, o Hiryu e na falta de Naguno, o almirante mais agressivo da marinha japonesa, Tamon Yamaguchi. Basta uma nova reviravolta para Midway se constitua numa vitória para o sol nascente.

Yamaguchi não esperou uma ordem superior para lançar os aviões do Hiryu contra o único porta aviões inimigo cuja localização conhece. Escoltados por 12 caças, 18 bombardeiros voam em direção do Yorktown, encontram-no e incendeiam-no com o Akagi. Mas a vingança está a caminho. Tudo que Fletcher e Spruance possuiem ainda de bombardeiros, 24 no total, alça vôo do Enterprice e do Hornet, à 5 horas da tarde o Hiryu morre heroicamente. Yamaguchi, comandante da divisão do Hiryu e Soryu assume a responsabilidade da perda dos porta aviões ficando a bordo.




A batalha esta terminada. Resta a Yamamoto a maior parte de sua frota. Nenhum de seus navios jamais viu um navio inimigo. Nenhum deu só um tiro de canhão. As gigantescas peças do yamato permaneceram mudas. Num conselho de guerra noturno, opiniões ardentes pleitearam o prosseguimento das operações.

Às 2 horas do dia 5 de junho, parte do Yamato a ordem fatal; meia volta geral. A sorte se encarniça. Mudando de rota, os cruzadores pesados Mikuma e Mogami colidem. Os dois outros cruzadores da divisão os abandonam e eles se arrastam solitários. O submarino norte americano Tambor guia até eles as Fortalezas Voadoras de Midway. O Mikuma, massacrado, soçobra ao fim de algumas horas. O Mogami, por verdadeiro milagre, consegue voltar à base japonesa.

O único balanço positivo da saída majestosa é a ocupação das duas ilhas quase inabitadas e completamente sem defesa, de Attu e de Kiska. Os japoneses aprisionaram 39 nativos e um casal de missionários. O Almirante Hosogaya não ousou nem mesmo ocupar Adak, que julgou demasiado próximo das bases americanas.

A 4 de junho, de manhã, o Japão era invencível. A 4 de junho à tarde, o Império do Sol nascente está vencido. Jamais a longa e movimentada história das guerras no mundo registrou um reviravolta mais brutal e mais total.