domingo, 28 de fevereiro de 2010

LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 18


AS BRUXAS ES ESTAVAM SOLTAS
O dia 16 de novembro de 1944 foi cheio de imprevistos e acontecimentos tristes; como costumamos dizer na gíria aeronáutica, as bruxas estavam soltas.
Por volta das 10h mais ou menos caiu nas proximidades da base de operações em Tarquínia, m Ventura da RAF e morreram seis ingleses. Logo após a noticia da queda do Ventura, examinava os pneus do meu avião quanto a possível corte, que acontecia durante o pouso na pista de chapa de aço. Examinei uma roda e passei para a outra. O avião estava sendo municiado para a missão seguinte. Enormes fitas de balas ponto 50 eram alojadas nos cofres de munição. Completando o trabalho de municiamento, o ajudante de armamento baixa a tampa da metralhadora, sem verificar se a bateria estava desligada. Não sei como isso aconteceu. A verdade é que a metralhadora disparou. As balas passavam sobre a minha cabeça. Numa simples rajada, em questões de segundos, foi embora uma fita inteira. Nesse momento, recebi uma violenta pancada na região da fossa ilíaca esquerda. Não sei se a pancada foi provocada por um estojo da ponto 50, ou por um dos elos de aço que ligam as balas, uma a outra.
Estava com três calças, uma por cima da outra, sendo que a ultima era de couro, forrada com lã de carneiro, por dentro. Botei as duas mãos no ventre e rolei no chão gemendo de dor e disse para os meus companheiros: estou ferido! O 1 Sargento Gondim, chefe da linha, colocou-me num jeep e disparou para a enfermaria. A carreira foi tão grande que a capota do jeep voou; agora só estava com medo de uma virada. Na enfermaria, examinado pelo médico, no local da pancada formou-se um grande hematoma roxo. O médico mandou que fosse repousar na barraca.
No mesmo dia, isto é, 16 de novembro de 1944, precisamente às 16h10 outro desastre de grandes proporções. Um C-47 americano decolou com a finalidade de filmar uma esquadrilha do 1 Grupo de Caça durante o vôo. Devidamente autorizados embarcaram no referido avião dois oficiais brasileiros que desejavam tirar fotografias particulares.
O procedimento para a filmagem fora combinado em terra. Entretanto, o piloto do Douglas numa manobra infeliz bateu na asa direita do avião do Tenente Perdigão.
O baque foi forte e os dois aviões se despedaçaram, a caminho da destruição e da morte. O Tenente Perdigão, graças a sua perícia de grande piloto, lançou-se de pára-quedas e conseguiu salvar-se. Mas os correspondentes e fotógrafos e os Tenentes Rooland Rlttmeister e Waldir Pequeno Mello, todos ocupantes que viajavam no Douglas, morreram carbonizados.
À tardinha, dirijo-me para o rancho e antes sinto necessidade de urinar e no ato da micção, verifico a saída de alguns raios de sangue e a perna esquerda um pouco dormente.
Procurando o médico para contar o ocorrido. Este determina que eu seja baixado ao hospital e uma ambulância é providenciada para meu transporte.
Chegando ao 154 Station Hospital em Civitavecchia, a primeira pessoa que avisto foi o Tenente Perdigão. Este pergunta: sargento, soube de alguma coisa do Douglas? Quando eu ia dizer-lhe que morreram todos, um médico brasileiro por detrás dele, fez um sinal com o dedo para mim, e compreendi que era para não dizer nada, pois ele havia sido operado da perna.
O hospital estava cheio. É horrível um hospital de guerra. Fiquei na enfermaria de oficiais por falta de lugar. Lá encontrei o Tenente-Aviador Cox, internado com um problema na espinha, um suboficial que fora atacado de pneumonia e o sargento Fernando Azevedo que havia sido operado da perna.
O tratamento era igual para todos; o que distinguia o oficial do graduado era a cor do pijama e um chambre de uma fazenda grossa, que colocávamos por cima do pijama devido ao frio e para nos agasalharmos melhor.
Fui submetido a um tratamento na base da sulfonamida. Nossas enfermeiras nos tratavam como a um irmão. Todos os cuidados nos eram dispensados. Anjos de ternura. Já restabelecido, fui examinado pelo Dr. Luthero Vargas e este notando que eu tinha uma varicocele esquerda muito adiantada, convenceu-me a operar. Disse-me: aproveite já que está aqui e operemos logo esta varicocele. Dr. Luthero era grande cirurgião. Não vacilei, dada a confiança que ele nos inspirava.
Operou-me por um processo que era muito moderno; técnica de varicocele transbdominal de Ivenessevich.
Durante o tempo que estive baixado, tive um tratamento excepcional da parte dos médicos e de nossas enfermeiras.
Aquela meia dúzia de enfermeiras, já experimentadas na profissão, que tiveram a coragem de abandonar a comodidade e a segurança dos lares para enfrentar conosco os imprevistos da guerra, assim se tornando credoras de respeito e admiração.
A mulher tem realmente desempenhado com bravura ao lado dos homens, papel relevante nas lutas armadas que se têm desenrolado no mundo. Uma Joana D´Arc, uma Anita Garibaldi, uma Joana Angélica, aparecem comumente em todas as guerras.
Na conflagração européia, as mulheres mais uma vez confirmaram seu desinteresse de viver, desde que não seja com bravura, honra e altivez, enfrentando toda sorte do horrores causados pela hecatombe que devastou a Europa.
Exemplos de bravura, de abnegação, amor à pátria e ao próximo, foram demonstrados pelas nossas enfermeiras, de modo geral, as do Exército e, em particular, as do 1 Grupo de Caça, às quais rendo meu preito de gratidão e reconhecimento.






domingo, 21 de fevereiro de 2010

PEARL HARBOR

PEARL HARBOR

A elaboração da surpresa da Pearl Harbor começa em janeiro 1941. Yamamoto encarrega o chefe de seu estado maior, almirante Tahijiro Ohnishi, que tem como adjunto o capitão de fragata Minoro Genda, um brilhante oficial da tática aeronaval de 36 anos. O banco de experiência escolhido é a baia de Cagoxima, na ilha de Quiuxu, bem ao sul do arquipélago, por causa da semelhança que tem com a enseada de Pearl Harbor. Um excelente serviço de espionagem, baseado no consulado geral da Japão em Honolulu, fornece todas as informações necessárias. As repetições dos ensaios do ataque se multiplicam.

Em compensação, nas altas esferas do comando, o plano de Yamamoto só encontra objeções. O Estado maior Geral o rejeita. O comandante dos portas aviões Almirante Chuichui Naguno, não acredita no sucesso. O próprio Almirante Ohnishi se desencoraja e aconselha ao seu amigo Yamamoto renunciar à idéia. Porém, Yamamoto é o mais obstinado dos japoneses. Põe sua demissão na balança, não conservará o comando das esquadras combinadas se o Estado Maior Geral mantiver sua oposição ao ataque de surpresa a Pearl Harbor.

No dia 5 de novembro, a obstinação de Yamamoto triunfa. O Estado Maior Geral cede. Salvo um acordo diplomático de última hora, a operação de Pearl harbor se realizará em 8 de dezembro, data japonesa, correspondente ao dia 7 das ilhas Havaianas. Seria preferível o dia 10, devido às condições da lua, mas o dia 7 é domingo e os americanos têm costumes de trazer os navios voltarem ao porto aos sábados.

Os navios designados para participar do ataque começam a deixar a base de Kure, em, 10 de novembro alcançando a baía deserta de Hitokappu. Lá já é inverno, a neve cobre o arquipélago e a tripulação não tem idéia por que razão de tantos navios se reúnem em um lugar tão desolado. Os pilotos dos aviões sabem.

Yamamoto em reunião no Akagi, revelou a finalidade e a data da operação para a qual tão assiduamente. A opinião geral foi de que se tratava de um reide suicida. Tendo nas mãos o maior segredo da guerra, convencidos de estarem marcados para morrer, várias centenas de rapazes se dispersaram por todo o Japão. Nada Transpirou.

Os portas aviões navegam em duas alas. Precedidos por dois velhos couraçados, Hiei e Kirishima, dois contratorpedeiros cobrem o flanco esquerdo, três submarinos protegem o flanco direito e dois cruzadores pesados, o Tone e Chikuma, tomaram posição de cada lado da formação. Outros sete contratorpedeiros formam um biombo à frente. Oito petroleiros os seguem, tendo a necessidade de reduzir o consumo de combustível, que impõem uma marcha lenta.

Dos seis portas aviões, dois o Akagi e o Kaga, são navios de linha adaptadas, o Hiryu e Soryu, só deslocam 17.000 ton., e os dois mais modernos, o Shokaku e Zuikaku deslocam 26.000 ton. Em conjunto, transportam 423 aviões, caças, bombardeiros de vôo horizontal, bombardeiros de mergulho, torpedeiros. É a força aérea mais importante que já se aventurou sobre o mar.


A inclusão de aviões torpedeiros levantou grandes dificuldades. Um torpedo lançado por avião imerge até uns vinte metros de profundidade, depois sobe para atingir o alvo. A baía de Pearl Harbor sé tem 12 metros de profundidade, e Genda deve ter-se irritado com o problema. Ele com sua mente brilhante, no último momento, adaptou um dispositivo especial que impedia de que os torpedos explodissem no fundo. Se o mecanismo funcionar, a surpresa será total. Os americanos estão longe de suspeitar que seja possível torpedear suas embarcações no pequeno braço de mar situado entre a ilha Ford e o arsenal de Pearl harbor.


A força aeronaval, quis acrescentar a arma submarinos, 27 deles de grande autonomia precederam os portas aviões para tomar posição ao redor do Havaí. Cinco deles lançaram submarinos de bolso, de 15 m de comprimento, armados com dois torpedos reduzidos e tripulados por dois homens. Esperavam que eles se infiltrassem na baía, apesar das redes que guarneciam o estreito. Os jovens oficiais disputavam a honra de tripular essas máquinas suicidas.


Comandada pelo Almirante Naguno, a força de ataque deixou o seu encontro inicial no dia 26 de novembro. Em Washington, as negociações prosseguem, e os norte-americanos consideram bom sinal os japoneses não terem rompido, quando Cordell Hull lhes entregou as condições inaceitáveis de Roosevelt. Seria a retirada da China e da Indochina, ruptura do Pacto Tripartido etc.



As instruções do Almirante Naguno prevêem que lhe será dada uma confirmação da ordem de ataque durante a travessia. Ele está igualmente convencido de que fera meia volta se for descoberto antes do dia D menos 2. Descoberto entre D – 2 e D, ele próprio decidirá se deve atacar. Está inteiramente pessimista e passa suas noites andando em sua cabine do Akagi.

No dia 1 de dezembro, a confirmação esperada, Niitaha Yama Nobora ( Escalem o Monte Niitaha), é captado pela frota. Isto significa que o governo de Tóquio tomou sua decisão, e a guerra começa sem remissão. Significa também que toda a máquina de guerra nipônica esta sendo acionada. As tropas que devem tomar Hong-Kong se aproximam da cidade. As que devem invadir a Malásia e as Filipinas começam a embarcar. Só a expedição do Almirante Naguno não leva soldados. Suas ordens eram em vista ocupar as ilhas do Havaí, expulsar completamente os Estados Unidos do Pacífico central, mas a operação foi considerada como muito pesada. Esta incursão tão ousada, tão agressiva em sua forma, é na realidade uma operação defensiva, um risco calculado para ganhar tempo.

No dia 2 de dezembro, Naguno revela à tripulação o que somente os pilotos sabiam, a finalidade da viagem, sendo o entusiasmos da tripulação de maior alegria.

A rotina no mar retorna aos navios. Os pilotos matam o tempo com partida de Go ou redigem, sob forma de testamento, mensagens eloqüentes para a posteridade. As informações da espionagem continuam a chegar de Honolulu. Genda e o comandante das vagas de ataque, o capitão de mar e guerra Mitsuo Fushida, tomam conhecimentos de duas novidades, uma boa e a outra ruim. A boa é que as autoridades do Havaí ainda não tinham colocado no devido lugar os balões de barragem e as redes contra torpedos que receberam do continente. A má notícia é que os três portas aviões da esquadra norte americana do Pacífico, o Enterprise, Lexington e o Saratonga, já não estão em Pearl Harbor. Fushida é tão afetado pela informação da ausência dos alvos principais que pergunta a si mesmo se não deve abandonar o ataque. Mas Naguno, almirante experiente, considera que os oitos couraçados, constituem a coluna vertebral da força naval que ele foi encarregado de destruir. O resto viria depois.

As sete horas e dezesseis minutos do dia D, hora do Havaí, a frota começa o lançamento da primeira vaga. O Céu ainda está escuro, os porta aviões jogam nos imensos vagalhões, entretanto a operação se realiza numa velocidade que nunca tinham conseguido nos exercícios. Todos os aviadores haviam tomado banho e mudado a roupa de baixo, muitos enrolaram por cima da fita de prender cabelo, o hashikami (faixa de samurai), e fizeram suas devoções diante dos altares xintoístas transportados para o convés de vôo. No mastro do Akagi, estava hasteado a bandeira do navio que o Almirante Togo arvorara, no dia 21 de maio de 1905, ordenando à jovem frota japonesa que avançasse contra os couraçados do Czar, no estreito de Tsushima.

O arquipélago havaiano tem duas cadeias de montanhas, que rodeiam uma planície verdejante que se estendem até o mar, onde se encontra Honolulu e Waikiki, sua praia coral. Pearl Harbor apresenta algumas analogias com Brest. Uma passagem de água de 350 metros de largura dá acesso a uma baía, no centro da qual se encontra a ilha Ford. A profundidade da água é apenas suficiente para os grandes navios. Nenhuma preocupação especial foi tomada para camuflar as instalações de Pearl Harbor.

O ataque contra Pearl Harbor, mesmo à distancias marítimas que a rodeiam, não é considerado impossível. No dia 24 de janeiro de 1941, o secretário da marinha, Frank Knox, levantava à hipótese que é muitíssimo possível que as hostilidades com o Japão tenham início em um ataque de surpresa à frota ou à base de Pearl Harbor. Os perigos por ordem de probabilidade são os seguintes: bombardeiro aéreo, ataques por torpedos aéreos, sabotagem, bombardeiro pela artilharia naval. Dois meses mais tarde, o comandante da base naval, o Almirante Bellinger e o comandante das forças aéreas, General Martin, reúnem para redigir um memorando por antecipação o acontecimento de 7 de dezembro: Ação precedente a declaração de guerra, ataque aéreo pela manhã, combinado com uma ação submarina, provável utilização de seis porta aviões, etc.

Neste domingo existem razões especiais para a vigilância. Os seis pontos de cordell Hull foi, para o orgulho japonês, uma blefada. Roosevelt e sues chefes do Estado Maior tinha em mão, telegrama altamente confidencial do Ministro de negócios Estrangeiros, Togo, para Nomura e Kurusu. Entretanto, os Estados Unidos nos enviaram estas propostas humilhantes. As negociações terminaram.

Os nortes americanos, por seu lado, não esperam por essa interpetração para saber sua nota dia 26 de novembro constitui um convite à guerra. Na tarde desse mesmo dia, o almirante Stark, chefe do Estado Maior da Marinha, envia ao almirante Husband Kimmel, comandante da frota no Pacífico em Pearl Harbor, instruções que começam assim: Este despacho é para ser considerado com uma declaração de Guerra. O chefe do Estado Maior do Exército, George C. Marchall, envia advertência análoga ao Tenente General Walter C. Short comandante das forças terrestres: é possível ação de hostilidade a qualquer momento. Kimmel e Short são convidados a colocar em pratica o desdobramento defensivo. Eles deveriam fazer proceder os reconhecimentos e ordenar todas as medidas de segurança.

Do dia 26 de novembro, a força japonesa tinha seis dias de navegação separando do objetivo. As autoridades tinham o tempo necessário para a defesa do arquipélago. Pearl Barbor dispõem de 9 couraçados, 3 porta aviões, 12 cruzadores pesados, 9 cruzadores leves, 67 contratorpedeiros, 27 submarinos, 2 divisões de infantaria, 43.000 homens, 1.017 peças de Defesa Contra Aviação, 227 aviões, dos quais 152 caças, considerando a base razoavelmente bem equipada.

Nada mudara na rotina da base. Se os três porta aviões do Pacífico não estão em Pearl Harbor, é somente porque o Enterprise desembarca aviões em Wake, o Lexington em Midway e o Saratoga esta em reparos em San Diego. Continua o serviço do tempo de paz, com certa restrição, existem 10.000 japoneses no arquipélago e esta em alerta contra sabotagem, e a marinha deve por a pique sem aviso prévio, qualquer submarino desconhecido nas águas de Pearl Harbor. O radar onde muitos oficiais não acreditam, só funciona de 4 as 7 da manhã.

Na véspera do ataque o almirante Kimmel não tem pressentimento algum, embora o FBI lhe tenha informado que o cônsul geral do Japão está queimando seus papeis e que foi interceptada uma conversação telefônica suspeita entre Tóquio e um jornal japonês de Honolulu. Kimmel tem um encontro no dia seguinte com o General Short, mas é para uma partida de golfe.

As horas passam. A cidade, a base e a frota dormem. O mar esta calmo e as 3h 42 m, o tenente da reserva Mc Cloy, do caça minas Condor nota um leve sulco no mar e identifica um periscópio. Chama o chefe da patrulha, o contratorpedeiro Ward, submarino em mergulho. O Capitão tenente naval Outerbridge manda tocar aos postos de combate, mas o sonar do Ward não conseguiu registrar nenhum eco. Convencido de que o oficial do Condor se enganara, Outerbridge manda seus homens dormir.

As 6 h 30 m amanhecem. Um PBY veio da ilha de Ford para a patrulha da aurora. O Ward aproxima-se do estreito, para entrar na baía. Puxando uma lancha de mercadorias, o rebocador Antares também se aproxima. Foi o primeiro a perceber um pequeno submarino ao nível da água. O PBY o vê quase ao mesmo tempo e lança duas bombas de fumaça para localizá-lo. Outerbridge, lança-se, com canhões e granadas, sobre o submersível que afunda.

Cinqüenta quilômetros ao norte, na ponta extrema de Oahu, terminam a vigília do radar. Os marinheiros de 2ª classe Lockard e Elliott só tem de fechar o posto até a noite. Mas Elliott é um recruta zeloso, e como o caminhão que vai levá-lo para tomar café da manhã ainda não chegou, ele não desliga o aparelho. Aparece pontos brilhantes na tela do radar.

São 7 h 20 m. Já espantadíssimo, os dois recrutas decidem telefonar para a base. Informa de numerosos aviões a 132 milhas. O Oficial de guarda é o tenente Tyler, que responde para os recrutas, esqueça isto.

Exatamente neste momento as nuvens se desfazem e Mitsuo Fushida vê à sua frente as montanhas de Oahu.

Sua força compreende de 143 aparelhos, onde 43 são caças Zeke (zero), que devem quebrar qualquer reação eventual do inimigo e castigar os aeródromos, 51 são bombardeiros de mergulho Vals, que devem atacar a ilha Ford, o Campo Hickam e o Campo Wheeler, 40 Kate, transformados em aviões torpedeiros, que devem atacar os navios de 1ª linha. Os outros também são Kate, bombardeiros de vôo horizontal que visariam os mesmos objetivos em auxílio as bombas perfurantes. Fushida recomendou às tripulações que não perdessem um só projétil e se deslocassem tanto quanto necessário para ajustar a mira. Tóquio calculou que o êxito da operação não será caro se forem perdidos dois porta aviões e 50 dos aviões.

No sentido inverso dos ponteiros do relógio, os invasores dão a volta por cima de Oahu. Pearl Harbor está lá, calma e serena à luz pura da manhã. Os porta aviões estão ausentes, mas os sete couraçados estam nos lugares previstos e o oitavo encontra-se no dique seco. Nenhum disparo da artilharia manchou ainda o céu.

Fushida lança o sinal convencionado para indicar o êxito da surpresa: Tora, Tora, Tora. Por uma sorte inaudita, o fraco sinal é captado na baía de Hiroxima, no couraçado Nagato, onde encontra-se o Yamamoto que imunda de alegria.

Sobre a primeira encosta do velho vulcão Makalapa um outro comandante observa os aviões dando voltas por cima de seus navios. O infortunado Almirante Kimmel estava vestido para a sua partida de golfe. Seu adjunto lhe telefona para informar a destruição de um submarino de bolso. Ainda esta esperando seu motorista quando violentas explosões o jogam contra colunas de sua casa. Um imenso gêiser sobe do Oklahoma, que forma um par com o Maryland. Outras explosões ressoam, colunas de fumaça se elevam, só assim é soado o alarme. Ele é somente uma testemunha imptente do desastre que arruína sua carreira. Um estilhaço amortecido toca-lhe o peito, e ele dirá a frase, por que não penetrou?

Grupo por grupo, missão cumprida, os atacantes se retiram. Tendo jogado suas bombas, Fushida espera a chegada da segunda vaga. 171 aviões conduzidos pelo capitão de fragata Shimazaki. Chegam sobre o pico Kahuku as 8 h 54 m. Sua missão é mais difícil. Um inferno substituiu a placidez do cristal. Imensas nuvens de fumaça avermelhada, pontilhada de explosões, encobrem os alvos. A D.C.A. recobrou-se parcialmente e faz barreiras mortíferas. A segunda vaga, que não tem aviões torpedeiros, completa a destruição da primeira. Depois, desaparece rumo ao norte. Antes de segui-la Fushida sobrevoa a ilha pela última vez. Todos os aeródromos são verdadeiras fogueiras. O California aderna e afunda, com grande toldo branco estendido sobre a proa e seus sinais multicores flutuando nas adriças. Ao lado do Maryland danificado, o Oklahoma, completamente virado, mostra sua quilha semelhante ao corpo de um gigantesco cetáceo. O Tennessee e o West Virginia parecem enredados um no outro. A Arizona, cujos paios explodiram, é uma massa queimando furiosamente. No dique seco , onde dois contratorpedeiros foram despedaçados, o Pennsylvania tem um incêndio a bordo. Só um couraçado, o último da fila, o Nevada, tentara preparar-se para navegar, mas os Vals o incendiaram e o afundaram no estreito. Os cruzadores, os contratorpedeiros e os navios auxiliares que afundam, queimam ou explodem são muito numerosos para serem identificados. A própria baía queima, ao arderem as porções de óleo que se derramam na água.



Quando Fushida reencontra o Akagi, a maior parte dos aviões já havia chegado ao convés de pouso. As perdas são incrivelmente pequenas, 30 aviões. As tripulações estão cheias para voltas. Fushida tenta convencer Naguno que falta destruir as instalações de terra, e que ainda é possível encontar os porta aviões que faltam. Mas Naguno está tão aliviado com o sucesso em que não acreditava que deu ordem de tomar o rumo do Japão.

O Estado Maior norte americano pensava que os japoneses não tinham condições de empreender mais de uma operação aeronaval de cada vez. Eles fizeram sete ao mesmo tempo, Pearl Harbor, Filipinas e Malásia.

Mas o trovão acordou o gigante adormecido. Bastardos Amarelos é o grito enfurecido dos Estados Unidos da America. Roosevelt marca o inimigo com ferro em brasa. Sem dúvida ainda seriam necessários meses para que os Estados Unidos entrassem na guerra. As bombas de Pearl Harbor precipitam-na com uma unanimidade, uma instantaneidade, um furor e um ânimo torrencial. No Senado, a decisão de entrar na guerra é aprovada. Na Câmara, a única que não consegue convencer-se é a solteirona de Montana, Jeannette Rankin, que votou contra a guerra em 1917 e reincide em 1941.

A 7 de dezembro, Churchill janta em Chequers, com o embaixador americano e o enviado de Roosevelt Averell Harriman. O assunto é a batalha que começou a 18 de novembro na Cirenaica. Num canto, o rádio difunde em surdina um boletim de informações. Os três homens não prestam atenção, de repente um nome insólito em meio de campos de batalhas familiares: Havaí...

Churchill pergunta; os japoneses bombardearam os navios americanos no Havaí? Winant não tinha ouvido nada. Harriman pensava ter ouvido Frota Americana.

Como um louco, Churchill chama Roosevelt ao telefone. A voz transatlântica do Presidente lhe confirma a agressão, sua selvageria, sua perfídia. Churchill fica radiante: Estamos agora, diz Roosevelt, no mesmo barco.

No Japão, o entusiamos provocado pelo sucesso de Pearl Harbor é formidável. O retorno dos vencedores provoca delírio patriótico. O Imperador dá um golpe de Estado contra a etiqueta, exigindo receber Fushida, embora este não passe de um plebeu. Yamamoto é o único sóbrio entre oitenta milhões de homens bêbados. Observa que faltam os porta aviões, e que os couraçados destruídos eram barcos velhos, que o poder americano é ainda colossal, e que se aproximam combates desesperados.

A coalizão adversária só reúne 10 nações, mas o mapa da guerra lhe é favorável, pois ela domina quase totalmente a Europa continental, as partes mais ricas da União Soviética e as províncias mais populosas da China, ainda vai tornar-se mais favorável com rápidas conquistas japonesas no Pacífico. Entretanto, é claro que a balança de forças pende, daí por diante, em detrimento do triângulo, Berlim, Roma e Tóquio. A superioridade inicial, nascida da agressão, vai diminuir sem cessar, a superioridade profunda resultante da preponderância de recursos, do poderio industrial, do domínio dos mares, bai aumentar contínuamente.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 17


OPERAÇÕES

Acampados na base avançada de Tarquínia, estava o Grupo pronto para entrar em combate.
Nosso efetivo era de 452 homens e seis mulheres, nossas enfermeiras. De uma relação de todos que pertenceram ao Grupo de caça constam: 54 Oficiais Aviadores, 5 Oficiais Intendentes, 9 Oficiais Médicos, 1 Oficial Capelão, 3 oficiais Especialistas em Aviões, 2 Oficiais Especialistas em Armamento, 1 oficial Especialista em Comunicações, 9 Suboficiais, 168 Sargentos das diferentes especialidades, 81 cabos, 103 soldados de 1ª
e 2ª classes, 3 soldados e 13 Taifeiros. O Grupo de Caça teve um efetivo flutuante.
Dos Oficiais Aviadores, alguns desempenhavam funções especificamente administrativas.
Vale salientar que quando o 1º Grupo de Caça entrou na luta contava com 39 pilotos operacionais, em seis meses de operações, teve 16 pilotos abatidos pelo inimigo, sendo 5 mortos, 5 aprisionados, 3 foragidos com auxílio de partigiane, 3 que conseguiram agüentar-se em vôo para caírem já em território aliado.
É verdade que recebemos 6 novos elementos durante a campanha, mas perdemos prematuramente outro tanto por doença ou morte em desastre. A média chegou assim a quase 3 pilotos abatidos por mês, atingindo no conjunto 41 por cento do efetivo.

Os brasileiros foram incorporados à 12ª Força Aérea Americana, principalmente componente da Força Aérea Tática Aliada de invasão no Mediterrâneo.
A maior nota e fora do comum da 12ª Força Aérea consistia na sua variedade de material aéreo.
Desde o início da campanha no Norte da África, foi a maior força aérea independente do mundo e assim ficou, até que seus bombardeiros pesados foram separados e agrupados naquilo que passou a ser a 15ª Força Aérea Americana.
Unidades da 12ª Força Aérea operando na Inglaterra, Norte da África, Pantelleria, Lampedusa, Sicília, Córsega, Sardenha, Yugoslávia, Itália, França, Índia e Burma.
Era o principal componente da Força Aérea Tática aliada do Mediterrâneo e composta de americanos, Ingleses, Brasileiros, Canadenses, Sul-Africanos, Poloneses e Franceses, sendo comandada por alguns dos mais famosos táticos de guerra aérea da História Militar, General Carl A. Spaatz, Tenente- General James H. Doolittle, Tenente-General John K. Cannon e Major-general Benjamim W. Chidlaw.
Os chefes da aviação americana que tiveram sob suas ordens o Grupo de Caça Brasileiro foram respectivamente os seguintes, por escalões ascendentes: Tenentes-Coronéis Ariel W. Nielsen e John C. Robertson que, em ocasiões diferentes, comandaram o 350º Regimento de Caça, o Brigadeiro-General Robert S. Israel, que comandou a 62ª Brigada de caça, o Major-General Benjamim W. Chidlaw, que comandou o XXII Comando Aéreo Tático, e o Tenente-General John K. Cannom, que comandou a Força Aérea Tática do Mediterrâneo, e o General Ira Eaker, que comandou toda a Força Aérea Aliada no Mediterrâneo.
Para efeito de emprego, o 1º Grupo de Caça incorporou-se ao 350º Regimento de Caça dos Estados Unidos da America do Norte e dentro da Organização da Força Aérea do Mediterrâneo, passou a figurar no seguinte quadro.
As diferentes missões atribuídas aos elementos componentes da Força Aérea Aliada no Mediterrâneo, compunham das seguintes partes principais.


a) A Força Aérea Estratégica (15ª Força Aérea), com grande independência de ação, e com as operações coordenadas com outra Força Estratégica estacionada na Inglaterra.

b) A Força Aérea Tática cuja missão era o apoio aos Exércitos em operações na Itália e cujo raio de ação não se estendia além das fronteiras norte daquele país, compunha-se de três partes principais.



- O XXII Comando Aéreo Tático, cuja missão era fornecer apoio aéreo ao 5º Exército Norte Americano.

- A Força de Bombardeio Tático, que atuava em proveito do Grupo de Exércitos.
c) A Força Aérea Costeira, que se encarregava da campanha anti-submarina, dos

ataques à navegação marítima do inimigo e da Defesa Aérea.
Quando o 1º Grupo de Caça chegou a Itália, o 5º e o 8º Exército aliados integrantes do 15º Corpo de Exército, encontravam-se em plena batalha nos Apeninos, em luta contra as forças alemães instaladas na afamada linha gótica coma qual pretendiam barrar o seu acesso ao Vale do Pó. As Forças Aéreas desfrutavam de invejável condição, podendo prestar-lhe valioso apoio naquela difícil conjuntura.
A superioridade aérea de há muito já havia obtido, encontrando-se os céus da Itália praticamente livres da aiação inimiga, embora não estivesse de uma artilhria eficiente e controlada pelo radar, tornando-se uma arma tão perigosa para os pilotos, como qualquer força aérea.
Em 31 de outubro de 1944, o chefe de operação e os quatros comandantes de esquadrilhas, capitães Lafayette, Fortunato, Joel e Lagares, decolaram com alas de esquadrilhas americanas, em missões de bombardeio picado contra o inimigo. Nos dias subseqüentes, outros pilotos efetuaram surtidas em condições semelhantes, integrando esquadrilhas ianques.
Dir-se-ia que entrávamos com o pé esquerdo na campanha. Sim, logo de saída perdemos o Tenente Cordeiro, abatido em 6 de novembro de 1944 pela antiaérea inimiga quando integrava uma esquadrilha americana. No dia seguinte veio a falecer em acidente o Tenente Sapucaia, quando realizava um vôo de treinamento nas proximidades da base.
Finalmente o Grupo passou a voar sozinho, isto aconteceu no dia 12 de novembro de 1944. O Major Pamplona disse que iam todos, as quatro esquadrilhas, fazer um reconhecimento aéreo armado, sob o Comando do Tenente Coronel Nero Moura, nosso Comandante.
Não levaram bombas, iam fazer reconhecimento da região e ver se não havia caças inimigos. Mas levavam balas, mais de dois mil e quinhentos tiros por avião, e as metralhadoras estavam estalando de boas. Os avestruzes também.
A emoção dominava oito aviões em linha de combate. O Coronel Nero Moura, comandava. Estavam próximos aos Montes Apeninos. Passamos a terra de ninguém, um ao lado do outro, com distância de trezentos metros, em linha transversal duas esquadrilhas na frente, duas atrás. Oito a oito, os avestruzes voavam. Súbito, uma voz gritou pelo rádio: Flak – artilharia antiaérea em ação. E começamos a pular. Os alemães não brincavam em serviço. O famoso canhão 88m, o mais versátil do mundo, cantava sua canção de fumaça negra. Era a guerra. Granadas explodiam ao nosso lado, fumaçando num diâmetro de cinco metros, e nós pulávamos. Eram o horror e a morte. Os avestruzes pulavam. O 88mm comia solto, fumaçando. Canhão antitanque, antitropa, antiaéreo, poderoso era nosso paraninfo.
Recebíamos nosso batismo de fogo, pelo sal das granadas. Era a guerra. Até doze mil metros de altura ele nos alcançaria. Atirava sob controle do radar, enviando-nos granadas de quatro, oito e doze explosões. Mas nós pulávamos, éramos de circo, avestruzes. A espionagem havia funcionado. Os Alemães sabiam que era o Grupo de caça Brasileiro que estava estreando e tentava nos intimidar. Inútil. Estávamos dispostos a Sentar a Pua. E pulávamos, dançávamos no ar, fugindo das balas, dando um show de picardia.
Assim, o 1º Grupo de caça combate com força independente, arcando, portanto, com todas as responsabilidades da manobra, que exigem uma administração própria, assistência e eficiente serviço de reparação de material avariado. E tudo isto é dada à nossa unidade de guerra pelo valor e o preparo técnico de seus homens, que chegaram mesmo a surpreender nossos aliados americanos.
Para que se efetivasse essa eficiência, havia um perfeito sentimento de compreensão e cooperação entre todos os homens do Grupo.
Todos procuram esquecer os sofrimentos e as agruras particulares, firmando e dirigindo suas energias para a luta, cônscios de seu papel de brasileiros e de seu dever de soldado que haveria de colocar o nome de nossa Pátria nas páginas da História daquela guerra de libertação.
Naquele dia, o trabalho na pista foi dobrado para todos os sargentos especialistas em aviões, armamento e comunicações. Todos os aviões foram cuidadosamente examinados, quanto a um possível dano causado pela antiaérea inimiga algumas panes foram sanadas, feito o reabastecimento de óleo e gasolina para a missão de madrugada do dia seguinte.
Agora já começava a escurecer, rumávamos para o acampamento e após um pequeno asseio, que consistia em remover do rosto e das mãos um pouco do óleo, jantávamos e íamos para as barracas, doze sargentos em cada. A minha abrigava os seguintes companheiros: Assunção, Konrath, João Rodrigues, Augusto Gonçalves, Cantisani, Primi, Senra, Cançado, Pelágio, Medeiros, Marinho e Paiva, o autor deste trabalho.
Minha cama de campanha ficava do lado da de João Rodrigues e tinha a inconveniência de ficar perto da porta e todas as vezes qua alguém entrava ou saia nós recebíamos uma lufada de vento gelado. Lá fora a neve que começava a cair se misturava com a lama. Uns tratavam de colocar sua correspondência em dia. Como era bom e confortador receber cartas de casa.
João Rodrigues ( Joãozinho), enrolado num cobertor, sentado na sua cama, com uma pequena maleta de madeira sobre as pernas servindo de mesa, escrevia quase diariamente para sua noiva Maria. Muitas vezes eu lhe perguntei, como arranjava assunto, uma vez que não podíamos contar nada sobre nossa vida de campanha.
As noites no acampamento em Tarquínia eram tristes, o sono demorava a chegar, apesar do trabalho exaustivo, durante o dia na pista. Dos possantes alto-falantes instalados pelos arredores dos acampamentos, chegavam aos nossos ouvidos lindas canções, vindas de longe, da América do Norte. Era um programa de transmissão de músicas para os expedicionários. Mas, na verdade, só serviam para aumentar nossas tristezas e nossas saudades.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 16




SENTA A PUA
Senta a Pua foi o grito de guerra do pessoal do 1º Grupo de Caça da Força Aérea Brasileira, que nos céus da Europa, num dia chuvoso e nublado por ocasião da primeira missão dos nossos bravos pilotos, reboou por todo o território inimigo, passando a ser o terror dos tedescos.
Senta a Pua foi mais que um simples grito, ele veio dar eco às nossas tristezas, aos nossos anseios. Ele mostrou o valor da nossa aviação militar, notabilizando o Brasil no seio dos aliados e firmando conceito de alta popularidade entre as nações.
Senta a Pua significa lançar-se sobre ele (Inimigo) com decisão, coragem, sangue frio, golpe de vista e vontade de aniquilá-lo. Quem vai sentar a Pua, não tergiversa. Arremete de ferro em brasa e verruma o bruto (Austregésilo de Athayde).
A insígnia Senta a Pua nasceu em 1944, quando ainda estávamos em treinamento nos Estados Unidos, prestes a seguir para o campo de batalha. É costume na aviação norte-americana as unidades possuírem seu distintivo próprio, geralmente com fundo humorístico. Ora, sendo nós componentes de um Grupo brasileiro, porém organizado de acordo com os moldes americanos, não queríamos ser exceção nessa particularidade. Qual seria, então, nosso Problema?
As controvérsias foram demasiadas uns optavam pelo papagaio caracterizado no conhecido Zé Carioca de Walt Disney, queriam uns que fosse representados na singular de Jeca Tatu, de Monteiro Lobato e outros, desejavam ainda, um diabólico macaquinho.
Foi o capitão Fortunato que veio resolver o problema. Jovial e inteligente, dotado de espírito brincalhão, aliado a vasto conhecimento de desenho, logo surgiu com célebre Avestruz Voadora. E pro que foi escolhida a avestruz e não outro animal ou ave genuinamente brasileira?
Essa ave é largamente conhecida com possuidora de estômago descomunal, daí a expressão estômago de avestruz, aplicada àqueles que em demasia e de tudo. Acostumados a cozinha brasileira, ao entrarmos em contato com a comida americana foi um verdadeiro pandemônio, e apesar de seu alto valor nutritivo e bem preparado, nem de longe se assemelhava ao nosso gosto. Doce às refeições. Tudo ali era açucarado inclusive, as garotas, verdadeiros bombons. Carne, ovos, presunto, feijão, tudo era diabólico. Como poderíamos, acostumados com nossos salgadinhos, à cozinha baiana, adaptarmo-nos tão rapidamente àquela doçura? Era preciso, naturalmente, ser uma avestruz e daí surgir nossa amiguinha.
Foi-lhe entregue um velho bacamarte, símbolo do poderio das nossas metralhadoras. Um grande escudo azul, com a insígnia do Cruzeiro do Sul, e colocado na asa esquerda e tal quais os velhos espartanos, representava nossa defesa. Colocada em cima de uma nuvem branca, simbolizando a paz, pura e permanente e sobre um céu vermelho, caracterizando a guerra sangrenta e cruel.
Um quépi da FAB completou sua militarização. Assim, durante 7 meses da campanha, o Grupo executou centenas de surtidas sobre o território inimigo levando a insígnia Senta a Pua na carenagem de todos os seus aviões.
Em terra, era um prazer ostentá-lo no peito e isso constituía orgulho geral.
Eis aí, uma breve explicação de nossa companheira, surgida quando mais necessitávamos luz de bondade que nos guiou, moralmente, através de meses de incertezas e angústias.
Pensar no Grupo de Caça é lembrar o Senta a Pua. E hoje, depois de tanto tempo, recordando-me de uma frase quando de regresso ao Brasil e se referindo à nossa amiguinha, declarava o Sargento José Adolfo Teixeira. Seu espírito viverá eternamente em nossos corações.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 15



TARQUÍNIA – ITÁLIA

No dia da chegada em Tarquínia, manhã de 7 de outubro de 1944, ninguém ficou sem fazer nada, houve trabalho para todos, sem exceção. No dia seguinte, embora domigo, o trabalho continuou em ritmo acelerado e exaustivo. Armar barracas e ajeitar o acampamento era a ordem do dia.

Várias ferramentas foram usadas, enxadas, pás, picaretas, serrotes e até machados.

Enquanto uns esticavam as lonas das barracas, outros abriam pequenas valas ao redor das mesmas, com a finalidade de facilitar o escoamento das águas das chuvas, pois, o terreno era baixo e alagadiço. Os mais especializados se encarregavam da parte elétrica, puxando fios por todos os lugares e levantando postes, a energia era fornecida por um grupo de geradores portáteis.

Dia 9 de outubro ainda continuava a faina, agora, desmanchando caixotes e arrumando o material. Nesse dia ficamos sem almoço para dar maior progresso aos serviços, fazendo os últimos retoques no acampamento.

Finalmente, tudo ficou pronto para funcionar, parecendo até uma pequena base. Ao centro o rancho, a cantina, posto médico e órgãos administrativos, circundados pelos alojamentos do pessoal, na periferia dos quais se instalaram banheiros e privadas. A bóia era servida ao ar livre, em longas filas na quais a utilização de marmitas de campanha irmanava oficiais e praças, e assim continuou sendo por muito tempo, até que se ultimasse a instalação das compridas barracas-refeitórios e fosse equipada com louça modesta o racho de oficiais.

Tínhamos como vizinhos o 345º Esquadrão Americano. Um temporal caiu na segunda noite da estada em Tarquínia, fazendo desabar metade do acampamento, provocando um grande corre-corre.

Na seção de mecânica, embora mal instalada, logo na primeira semana iniciou-se o recebimento e preparo dos trinta aviões P-47, com os quais os pilotos começaram a operar.


O major Pamplona, chefe das operação, já havia feito a denominação técnica das esquadrilhas e numeração correspondentes aos aviões. Assim as esquadrilhas, ficaram sendo A,B,C,D. e os aviões numerados, A-1, A-2... B-1, B-2 ...e assim por diante. Cada piloto tinha o seu próprio. Os Mecânicos foram distribuídos por esquadrilhas e por aviões. Não sei qual foi o critério adotado, mas fiquei muito contente ao ser designado para mecânico do avião do comandante do Grupo, tenente coronel Aviador Nero Moura, avião número 1.

Para meus ajudantes foram escalados os cabos Aderson de Oliveira Lima e Pedro Rodrigues. Aderson, praça antiga, oriundo da Marinha, baixinho, franzino, muito engraçado e espirituoso, tinha a habilidade de imitar as pessoas, fazendo - nos rir. Durante a campanha, repartimos alegrias e tristezas. Haverei sempre de recordar os meus auxiliares.

Estávamos tecnicamente subordinados aos oficiais especialistas, da seção de mecânica, Tenente Jayme Flores, armamentos e comunicações, os tenentes Jorge Prado e Lucidio Chavez.

Na primeira semana houve muito trabalho na pista para o pessoal da mecânica, cada avião seria vistoriado meticulosamente, parte por parte, antes de se proceder o cheque do motor, o qual deveria dar 2.700 RPM e 52 polegadas de mercúrio de compressão, para ser considerado OK.Isto é pronto para partida.

O pessoal de comunicações procedia ao cheque do rádio, fazendo chamadas com torre de controle para teste, regulando o VHF e fazendo as trocas dos cristais, etc.. Rotina semelhante era seguida pelos de armamento, retirando as estocagens das metralhadoras e instalando-as no avião, municiando-as e preparando os cabides para receberam as bombas.


Dois fatos de grande importância marcaram o dia 14 de outubro de 1944, o hasteamento da bandeira e os primeiros vôos de treinamento. Na história dos povos coube-nos assim a honra de sermos a primeira Força Aérea Sul Americana que cruzou oceanos e veio alçar suas asas sobre os campos de batalha europeus.

Antes de entrar em ação no velho mundo, o 1º Grupo de Caça cumpriu o sagrado dever de plantar em território inimigo a Bandeira do Brasil.

"Camaradas! Para frente, para a ação, com o pensamento fixo na imagem da Pátria, cuja honra e integridade juramos manter incólumes. Cumpre-nos tudo enfrentar com fortaleza de ânimo, a fim de manter intacto esse tesouro jamais violado, a honra do soldado brasileiro! E nós o faremos, custe o que custar!"

O boletim, que soube tão bem traduzir nossos sentimentos, foi lido perante a tropa formada naquela manhã alegre, quando os ventos do Mediterrâneo desfraldaram pela primeira vez o Pavilhão auriverde de um país longínquo, cujo povo, amante da paz, sabe também lutar pela liberdade e reagir à agressão.

E, por mais de um ano a fio, aquela bandeira, que foi à guerra conosco, simbolizou galhardamente, ao apenas a Pátria, mas também o carinho feminino das mães, esposas e noivas deixadas para trás, cujo espírito, drapejando alegre nos ventos do heroísmo, baixando a chorar sobre o ataúde dos mortos.

Na mesma tarde, pilotos brasileiros alçaram as asas em treinamento de navegação pela Toscana e adjacências, travando conhecimento com a nova base de operação.

O Tenente Lima Mendes, com grande entusiasmo, contando com a cooperação do nosso sargentiante José Adolfo Teixeira e auxiliares pelo sargento Cláudio de Andrade Dias e sua equipe de pintura, encarregou-se de estampar na carenagens da seção dos acessórios do motor dos P-47 a insígnia " Senta à Pua ", famoso avestruz desenhado pelo capitão Fortunato Câmara de Oliveira.






LEMBRANÇAS E RELATOS DE UM VETERANO DO 1º GRUPO DE CAÇA - Parte 14


EMBARQUE PARA A EUROPA – ROTEIRO DO DIA A DIA
Nossa permanência no campo de embarque, em Patrick Henry, durou precisamente oito dias. Chegamos numa segunda feira, dia 11 e saímos dia 19 de setembro de 1944.
Era um campo de estacionamento provisório destinado a receber tropas que iam de viagem. Centenas ou milhares de homens passavam por ali e ficavam isolados do resto do mundo exterior alguns dias antes de embarcarem com finalidade de despistarem a espionagem.
Desde o dia da nossa chegada estávamos certos de que íamos seguir para frente de batalha na Europa. Mas não sabíamos em que parte, Itália ou França. Por motivos de ordem militar não se divulgava o destino com a mesma rapidez com que se faz a movimentação das tropas. Acreditamos que somente o Comandante do Grupo sabia o nome do porto de nosso desembarque. Durante o tempo que ali ficamos nos alojamos em barracas do tipo padronizadas, já conhecidas noutras bases.
Passamos aqueles dias dedicados ao completo lazer, nenhuma atividade fora exercida. O Campo se assemelhava a uma grande cidade, com serviço de iluminação, grandes lavanderias, armazéns, restaurantes, cinemas, capelas, teatros, bibliotecas, igrejas e um eficiente serviço de transporte interno. Avenidas paralelas, designadas pelas primeiras letras do alfabeto e ruas transversais numeradas, uma enorme quantidade de pinheiros dava aspecto de uma grande floresta, era uma região muito bonita.
Dois dias após nossa chegada, nos foi oferecido um baile. As virginianas eram muito agradáveis. O baile esteve animado, terminando às 23 horas.

Dia 18 de setembro, foi feita a última inspeção de saúde. A bagagem foi inspecionada e etiquetada. A ligação do campo com o porto era feita por via - férrea.
Em 19 de setembro, completamos dois meses e quinze dias nos Estados Unidos, data em que deixamos Patrick Henry, tomando um trem às 16 horas na estação do próprio campo. Marchamos até o trem em passo ordinário atrás duma tropa americana tendo à frente uma banda marcial que rompeu o deslocamento com um lindo dobrado cujo nome não me é possível rememorar. Durante o embarque, encontrava-se na estação uma orquestra de baile em cima de um caminhão, Tocaram a Aquarela do Brasil e alguns foxs.
O moral da tropa era elevadíssimo, todos alegres e sorridentes acompanhavam o ritmo da música. O Trem deu partida às 17h45 de Patrick Henry, chegando a Newsport às 18h30. Nos encaminhamos para uma prancha de embarque, acompanhando um esquadrão de bombardeio pesado americano , enfermeiras da Cruz Vermelha, uma unidade de representação teatral e um batalhão de artilharia de soldados negros.
Uma vez a bordo, ficamos a vontade e alguns se dispuseram a dormir um pouco. Ás 7h do dia 20 de setembro, o U.S.T. Colombie levantou ferros e começou a se movimentar, saindo lentamente sob uma forte cerração, levando a bordo sua preciosa carga de 3.500 homens, aproximadamente. O Colombie era um navio de transporte francês arrendado pelo exército americano. Os nossos alojamentos ficavam nos porões do navio. Os oficiais, mais felizes, compartilhavam um grande alojamento, 120 camas, superpostas 4 a 4. Ao largo da costa aguardavam os navios de guerra que formariam nossa escolha.

Finalmente avistamos todo o comboio, treze navios, onze contratorpedeiros de escolta, além o mar alto, povoado de submarinos. Quanto à alimentação, consistia de apenas duas por dia, porque o espaço a bordo não permitia servir uma a mais tropa, conforme é costume em terra, devido também a grande quantidade de homens embarcados.
Andávamos pelo tombadilho do navio e tínhamos poucos comentários a fazer. Alguns estavam sob uma emoção natural. Apenas ansiedade e saudade. De um lado era a viagem, a luta que nos aguardava, do outro a lembrança da família, as recordações de casa e de todas as jornadas anteriores. Tínhamos constantemente exercícios de salvamento, sendo obrigatório o uso do salva vida, devendo dormir uniformizado.
Dia 23 de setembro, dia de sol e mar calmo, missa a bordo celebrada pelo capelão da tropa. Aviões Martin com base em Bermuda patrulhavam nosso comboio.
Dia 27 de setembro, completamos sete meses que deixamos o Brasil em missão do 1º Grupo de Caça. Omar estava calmo de puro azul com pequenas nuvens brancas. Estávamos nas imediações dos Açores. O navio fez exercício de tiro real. Aumentava a seqüência dos exercícios por estarmos em regiões mais perigosas.
Dia 1 de outubro, num domingo, uma linda manhã de sol, avistamos o estreito de Gibraltar e às 10h do mesmo dia a famosa fortaleza de formato de uma pirâmide de uns 100 metros de altura, aproximadamente.
Às 11h ainda do mesmo dia entramos no Mar Mediterrâneo. Nessa ocasião recebemos uma carta do Presidente dos Estados Unidos da América, que fora distribuída a todos os americanos, e também aos brasileiros. Dizia a referida carta:
" A Casa Branca
Washington
Aos membros das Forças Expedicionárias do Exército dos Estados Unidos. Você é um soldado do Exército dos Estados Unidos.
Vem embarcando para lugares distantes onde esta guerra está sendo deflagrada.
Do resultado irá depender a liberdade para a vida de todos: a liberdade para a vida daqueles que você ama, dos seus compatriotas e do seu povo.
Nunca os inimigos da liberdade foram mais tiranos, mais arrogantes, mais brutais.
Este povo é temente a Deus, altivo, corajoso, povo que em toda a sua história tem posto sua liberdade sob proteção de Deus, antes de quaisquer outros propósitos.
Nós que ficamos em casa, temos nossos deveres a cumprir, deveres com você em muitos lugares. Você será protegido por toda a força e poderio desta Nação.
A vitória que você alcançar será uma vitória de todo o povo, comum a todos nós.
Você leva consigo a esperança, a confiança, o reconhecimento e as preces de sua família, de seus compatriotas e de seu Presidente. "
Franklin D. Roosevelt
Aquela carta proporcionou-me uma forte emoção. Imediatamente transportou-me para minha terra e minha gente. Estava certo de que o nosso povo também acompanhava os nossos passos com igual sentimento. Sabia que minha querida mãe, aquela hora estava a chorar e a pedir a Deus sua proteção para mim.
Dia 3 de outubro, o comboio mudou completamente de rumo, seguindo em direção a Nápoles, nosso destino. Às 23h passamos pela costa da Sicília, perto da cidade de Palermo, daí entramos no Mar Tirreno.
Dia 4 de outubro, às 7h avistamos terras do continente italiano e às 10h entramos na baía de Nápoles. À direita, na estrada da baía, está o Vesúvio com sua cratera fumegando um pouco.
Ver Nápoles e morrer era uma expressão corrente para glorificar a pitoresca belaza da grande cidade italiana, mas nos presentes dias, nada poderia ser visto naquela cidade, pelo estado em que se encontrava seu porto, terrivelmente bombardeado. E além do mais "Vedere Napoli dopo Morire", o dito popular soa sem graça aos ouvidos de quem vai para a guerra.
Dia 5 de Outubro, amanheceu chovendo muito, mar revolto. Nosso navio levantou ferros às 15h30, deixando a babía, navegando e não sabíamos para onde, porém os boatos diziam que íamos para Livorno, a 28 quilômetros das linhas de combate. Íamos comboiados por um destróier inglês.
Dia 6 de outubro, avistamos Livorno às 14h40 e entramos no porto às 12h, entre dois quebra-mares com dezenas de navios destroçados dificultando a atracação.
Após o desembarque da tropa preta americana, deu-se o nosso, deixamos a embarcação, usando uma rede de desembarque no costado do navio e embarcando numa chata, que nos conduziu até à praia. Encontravam-se vários cinegrafistas documentando nosso desembarque. O porto e a cidade estavam completamente destruídos. Pouco restara daquela que um dia fora uma cidade moderna, muito conhecida como centro balneário e residencial e principal portão da região.
Embarcamos em caminhões, passamos pelas ruas, observamos apenas escombros e destruições.
Tivemos contato com um povo faminto e apavorado pelo terror criado pelos alemães. Às 19h do mesmo dia embarcamos num trem desconfortável, com bancos de madeira, parecendo mais um bonde, pois, tinha até estribo e balaústre. Viajamos toda à noite praticamente sem dormir, pelo frio, desconforto total e com a roupa completamente molhada em conseqüência da chuva por ocasião do desembarque.
Após 12h30 de viagem, chegamos ao nosso destino às 7h da manhã. Numa pequena estação de nome Oscita, nas imediações de Tarquínia, em cujo campo de aviação iria operar. Aquela região fora anteriormente uma base aérea italiana, mas intacta só se aproveitava a pista de pouso e decolagem, ao redor somente ruínas de hangares e instalações, resultantes dos últimos bombardeios aliados.
Uma área de um terreno plano foi posta à nossa disposição e ali levantamos nossos acampamento, que contou com a boa vontade e o espírito de criatividade de todos os componentes do Grupo.
Um pouco mais adiante, estavam estacionados ao aviões: dois Grupos americanos e um Wing britânicos, e o nossos P-47 cheirando a novos e pintados com as cores do Brasil.